Temos vindo a assistir ao progressivo investimento na otimização dos processos de trabalho por parte de organizações de saúde, procurando acrescentar mais valor aos serviços oferecidos e proporcionar uma maior qualidade aos pacientes. No entanto, para melhorarmos e alcançarmos estes objetivos, torna-se imprescindível ouvir e considerar a perspetiva do paciente, através da aplicação de práticas centradas nele.
A comunicação entre médicos e pacientes desempenha um papel indispensável, considerada por alguns autores como a pedra angular da prática de um profissional de saúde, pois sem ela a qualidade da prestação de cuidados de saúde e os seus resultados podem ser comprometidos. Uma comunicação eficaz entre médicos e pacientes proporciona benefícios significativos, incluindo recuperação física, bem-estar emocional, aumento da satisfação do paciente e redução de reclamações por negligência médica (Su et al., 2022). Fomentar esta forte conexão médico-paciente capacita ainda os pacientes a participar ativamente na definição dos seus tratamentos, promovendo a adesão à terapia.
Vários manuais e artigos sobre comunicação em saúde ou comunicação estratégica aplicada ao domínio da saúde privilegiam uma perspetiva normativa, reduzindo a realidade a modelos simples (e atrativos) que descontextualizam fenómenos. Contudo, a realidade (infelizmente) é mais complexa. É por isso fundamental compreender a dinâmica da comunicação em saúde a fim de explorar novas abordagens e direções de investigação.
Neste contexto, um estudo recente realizado pela investigadora Filipa Couto, em colaboração comigo, procurou investigar a comunicação médico-paciente, tendo em consideração o impacto das variáveis idade, género e o tipo de serviço de saúde (público versus privado). Compreender, pela perspetiva do paciente, como fatores demográficos e contextuais moldam a dinâmica comunicativa em ambientes de saúde permite-nos obter uma compreensão mais ampla dos resultados de saúde e apoiar intervenções e políticas direcionadas à melhoria das práticas comunicacionais nesse contexto.
De forma resumida, os resultados revelaram que médicos do sexo masculino, no serviço privado, estão mais dispostos a comunicar com o paciente e que quanto maior a sua idade, mais dispostos estão a comunicar com o paciente. Nos serviços de saúde pública o oposto é verdadeiro – médicas do sexo feminino são percebidas como mais disponíveis para comunicar com o paciente.
Ainda que exploratórios, estes dados alertam para a necessidade de uma abordagem mais holística na conceção e implementação de políticas e práticas de comunicação em saúde, não descurando a complexidade da relação médico-paciente e o impacto do ambiente de comunicação na satisfação dos pacientes e nos resultados em saúde.
Ana Margarida Barreto
Professora Universitária – FCSH-UNL; Investigadora do Instituto de Comunicação da NOVA (ICNOVA)