Conferência ANF: ULS de Coimbra prepara projeto-piloto de rastreio do cancro colorretal com as farmácias 466

A ULS de Coimbra vai avançar com um projeto-piloto de envolvimento das farmácias comunitárias no rastreio do cancro do cólon e reto. À margem da conferência ‘Rastreios e Prevenção: Inovar em Saúde Pública’, promovida pela Associação Nacional das Farmácias (ANF), o presidente do conselho de administração da ULS, Alexandre Lourenço, assinalou ao NETFARMA que “estamos a trabalhar com as nossas equipas e com a ANF para conseguir que este projeto arranque já no início de 2025”.

De acordo com a presidente da ANF, Ema Paulino, o projeto-piloto permitirá “testar todo o sistema relativamente às componentes tecnológica e de partilha, critérios de elegibilidade e registo de intervenções”, para daí “retirar ensinamentos” que, eventualmente, permitam o seu alargamento a todo o país.

Lançando o desafio de “encontrarmos modelos inovadores de colaboração”, Ema Paulino defende, por outro lado, que já é possível tirar conclusões sobre os benefícios do programa de rastreios oportunísticos da bactéria Helicobacter pilory (associada a 78% dos casos de cancro gástrico) que envolveu todas as farmácias da Ilha Terceira (Açores), para o reproduzir e disseminar “a nível nacional”. É isso que acontece, por exemplo, em França, cuja experiência foi apresentada por via telemática pelo farmacêutico Alain Delgutte, membro da direção da Ordre National des Pharmaciens.

Lembrando que o Livro Branco das Farmácias Portuguesas inclui duas áreas prioritárias sobre o diagnóstico precoce em áreas oncológicas e não oncológicas – a integração em rastreios nacionais e a prevenção e rastreio de hepatites virais e VIH – a presidente da ANF  afirma que “o envolvimento das farmácias comunitárias neste tipo de rastreios pode contribuir para o incremento do acesso às ações de rastreio existentes, quer pela proximidade, quer pela intervenção farmacêutica na sensibilização da população para a importância da deteção precoce e partilha de informação fidedigna”.

Os benefícios das intervenções realizadas pelos farmacêuticos, “por exemplo no âmbito da monitorização de redução de comportamentos de risco associados a infeções sexualmente transmissíveis, hepatites virais e VIH, têm vindo a ser demonstrados ao longo dos últimos anos com indicadores elevados de satisfação das pessoas neste tipo de intervenções”. É assim, da maior importância, “a disponibilização de um serviço de testagem rápida nas mesmas condições das demais estruturas de saúde e de vias formais de referenciação das pessoas, mediante a contratualização com o Serviço Nacional de Saúde”.

 

Farmácias “serão sempre um parceiro”

Com a extinção das cinco Administrações Regionais de Saúde (ARS), responsáveis pela realização dos rastreios nas respetivas regiões, e a reorganização do Serviço Nacional de Saúde em ULS, o Ministério da Saúde pretende “rever toda a forma de governação” destes programas, procurando “uma implementação vertical e harmonizada em todo o país” com o objetivo de “aumentar a cobertura nacional”, avançou a secretária de Estado da Saúde aos jornalistas. Neste domínio, “as farmácias, pela sua capilaridade e pela sua proximidade dos cidadãos, serão sempre um parceiro do Ministério da Saúde”, garantiu Ana Povo.

Crédito: Pedro Loureiro para ANF

Aliás, na conferência, a responsável ministerial sublinhou que as farmácias comunitárias “são um ativo estratégico para o nosso sistema de Saúde”. O seu envolvimento na prevenção primária, “como parceiros na campanha de vacinação sazonal do Serviço Nacional de Saúde”, é exemplo disso.  Contribuem para a “descentralização dos serviços de saúde, otimizando o uso de recursos e a priorização de outras intervenções ao nível dos cuidados de saúde primários”.

Garantindo, por outro lado, que “as doenças oncológicas e a sua prevenção” são uma prioridade para o Ministério da Saúde, Ana Povo assinalou que o envolvimento das farmácias comunitárias em programas de rastreio oncológicos é visto como “uma oportunidade adicional de parceria”, caso “possa resultar em ganhos de acesso e resultados em saúde para a população”.

As farmácias comunitárias “também podem contribuir significativamente para a promoção da literacia e de hábitos de vida saudáveis, para a prevenção de doenças crónicas e para a melhoria da adesão aos tratamentos”, acrescentou a governante, garantindo que, em breve, serão anunciadas “parcerias estratégicas” nestas áreas.