Conflitos e exaustão levam Ordem dos Médicos do Centro a criar meios de apoio
18 de Agosto de 2014
A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (OM) vai criar mecanismos de apoio e prevenção de situações de exaustão e conflitos, causadas pelas «mudanças no setor da saúde» e pela pressão a que os clínicos estão sujeitos.
As mudanças que se observam «no setor da saúde, como por exemplo as fusões de hospitais, têm criado uma grande pressão sobre os profissionais», disse à agência “Lusa” Carlos Cortes, presidente da secção da Ordem dos Médicos (OM), considerando que estas transformações podem levar a situações de «burnout (exaustão) e conflitos».
«A classe, que não sei se algum dia possa ter sido classificada de privilegiada, tem agora muitos profissionais a atravessarem dificuldades», frisou.
Os médicos «estão a atingir níveis de exaustão muito grandes e têm pouco tempo para executarem as suas tarefas específicas. É como se fosse uma fábrica de salsichas», criticou, recordando que os profissionais têm hoje «muitas outras tarefas que não têm que ver com a sua atividade clínica».
De acordo com Carlos Cortes, «os profissionais acabam por estar dedicados completamente a produzir», deixando também de «ter tempo para dialogar, conversar e debater questões».
Face a essas constatações, foi criado «um grupo de trabalho amplo, com um programa próprio de intervenção sobre [a síndrome do] burnout» e está também a ser desenvolvido um gabinete de mediação de conflitos por estes «terem disparado e a gravidade e consequências» dos mesmos serem mais significativas.
Por «a Ordem se ter confrontado com muitas situações de conflito», está a ser criado um gabinete de mediação que pretende «regular os conflitos e conseguir que estes não cheguem a situações extremas como hoje existem», afirmou Ana Paula Cordeiro, do Gabinete de Apoio ao Médico da secção regional da OM, acrescentando que os conflitos surgem «entre médicos, médicos e utentes, médicos e outros profissionais e médicos e a hierarquia».
«Caso se atue numa fase inicial será mais fácil ultrapassar os conflitos», salientou, explicando que este projeto, irá também envolver profissionais da área jurídica.
Em relação ao burnout, o Gabinete de Apoio ao Médico irá aplicar um questionário para todos os médicos e alunos de medicina do Centro para «se fazer o ponto de situação e identificar o que é necessário fazer para prevenir situações», disse à agência “Lusa” Ana Paula Cordeiro.
Esta síndrome, que traduz exaustão física e emocional, «condiciona e dificulta as atividades do dia-a-dia dos profissionais», havendo a perceção de que «há muitas situações, mas que os profissionais têm dificuldade em se exporem», contou.
Além destes dois projetos, a Secção Regional do Centro continua a desenvolver o Programa de Apoio Integrado ao Médico (PAIM), criado há cerca de dez anos, em que o objetivo «passa por sinalizar médicos com problemas» de saúde, de dependência ou socioeconómicos.
A iniciativa pretende apoiar os profissionais de saúde, que muitas vezes têm problemas «na relação com a sua própria doença. Por um lado fazem auto tratamento e por outro sentem-se reticentes em pedir ajuda», esclareceu.
No total, o PAIM recebeu oito casos em 2014, dois dos quais por dificuldades financeiras, tendo registado um total de 157 casos entre 2007 e 2013.
Segundo Ana Paula Cordeiro, poderá haver mais casos, contudo estas questões «são melindrosas», por o profissional ter de «dar a conhecer a sua fragilidade».