A necessidade de uma abordagem global e integrada na Saúde nunca foi tão clara como nos dias de hoje. A 9ª edição do Congresso Nacional de Estudantes de Farmácia, realizado nos dias 27, 28 e 29 de setembro, na School of Health em Science do Instituto Universitário Egas Moniz, reuniu estudantes e profissionais para a reflexão sobre a temática ‘Saúde Global: Uma Visão Além-Fronteiras’.
Durante os três dias do evento, procuramos dinamizar um Congresso que espelhasse a realidade das Ciências Farmacêuticas, através de sessões expositivas e práticas, proporcionando aos participantes uma oportunidade não apenas de aprendizagem, mas também de consolidação de conhecimentos fundamentais para a evolução da Profissão.
Em consonância com a visão do Setor, este ano, o Congresso Nacional de Estudantes de Farmácia (CNEF) centrou-se em dois eixos principais: a importância da cooperação entre os Estados-Membros da União Europeia para assegurar a saúde dos cidadãos europeus e a necessidade dos especialistas do medicamento em contribuir ativamente para o desenvolvimento de políticas públicas de saúde.
A crescente transição epidemiológica, marcada por um aumento expressivo de doenças crónicas coloca desafios adicionais aos Sistemas de Saúde, especialmente num contexto de envelhecimento populacional. Segundo o estudo ‘Health at a Glance’ de 2023 da OCDE, foi destacado que, em Portugal, o número de admissões nos serviços de urgência é bastante superior à média de admissões dos restantes países da OCDE. Esses dados evidenciam a prevalência de um modelo focado no tratamento da doença, em detrimento da promoção da saúde e prevenção. Adicionalmente, o State of Health in the EU Synthesis Report 2023, elaborado pela Directorate-General for Health and Food Safety (DG SANTE), reiterou a necessidade de um maior investimento, por parte da Comissão Europeia, em Saúde Pública, prevenção da doença e sistemas de saúde, sendo estes identificados como prioridades fundamentais a médio e longo prazo.
Outro ponto central foi a discussão sobre a atual escassez de profissionais de saúde em Portugal, que tem imposto uma sobrecarga ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). A realidade aponta para a necessidade urgente de reavaliar e expandir o papel dos Farmacêuticos no Sistema de Saúde, reconhecendo o seu potencial no apoio direto à comunidade e no alívio da pressão sobre o SNS.
De entre as estratégias referidas, destacou-se a importância do investimento na formação de mais jovens profissionais, de forma a reforçar a força de trabalho em Portugal. Aproveitar o facto de ser Farmacêutico ser uma profissão jovem poderá contribuir para a renovação do Setor, permitindo também a valorização e remodelação das diversas saídas profissionais.
Além disso, a formação contínua dos farmacêuticos foi amplamente defendida como essencial para o desenvolvimento da profissão. A especialização nas diversas áreas farmacêuticas é vista como um caminho promissor para o fortalecimento da carreira no SNS e para a criação de novos serviços farmacêuticos, que podem melhorar o acesso aos cuidados de saúde e otimizar a gestão dos recursos dentro do Serviço Nacional de Saúde.
Em mote de conclusão do Congresso Nacional de Estudantes de Farmácia, foi reforçada a mensagem-chave ‘A Saúde Global é local’. Esta frase encapsula a interligação dos Sistemas de Saúde num mundo cada vez mais global, reiterando a importância de uma abordagem integrada, tanto a nível internacional quanto nacional. Para garantir a equidade e sustentabilidade dos Sistemas de Saúde, o Farmacêutico deve adotar uma visão ampla e ter uma ação multifacetada, ampliando o seu papel na comunidade.
A consolidação das valências e competências dos Farmacêuticos são cruciais para enfrentar com sucesso os desafios de Saúde Pública, hoje e no futuro.
Maria Rita Fonseca
Presidente da Direção da Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia
