Conselho de ética quer que saúde mental seja prioridade política 431

Conselho de ética quer que saúde mental seja prioridade política

25-Fev-2014

O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida defende num parecer divulgado no site do organismo que a proteção da saúde mental seja assumida como prioridade política e social, com uma agenda sustentada para o setor e mais iniciativas de promoção de saúde, por exemplo, nos locais de trabalho e investigação.

Num memorando que acompanha o parecer, as relatoras do mesmo vão mais longe no retrato do país em matéria de proteção de saúde mental. Lucília Nunes e Maria de Sousa consideram que a crise financeira está «seguramente a ter impactos muito significativos na saúde mental dos portugueses», que acabam por poder não estar a ter o melhor acompanhamento por causa de «desigualdades gritantes no acesso a cuidados de saúde», mas também porque os doentes, perante restrições dos orçamentos familiares, poderão desvalorizar «aspetos mais imateriais da vida quotidiana e ter dificuldades adicionais em proteger os mais vulneráveis».

Contactado pelo “i”, o presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida considera que o cenário atual no país não é dramático mas poderia melhorar. Miguel Oliveira da Silva considera existir um «hiato» entre o que está regulamentado e os objetivos programáticos e a oferta à população, por exemplo nos cuidados primários, em que defende um reforço da resposta.

No memorando que acompanha o parecer, as relatoras consideram ainda que nos últimos anos tem havido preocupação de «melhorar a qualidade da assistência e do esclarecimento da situação em saúde mental no país», mas assinalam respostas insuficientes em várias áreas e uma cultura «perversa» que não promove a prevenção.

Para Lucília Nunes e Maria de Sousa, existem respostas limitadas à necessidades de grupos vulneráveis como crianças, grávidas, sem-abrigo, idosos, reclusos e inimputáveis, como menores em centros educativos. As autoras assinalam que algumas estratégias previstas no Plano Nacional de Saúde Mental «ou ainda não se realizaram ou ficaram aquém das expectativas e necessidades», defendendo a necessidade de um orçamento nacional para o setor para que sejam implementadas reformas.

No universo prisional, consideram ser necessário questionar as razões dos constrangimentos à execução dos planos terapêuticos e de reabilitação, previstos na lei.

Também nos centros educativos, as autoras citam um estudo junto de 217 jovens institucionalizados que verificou que 91,2% verificam critérios para pelo menos uma perturbação psiquiátrica, para defender mais apoios.

Outra área assinalada prende-se com o facto de o encerramento de hospitais psiquiátricos não ter sido precedido da criação de alternativas comunitárias, transição ainda em curso. «De certa forma, os resultados eram esperados: alguns doentes foram realojados com as suas famílias, outros em lares sem as necessárias condições ou em asilos psiquiátricos», criticam.