Convenção Nacional da Saúde: aposta na recuperação de dois anos de pandemia 570

É preciso acelerar a recuperação da atividade assistencial não Covid-19.«Não nos basta ir para níveis pré-pandemia», salientou o secretário de Estado Adjunto e da Saúde no encerramento da V edição da Convenção Nacional de Saúde, que decorreu ontem na Ordem dos Médicos e que visou identificar as prioridades para a legislatura 2022-2026.

De acordo com António Lacerda Sales registou-se um aumento de 40% de cirurgias nos primeiros dois meses do ano face ao período homólogo de 2021, uma subida da ordem dos 15,6% nas consultas hospitalares e um reforço de 38% das consultas presenciais nos cuidados de saúde primários.

O governante destacou igualmente o reforço dos rastreios oncológicos, um dos temas centrais de debate na Convenção, com numerosos alertas sobre o perigo de surgirem milhares de doentes oncológicos nos próximos anos que não foram sinalizados, diagnosticados e tratados atempadamente.

«A normalização da atividade, ou seja, voltar a fazer o que fazíamos antes e como fazíamos antes, não nos vai permitir recuperar os atrasos» e «obviamente, há intervenções que não são recuperáveis», apontou Ema Paulino.

A presidente da Associação Nacional das Farmácias defendeu, assim, a necessidade de «transformar a forma como operamos». As oportunidades situam-se, na sua opinião, ao nível da transformação digital. O problema é que «não existe partilha da informação em saúde». Esta «continua a estar centrada nos profissionais e nas instituições e não no cidadão».

Contudo, «perceber quais são os pontos de contacto ao longo da jornada de saúde da pessoa no pré-diagnóstico, no diagnóstico, no tratamento e na sua normalização, é essencial para se poder redesenhar e pensar os cuidados de saúde».

«É urgente recuperar a atividade assistencial para os níveis pré-pandemia, sem qualquer preconceito de ordem ideológica e recorrendo a todos os meios disponíveis», tinha defendido momentos antes Eurico Castro Alves, presidente da comissão organizadora da Convenção Nacional da Saúde.

Já para o presidente da Secção Regional da Ordem dos Médicos do Sul, Alexandre Valentim Lourenço, o facto de o país possuir atualmente um Governo de maioria absoluta «é um momento de oportunidade para se começar a trabalhar de forma sustentada na mudança de um sistema que urge».

Em foco esteve ainda o alerta do reitor da Universidade do Porto, que defende uma reformulação urgente do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), devido ao contexto da guerra na Europa. António Sousa Pereira avisou que terão de ser revistos os prazos e as regras dos concursos associados ao PRR e apontou que atualmente as empresas já têm dificuldades em projetar preços e fazer previsões a médio prazo.

«O PRR apareceu como uma boia de salvação que nos vai dar, na prática, a possibilidade de modernizar algumas infraestruturas e equipamentos mas, na realidade, são ações que deveriam ter ocorrido ininterruptamente ao longo dos últimos 14 anos». Para o reitor, um dos problemas do setor da saúde está relacionado com o fator humano e não tecnológico, daí a sua defesa da medicina preventiva e não curativa.

Também no campo da prevenção, o eurodeputado socialista Manuel Pizarro defendeu a criação de uma nova autoridade destinada à promoção da saúde, justificando que a Direção-Geral da Saúde não pode fazer tudo. Esta entidade seria financiada pelas receitas da taxa sobre as bebidas açucaradas.

Ainda no âmbito da Convenção Nacional da Saúde, Eurico Castro Alves anunciou que uma equipa de jovens médicos, economistas, juristas e matemáticos está a desenhar um sistema de avaliação de saúde «revolucionário» que avalia todos os parâmetros, como o acesso aos serviços de saúde, a qualidade, a segurança e o bem-estar social. O primeiro relatório será apresentado no próximo ano.