Convenção Nacional de Saúde cria programa de recuperação das listas de espera geradas pela Covid-19 611

Convenção Nacional da Saúde

No seguimento da preocupação manifestada por Associações de Doentes e profissionais de saúde sobre o impacto da pandemia de Covid-19, a Comissão Organizadora da Convenção Nacional da Saúde (CNS) reuniu e fez um apelo urgente ao Ministério da Saúde para que seja, imediatamente, planeado e lançado um programa excecional de recuperação das listas de espera geradas pela pandemia de coronavírus.

“A luta nacional contra a Covid-19 foi da maior importância para mitigar a pandemia, mas não se pode ignorar o impacto tremendo que esta situação gerou em toda a atividade assistencial”, pode ler-se no comunicado divulgado pela CNS.

O Ministério da Saúde já reconheceu, publicamente, que este ano e até maio, os hospitais do SNS fizeram menos 85.000 cirurgias e menos 902 mil consultas, das quais 371 mil eram primeiras consultas. No caso dos cuidados de saúde primários terão ficado por efetuar 3 milhões de consultas. Com a nova suspensão imposta na região de Lisboa e Vale do Tejo em junho estes números terão aumentado de forma significativa.

Acresce que, de acordo com as normas da Direção-Geral da Saúde (DGS), muitos dos exames de diagnóstico tiveram que ser adiados, com os médicos especialistas de diversas áreas a alertarem para os riscos para a saúde de milhões de cidadãos. As análises clínicas estiveram paradas a 80%, imagiologia a 95% e gastro e cardiologia quase a 100%. Terão ficado por realizar cerca de 20 milhões de atos.

De acordo com as Associações de Doentes terão ficado por diagnosticar cerca de 20 mil casos de diabetes em Portugal, nestes meses, assim como foram adiadas 51 mil cirurgias e canceladas 540 mil consultas, na área do cancro digestivo. Segundo informações recentes, em maio o número de cirurgias caiu 42% no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, 31% no IPO do Porto e 25% no IPO de Coimbra.

“O aumento das listas de espera, cirúrgica e de consultas (médicas, de psicologia e outras), e a não realização dos necessários exames de diagnóstico tornaram-se o problema número 1 da saúde em Portugal. As pessoas a necessitar de cuidados de saúde não podem ficar esquecidas nem é pensável para o sistema que se deixem agravar as condições de saúde”, defende a CNS, que acrescenta: “É absolutamente urgente definir e pôr em marcha um Programa Excecional de Recuperação das Listas de Espera geradas pela Covid-19.”

A CNS reitera, ainda, a urgência de outras decisões, na atual conjuntura de dificuldade do acompanhamento dos doentes não Covid-19, como: o desenvolvimento de Vias Verdes promovendo uma melhor articulação entre os cuidados de saúde primários e os cuidados hospitalares; a expansão da hospitalização domiciliária, da telemedicina e da medicina à distância na monitorização e seguimento de doentes crónicos; e garantia de proximidade na dispensa de medicamentos.

Num contexto em que a Covid-19 acentuou os sintomas das fragilidades do SNS, as Associações de Doentes que integram a CNS consideram, ainda, prioritário assegurar a comunicação entre o doente e o profissional de saúde por canais alternativos ao presencial (e-mail ou telefone direto), por forma a evitar a ida a urgências ou espaço de consulta hospitalar, garantindo a comunicação atempada de reações ao tratamento bem como estreitar a relação de confiança entre o cidadão e os profissionais de saúde; garantir o registo normalizado, interoperável e seguro de dados clínicos da gestão em saúde, incorporando Patient Report Outcome Measures (PROMs, permitindo a melhoria da eficiência do tempo de consulta e da relação médico-doente, uma maior humanização dos cuidados de saúde, a proteção da privacidade do indivíduo, ao mesmo tempo que contribui de forma segura para a investigação científica, histórica e estatística; promover a saúde mental do cidadão mais vulnerável, permitindo o acesso a cuidados dedicados de profissionais de saúde especializados, promovendo a diminuição do impacto na saúde dos indivíduos com origem no isolamento forçado que vivemos nos tempos da pandemia, na crise económica e social que se avizinha, e da ansiedade gerada pela possibilidade de uma segunda vaga da pandemia provocada pelo Covid-19.

No final, a CNS refere que está a preparar um evento sobre a monitorização da atividade assistencial para setembro.