6.000 entrevistas conduzidas pelo instituto Elma Research para a Angelini Pharma em seis países europeus apontam para um forte impacto do confinamento na saúde mental. As conclusões-chave mostram um maior impacto em Espanha, Grã-Bretanha e Itália, onde a incidência da Covid-19 foi mais elevada; recurso a ajuda profissional e pesquisa de informação limitada (apenas uma em quatro); boa consciência do risco dos distúrbios psicológicos (três em cada quatro pessoas reconhecem que poderiam estar sujeitas a este tipo de perturbação); o principal impacto dos distúrbios psicológicos está relacionado com a qualidade de vida, particularmente a dos casais; três em cada quatro cidadãos pedem um maior empenho no apoio a doentes por parte do Estado; o estigma continua a caraterizar estes distúrbios: a maioria das pessoas pensa que são uma causa de vergonha e constrangimento.
Segundo os dados de um estudo realizado pelo Instituto Elma Research em seis países europeus (França, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália, Espanha e Polónia), com o apoio da Angelini Pharma, durante o confinamento 58% dos cidadãos apresentaram sintomas de distúrbios psicológicos que duraram mais de 15 dias, com picos de 63% em Itália, 63% na Grã-Bretanha e 69% em Espanha – os países nos quais o impacto da Covid-19 foi mais intenso – e com uma proporção menor do que 50% na Alemanha (47%). Os resultados são divulgados a propósito do mês em que se assinala o Dia Mundial da Saúde Mental (10 de outubro).
“A pandemia Covid-19 colocou desafios muito exigentes à nossa sociedade: confrontámo-nos com um vírus desconhecido que colocou em causa a nossa integridade e que nos obrigou a mudar de hábitos com uma brutal rapidez. Para além das consequências diretas do vírus na nossa saúde, o que inclui sintomas neuropsiquiátricos cuja extensão permanece desconhecida, a pandemia atingiu de forma muito significativa a saúde mental de todos, em particular das populações mais vulneráveis”, explica Pedro Morgado, psiquiatra e professor da Escola de Medicina da Universidade do Minho.
“A ansiedade, o stress e as alterações do sono dominaram as respostas iniciais, contribuindo para uma adaptação à nova realidade. Contudo, algumas pessoas evidenciaram problemas clinicamente significativos que necessitam de gestão e acompanhamento adequados”, acrescenta o especialista.
Foram mencionados vários sintomas, tais como: insónias; dificuldade em dormir ou acordar durante a noite (com uma média europeia de 19%); falta de energia ou fraqueza (16%); tristeza ou vontade de chorar (15%); excesso de preocupações e medos; falta de interesse ou prazer ao realizar atividades (14%); ataques de pânico e ansiedade (10%).
A maioria dos cidadãos europeus afirma ter tido pelo menos dois destes sintomas (61%); 46% afirmam ter tido estes sintomas pela primeira vez, enquanto que 39% dizem ter tido um agravamento de sintomas pré-existentes.
Como é que as pessoas lidaram com esta epidemia paralela de distúrbios psicológicos? Para a maioria, partilhando as suas preocupações com o parceiro, familiares e amigos próximos (a média europeia foi de 54%), sendo que apenas uma minoria recorreu à ajuda de um profissional: de clínica geral (18%), psicólogo (11%), psiquiatra (9%). A reduzida procura de profissionais pode justificar-se pelas medidas restritivas em vigor durante o confinamento.
Um resultado inesperado do estudo está relacionado com o comportamento das pessoas no que diz respeito à informação. Apesar de os distúrbios psicológicos estarem muito difundidos, apenas uma em cada quatro pessoas procurou informação sobre a questão dos distúrbios mentais relacionados com a Covid-19 (a média europeia foi de 26%), com exceção de Itália (35%) e Espanha (38%), onde as percentagens foram mais elevadas. As pessoas procuraram informação sobretudo na Internet (65% dos que procuraram informação), na televisão (18%) e junto de um médico de clínica geral (18%). Vale a pena ressaltar que estes números se referem a uma situação de emergência durante a qual o acesso a médicos de clínica geral ou a outros profissionais de saúde estava severamente limitado.
“Estes dados confirmam que o confinamento foi uma experiência que afetou significativamente a saúde mental das pessoas, especialmente em alguns países, como a Itália”, comentou Agnese Cattaneo, Diretora Médica Global da Angelini Pharma. “As pessoas não podem ser deixadas sozinhas; as condições de acesso a profissionais, desde clínicos gerais a psicólogos e psiquiatras – condições que ainda são demasiado limitadas, e não apenas durante o confinamento – devem ser facilitadas. O Dia Mundial da Saúde Mental é precisamente uma oportunidade para facultar informações sobre este assunto e para combater a aura de preconceito que ainda rodeia estes transtornos”.
Por fim, quanto às perceções das pessoas em relação aos distúrbios psicológicos: comparativamente a outras condições, as entrevistas mostram que o cancro é a doença mais temida pela maioria das pessoas (66% na média europeia). Já no que diz respeito ao impacto, os tumores são interpretados como sendo apenas ligeiramente mais graves do que os distúrbios psicológicos (a média europeia é de 46%, na primeira condição médica, contra 37%, na segunda).
Talvez também como consequência da pandemia, as pessoas tenham desenvolvido uma elevada consciência face ao risco das doenças mentais: 76% admitem que toda a gente, incluindo eles próprios, poderia ter este tipo de distúrbio. O impacto mais temido pela maior parte dos inquiridos diz respeito à qualidade de vida (74%), em particular dos casais (71%). Consequentemente, existe uma forte exigência para que o Estado faça mais em relação ao apoio dado aos cidadãos (76%). E mais de metade dos entrevistados (média europeia de 64%) reconhece que os distúrbios mentais são uma fonte de discriminação e marginalização. O consenso sobre a afirmação de que os distúrbios psicológicos são uma causa de vergonha e constrangimento é mais diversificado ao longo da Europa: ao nível europeu, a maioria ainda concorda (51%), enquanto que na Grã-Bretanha (34%) e na Polónia (33%) essa opinião é partilhada por apenas uma em cada três pessoas. Isto é um sinal de que noutros países ainda há muito a fazer para combater o estigma que caracteriza as questões mentais.
“É por isso fundamental apostar na literacia em saúde e na capacitação das populações para o reconhecimento e valorização da saúde mental e da doença psiquiátrica; na avaliação e monitorização da saúde mental da população; e no estudo dos fatores de risco para o estabelecimento de doença psiquiátrica neste período pandémico. Só assim será possível desenvolver e implementar políticas de saúde que reduzam os impactos negativos e os elevados custos sociais da doença psiquiátrica”, aponta ainda Pedro Morgado.
O estudo foi realizado em setembro numa amostra representativa da população de seis países (França, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália, Espanha e Polónia), com entrevistas online conduzidas com recurso ao método CAWI (Computer Assisted Web Interviewing). Foi entrevistada uma amostra de 1.000 indivíduos de cada país. A amostra é representativa em termos de género, área geográfica e idade (dos 19 aos 70).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) escolheu o maior investimento e o maior acesso aos cuidados de saúde mental como as prioridades para assinalar o Dia Mundial da Saúde Mental este ano. Em Portugal, o Ministério da Saúde, promoveu no dia 9 de outubro um webinar subordinado ao tema “Saúde mental para Todos. Maior Investimento, Mais Acesso”.
Cerca de um em cada cinco portugueses já sofreu algum tipo de perturbação mental, uma situação que se agravou com a pandemia, sendo por isso o investimento na saúde mental uma medida que se mostra cada vez mais necessária. A pandemia veio, consequentemente, alertar também para a necessidade de combater o estigma associado à doença, obrigando a uma reorganização de serviços, tendo sido abertos espaços de apoio em hospitais para apoiar os profissionais na linha da frente, frisou a Ministra da Saúde, Marta Temido.