Covid-19 afastou 40% dos doentes cardíacos das consultas durante a pandemia 474

Cerca de 40% dos doentes cardíacos deixaram de ir às consultas da especialidade devido à pandemia, mas, após a vacinação, o cenário mudou e regista-se agora uma procura destes cuidados superior ao normal.

Os dados foram avançados pela Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), que em abril fez um estudo, junto de mil portugueses em Portugal continental, com mais de 18 anos, para perceber o motivo do decréscimo destes doentes nas consultas desde o início da pandemia, algumas canceladas pelos próprios e outras suspensas pelas unidades de saúde.

“Verificou-se que as pessoas, à medida que foram sendo vacinadas, foram perdendo o receio. A vacina teve um papel determinante”, acentuou, à agência Lusa o presidente da FPC, Manuel Carrageta, que realçou o risco acrescido para os doentes cardiovasculares em caso de contágio pelo novo coronavírus.

Segundo Manuel Carrageta, “estes doentes sofreram muito em termos de complicações, por não terem assistência devida” e “deixaram de ser tratados adequadamente”, por perceberem que em caso de infeção as consequências seriam mais nocivas e por isso recolheram-se em casa.

“As pessoas tinham mais medo da covid-19 do que da sua própria doença. Isso levou a um aumento da mortalidade”, referiu o cardiologista, segundo o qual as doenças coronárias são responsáveis por um terço do total das mortes da população portuguesa, embora não tenha disponíveis os dados parcelares para fazer a análise do último ano.

O presidente da FPC salientou que se constata um aumento no nível de confiança dos doentes nas deslocações às unidades de saúde, “porque viram que as condições de segurança, em geral, eram boas”.

“Os portugueses já sabem lidar com a pandemia e o receio do vírus já não coloca em causa o acompanhamento dos doentes cardíacos, como se verificava há uns meses”, sublinhou Manuel Carrageta.

De acordo com o presidente da FPC, os doentes, por “estarem assustados”, “mesmo os 60% que iam” às consultas, faziam-no “com um intervalo maior”.

“Houve uma redução do acesso aos cuidados de cardiologia. Agora é uma forma de compensação que vai durar um mês ou dois e depois volta tudo à normalidade”, referiu o médico, que afirmou não ter “instrumentos para avaliar esses números”, mas da troca de impressões entre especialistas, “há uma perceção muito forte desse aumento do afluxo às consultas”.

O risco de morte é maior num doente cardíaco infetado com covid-19, mas o responsável da FPC explicou que as doenças cardiovasculares estão ligadas à idade, por a prevalência aumentar quando se é mais velho, e destacou que a maioria dessas pessoas já foi vacinada, ou pela idade, ou por serem doentes de risco.

“Nós agora passamos a ter na mesma doentes infetados, mas a mortalidade vai baixar muito, porque os doentes que morriam já foram vacinados”, sustentou Manuel Carrageta, que acrescentou que a doença se vai manifestar de forma mais ligeira nessa população e “os vacinados que tinham maior risco de morrer, estão protegidos”.

O cardiologista informou terem decidido fazer o estudo “preocupados com a ausência dos doentes nas consultas dos hospitais”, para perceber a forma de “motivar as pessoas a irem ao médico” e para avaliar o comportamento dos portugueses face ao seu conhecimento, idas aos serviços de saúde e medidas de prevenção.

O inquérito indicou que 10% dos doentes cardíacos já tiveram covid-19, “um pouco abaixo do que acontece na população em geral”.

Os dados mostraram também que, entre a população em geral, 91% das pessoas que se deslocaram a uma unidade de saúde no período de pandemia consideraram estar num local seguro, 98% dos inquiridos em abril respondeu que iria ao seu médico caso precisasse e 99% da amostra garantiu continuar a adotar medidas de proteção, como o uso da máscara, distanciamento físico ou a lavagem das mãos.

Manuel Carrageta apelou aos doentes cardiovasculares para que “voltem a ter um estilo de vida saudável”, com a prática de atividade física e uma alimentação saudável, porque “aumenta a sua capacidade para resistir a qualquer infeção, nomeadamente à covid-19”.