A África do Sul e a Bélgica estão a desenvolver uma nova vacina com tecnologia mRNA contra a covid-19, anunciou esta quinta-feira o Presidente sul-africano, num encontro com os reis belgas, que realizam a primeira visita oficial àquele país.
“Esta cooperação significa que estaremos mais bem preparados para enfrentar emergências de saúde no futuro, e atingir o nosso objetivo em criar a nossa primeira vacina contra o coronavírus”, disse Cyril Ramaphosa, em conferência de imprensa, no Palácio Presidencial.
Os reis da Bélgica, Filipe e Matilde, iniciaram hoje na capital sul-africana, Pretória, a sua primeira visita de Estado à África do Sul, com o reforço das relações bilaterais comerciais, de investimento e turismo na agenda, segundo a Presidência sul-africana.
Os monarcas Filipe e Matilde foram recebidos na manhã de hoje numa cerimónia oficial de Estado no ‘Union Buildings’, sede da Presidência na capital sul-africana, durante a qual o Presidente Cyril Ramaphosa elogiou o apoio prestado pela Bélgica no combate à pandemia de covid-19.
“A Bélgica é um importante doador da aliança de vacinas GAVI no âmbito da COVAX, a iniciativa global de acesso a vacinas contra a covid-19 que criámos; a Bélgica doou também mais de 10 milhões de doses da vacina, do qual uma proporção significativa foi enviada para países no nosso continente, África; a Bélgica foi também um dos primeiros países que apoiou a iniciativa de transferência da tecnologia mRNA da Organização Mundial de Saúde [OMS], na África do Sul, para solucionar a longo prazo a acesso equitativo a vacinas e terapias”, declarou.
Por seu lado, o Rei Filipe destacou que a África do Sul “é extremamente importante” para os belgas, sublinhando que a economia mais desenvolvida do continente “desempenha um papel importante no mundo, nomeadamente no G-20 e nos BRICS [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul]”, apontando a “relevância” da visita com a delegação que o acompanha à África do Sul.
“Com esta visita, gostaríamos de sublinhar a colaboração e expandir ao mais alto nível por forma a promover essa cooperação em todo o tipo de setores. Como referiu no nosso encontro, em privado, está impressionado com a delegação que nos acompanha, que de facto é muito forte, ao nível do Governo federal e regional, do empresariado, da academia, cultural e do empreendedorismo”, afirmou o Rei Filipe.
O monarca belga recordou também a sua presença na posse do antigo Presidente Nelson Mandela, em 1994, após as primeiras eleições multipartidárias que marcaram o fim do anterior regime do “apartheid”.
“Nunca esquecerei a emoção que senti e faz parte da minha vida, e desde então sempre acompanhei a atualidade sul-africana, este país é muito querido para mim e para os belgas, e gostaria de dizer que o que o seu país alcançou neste período é notável”, afirmou o Rei Filipe da Bélgica.
A visita de Estado, a convite do Presidente Cyril Ramaphosa, a decorrer até 27 de março, é a primeira à África do Sul e a primeira a um país africano desde 1979, e estará centrada em três cidades: Pretória, a capital do país, Joanesburgo, a capital económica, e Cidade do Cabo, sul do país, com o objetivo de aprofundar as relações entre os dois países.
Ainda hoje, o Presidente sul-africano e os reis da Bélgica participam no Fórum Empresarial África do Sul-Bélgica, a decorrer no Conselho de Pesquisa Científica e Industrial (CSIR), na capital sul-africana.
A Presidência da República sul-africana salientou que a visita de Estado servirá para “ampliar” e “fortalecer” as relações bilaterais entre os dois países e “revitalizar” as relações económicas “com foco no comércio, investimento estrangeiro direto e turismo”, sublinhando que os dois países procuram também cooperar no setor das energias renováveis e, em particular, hidrogénio verde.
“A Bélgica é um dos parceiros económicos mais importantes da África do Sul e muitas das exportações sul-africanas entram na Europa através do Porto de Antuérpia, que é o segundo maior da União Europeia”, apontou, salientando que o país “desfruta de um excedente comercial saudável com a Bélgica”, com os produtos químicos orgânicos como o principal produto de exportação, seguido por diamantes e veículos motorizados.
“As empresas belgas também são investidoras significativas na economia sul-africana”, sublinhou a Presidência da República sul-africana, acrescentando que a Bélgica “está tradicionalmente entre as dez principais fontes de turistas internacionais para a África do Sul”.
A visita dos reis da Bélgica à África do Sul inclui uma série de reuniões de negócios e governamentais, bem como intercâmbios culturais, académicos, e visitas a vários pontos de referência do país, segundo a presidência sul-africana.
A comitiva real inclui uma delegação de alto nível com pelo menos cinco ministros e altos funcionários do executivo belga.
“Sendo a maior economia do continente africano com significativo potencial de crescimento, não surpreende que várias empresas belgas tenham feito recentemente investimentos sul-africanos e estejam em parceria com empresas sul-africanas em setores tão diversos como o processamento de alimentos e mineração”, apontou à imprensa o embaixador da Bélgica em Pretória, Paul Jansen.
A Bélgica, que é um dos principais fabricantes de munições militares na Europa, participa nos esforços da União Europeia (UE) no combate ao terrorismo na província de Cabo Delgado, região norte do país lusófono vizinho, Moçambique, onde a África do Sul lidera uma força militar regional da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) com o apoio do Ruanda.