A braços com o maior surto de covid-19 em território chinês desde o início da pandemia, a Comissão Europeia receia uma potencial escassez de medicamentos no Velho Continente, face à dependência para com a China. Em reportagem, o jornal Público auscultou os representantes da Ordem dos Farmacêuticos (OF), da Associação Nacional das Farmácias (ANF) e da Apifarma, que analisaram os potenciais impactos em Portugal, não havendo, contudo, consenso.
“Temos sentido que estas falhas temporárias têm vindo a aumentar. É preciso estarmos atentos”, afirma o bastonário da OF. Helder Mota Filipe refere que “a história da China não começou agora. Começou com o isolamento [por causa da pandemia] de grandes áreas da China com paragens das fábricas [em 2020]”. Ainda assim, garante não haver razões para alarmismo, mas para as autoridades se prepararem para reduzir riscos.
“Sempre houve falhas e existem flutuações [na disponibilidade de medicamentos] ao longo do ano. Mas, quando comparamos períodos homólogos, [a escassez] é pior agora do que há três anos”, indicou ao Público, por sua vez, Ema Paulino. A presidente da ANF lembra “muitas substâncias activas e medicamentos são provenientes daquela região e, portanto, estamos muito dependentes de não existirem disrupções nestas cadeias”, continua, admitindo que Portugal pode ser afetado por uma eventual escassez de fármacos.
A invasão da Ucrânia pela Rússia é outro problema, devido a matérias-primas essenciais para as embalagens, como é o caso do alumínio. No entanto, a Europa é relativamente depende da China e da Índia em matérias de produção e distribuição. “Quando dois países têm um peso tão significativo nas cadeias de abastecimento do medicamento a nível global, não podemos ficar indiferentes aos eventuais riscos daí decorrentes”, explicou a Apifarma, em nota enviada ao jornal. Os europeus apresentam um “enfraquecimento da capacidade industrial”.