O Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra está a testar cerca de 2.000 fármacos contra a covid-19, utilizando uma espécie de réplica do novo coronavírus.
Até ao momento, o CNC já testou 700 de uma biblioteca de 2.000 fármacos existentes no mercado para tratar outras doenças, tendo registado “resultados promissores” em mais de uma dezena, afirmou à agência Lusa o presidente do centro, Luís Pereira de Almeida.
A instituição da Universidade de Coimbra está a recorrer à ViraVector, infraestrutura coordenada por Luís Pereira de Almeida, que produz “vetores virais” – vírus modificados para a transferência de genes para células ou animais com vista à investigação ou ao teste com medicamentos e terapias avançadas, explicou.
No caso da covid-19, o centro produz um vírus sem qualquer característica patogénica que tem à sua superfície a proteína da espícula do novo coronavírus, permitindo produzir um vírus “inofensivo, que não causa a doença, mas que se comporta como a covid-19”, salientou.
Para verificar a capacidade de fármacos inibirem ou agravarem a infeção por covid-19, os investigadores criam também “células modificadas para ter o recetor que também se encontra nos nossos pulmões e que permite à covid-19 ser internalizada”.
“Colocamos sobre as células diferentes fármacos e depois, em seguida, colocamos os vírus. Os vírus cuja interação com o recetor [das células] for inibida não vão entrar dentro das células. Estes vírus, para além da espícula [do novo coronavírus], transportam um gene que depois nos permite avaliar a transgressão das células-alvo. Ou seja, um gene que vai emitir luz quando colocamos um reagente sobre as células”, contou Luís Pereira de Almeida.
Com esta técnica, os investigadores conseguem avaliar a capacidade de infeção do novo coronavírus.
“Quanto mais luz for emitida pelas células, mais o vírus infetou. Quanto menos luz, mais o fármaco inibiu a infeção”, referiu.
Segundo o presidente do CNC, “os resultados são muito interessantes”, com a equipa a ter encontrado, por um lado, “fármacos que inibem essa interação do vírus com as células e, por outro lado, fármacos que aumentam a extensão da infeção das células pelo vírus”, o que, a confirmar-se, poderá levar à recomendação da não utilização de determinados medicamentos em pessoas infetadas com covid-19.
Luís Pereira de Almeida espera ainda este ano publicar resultados sobre os testes que estão a ser feitos, mas salienta que agora o CNC tem que voltar a repetir os ensaios com os fármacos promissores e com aqueles que aumentaram a infeção.
“Vamos repetir esse estudo e depois vamos repetir em células que são mais relevantes, nomeadamente do epitélio pulmonar, e só depois teremos que testar com o covid-19 e não com este modelo experimental”, salientou.
No entanto, o presidente do CNC realçou que, após todos os resultados confirmados e publicados, “seria fácil de um dia para o outro começar a utilizar esses fármacos para evitar a infeção pela covid-19”, uma vez que toda a biblioteca de medicamentos testados estão aprovados pela entidade reguladora norte-americana.
“A nossa ideia é que consigamos ter outro tipo de apoio para continuar estes estudos”, vincou.