De acordo com um inquérito do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, que teve como base os dados sobre as rotinas diárias da população e a sua adaptação à pandemia de covid-19, verificou-se que os doentes que não conseguiram contactar a Linha SNS24 foram mais à farmácia.
Os dados divulgados são do relatório “Diários de uma Pandemia”, iniciativa desenvolvida pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), no Porto, e em colaboração com jornal Público. Estes têm por base a utilização dos cuidados de saúde, desde o dia 23 de março, por 10.391 participantes, com idades compreendidas entre os 16 e 89 anos.
Este relatório conclui que os participantes recorreram principalmente ao médico de família (seis em cada mil participantes) e à Linha SNS24 (quatro em cada mil).
Contudo, os participantes foram mais vezes à farmácia (77 em cada mil) do que aqueles que conseguiram contactar a linha (55,7 em cada mil).
Relativamente à Linha SNS24, 8,4% dos participantes tentaram o contacto durante o mês de março, sendo que 3,6% não conseguiu por “motivos independentes da sua vontade”. Os participantes que tentaram contactar a Linha SNS24, com ou sem sucesso, afirmaram ter feito pesquisas “mais frequentes” na internet sobre a covid-19, do que aqueles que não procuraram a linha.
Os inquiridos que consideraram o seu risco individual como alto recorreram mais ao médico de família, à Linha SNS24 e aos hospitais públicos do que os restantes.
A ida à farmácia também aumentou “consideravelmente com a probabilidade percebida de doença”, passando de 35,7 em cada mil nos inquiridos que consideravam ter “muito baixo risco” a 80,4 em cada mil nos que consideravam ter um risco “muito elevado”.
O contacto com casos confirmados de infeção por covid-19 foi o principal motivo de procura de cuidados de saúde, seguindo-se os indivíduos que tiveram um ou mais sintomas associados ao vírus como tosse, febre e dificuldade respiratória.
O relatório indica também que os cuidados de saúde foram mais procurados por pessoas cujo agregado familiar incluía doentes crónicos, bem como crianças até aos 10 anos.
No que respeita aos profissionais do setor da saúde foram 9,4 em cada mil os que recorreram ao médico de família à distância, e 5,2 em cada mil aos hospitais públicos, “possivelmente por exposições de maior risco ou pela proximidade”.
Foram as mulheres entre os 40 e 59 anos, e os homens com 60 ou mais anos, que mais contactaram o médico de família (7,6 em cada mil e 7,9 em cada mil, respetivamente). No que concerne à Linha SNS24, as mulheres com 60 ou mais anos foram as que mais utilizaram este meio, seguindo-se os homens com menos de 40 anos.
O relatório indica também que os cuidados de saúde foram menos utilizados pelos residentes no Alentejo e no Algarve. Nestas zonas, apenas 0,5 em cada mil participantes e 3,8 em cada mil recorreram, respetivamente, à Linha SNS24.