COVID-19: Estudo aponta para permanência de sintomas cerca de nove meses após infeção 225

A Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (NOVA ENSP) apresentou, ontem (10), os resultados do projeto LOCUS (LOng Covid – Understanding Symptoms, events and use of services in Portugal), que apontam para a permanência de vários sintomas cerca de nove meses e 12 meses após a infeção.

Tanto as pessoas com sintomas de COVID longa como os profissionais de saúde reportam alguma demora no acesso aos serviços de saúde, bem como dificuldades na organização da resposta, dada a multiplicidade de sintomas existentes nesta condição.

As conclusões dos estudos que integram o projeto LOCUS indicam que cerca de 9 meses depois de um episódio de COVID-19, 60 em cada 100 indivíduos tinham sintomas sugestivos de COVID longa. Ao final de 12 meses esse valor baixa, mas, mesmo assim, mais de quatro em cada dez pessoas ainda reportaram sintomas sugestivos de COVID longa. Os sintomas, que são mais comuns entre as mulheres e entre as pessoas mais velhas, podem ir de ligeiros a múltiplos, como dor nas articulações e sintomas neurocognitivos.

 

Quem diz não ter tido COVID também tem sintomas

O estudo também permitiu perceber que mesmo as pessoas que reportaram não ter tido COVID apresentam, por vezes, sintomas semelhantes ao final de vários meses. Este facto pode ter diferentes explicações, nomeadamente algumas pessoas poderem não saber que tiveram COVID.

Muitos dos sintomas são bastante inespecíficos e podem surgir associados a muitas outras condições. Finalmente, alguns dos sintomas podem apontar para o impacto mais global da pandemia na população, mesmo em quem possa não ter sido infetado.

 

Doentes com problemas cardíacos

O LOCUS permitiu também observar que, um ano após o internamento por COVID-19, 35 em cada 1000 pessoas registaram um novo evento cardíaco ou vascular. Doentes com problemas cardíacos ou vasculares prévios tiveram eventos com maior frequência e os previamente vacinados com menor.

 

Doentes com problemas respiratórios

Foram também observados 44 eventos respiratórios em cada 1000 pessoas, um ano após o internamento pela infeção. Uma vez mais, doentes com problemas respiratórios prévios ou episódios COVID-19 mais graves tiverem eventos com maior frequência.

 

Acesso aos cuidados de saúde

Relativamente ao acesso a cuidados de saúde, as pessoas com quadros de infeção mais graves na fase aguda ou na fase crónica parecem ter acesso a uma oferta de cuidados mais estruturada, ainda que por vezes sujeita a períodos de espera prolongados. Já as pessoas que passaram por infeção ligeira ou moderada ou que experienciam sintomas pós-COVID com menos impacto reportaram uma maior dificuldade em entrar no sistema. De acordo com profissionais de saúde e pessoas com sintomas pós-COVID-19, quem consegue chegar ao sistema de saúde nem sempre obtém uma resposta concreta para as suas queixas, dado o carácter inespecífico de muitos dos sintomas e a escassez de opções terapêuticas para alguns deles.

 

Resposta a diferentes níveis

“Embora a fase aguda da pandemia de COVID-19 tenha ficado para trás, os dados mostram que os sintomas associados à COVID longa continuam a afetar muitas pessoas de forma significativa”, refere, em comunicado, Andreia Leite, professora da ENSP NOVA e investigadora responsável do estudo, acrescentando que “o acesso ao sistema de saúde, especialmente para aqueles que lidam com essas condições prolongadas, permanece um desafio, tanto em termos de tempo de espera, como da estruturação dos próprios serviços, uma vez que o espetro de manifestações desta condição é muito alargado”.

Andreia Leite sublinha ainda que “os resultados do nosso trabalho reforçam a necessidade de continuarmos a perceber o impacto que a pandemia teve em várias dimensões, nomeadamente procurando o desenvolvimento de respostas atempadas em termos do sistema de saúde”.

O estudo destaca que, sendo a experiência da condição pós-COVID-19 uma experiência multifacetada, exige também uma resposta a diferentes níveis, das recomendações para a autogestão a cuidados especializados, e também dirigida a diferentes áreas da vida das pessoas, incluindo as dimensões emocional e social.

 

O que é o estudo LOCUS

O estudo LOCUS (LOng Covid – Understanding Symptoms, events and use of services in Portugal) pretende contribuir para a compreensão da COVID longa (condição pós-COVID-19) em Portugal, considerando vários contextos e vários métodos. O projeto, com o apoio da Pfizer, conta com parceiros como a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARS | LVT), a Nova Medical School e a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI).