Covid-19: Festas populares e Rock in Rio podem resultar em mais de 350 mil contágios diretos em todo o país 587

As festas populares poderão resultar em 350 mil contágios diretos de Covid-19 no país, prevê o relatório do Instituto Superior Técnico (IST), que reforça a recomendação para o uso de máscara e alerta para eventos de massas como o Rock in Rio Lisboa.

“Todas as festas populares no país poderão traduzir-se num total de contágios diretos num mínimo de 350 mil, podendo atingir valores mais elevados se novas variantes entrarem em Portugal”, estima a análise de risco elaborada pelo grupo de trabalho do IST que acompanha a evolução da covid-19 em Portugal e que a agência Lusa teve esta quarta-feira acesso.

A propagação do vírus será maior nas festas dos Santos Populares das duas maiores cidades do país, “onde poderemos ter um mínimo de 60 mil contágios nos dias mais movimentados em Lisboa e 45 mil no Porto”, adianta o relatório produzido por Henrique Oliveira, Pedro Amaral, José Rui Figueira e Ana Serro, que compõem o grupo de trabalho coordenado pelo presidente do Técnico, Rogério Colaço. Os técnicos reforçam todas as recomendações do uso de máscara em grandes eventos ao ar livre, festas populares, concertos e eventos em ambiente fechado, transportes públicos e em contexto laboral, “quando há proximidade entre trabalhadores inferior a dois metros”.

O documento antecipa também que o número de contágios pelo coronavírus SARS-CoV-2 “produzidos sem máscara, com os níveis atuais de suscetíveis de infeção, em eventos como o Rock in Rio seja de 40 mil no total”.

Segundo a avaliação do IST, com os dados de domingo, a mortalidade acumulada a 14 dias por um milhão de habitantes “é agora de cerca de 56”, valor que é 2,75 vezes mais do que o preconizado pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) para a redução das medidas de controlo da pandemia.

“Este número, superior a 40 óbitos por dia em média a sete dias, é elevado e é superior à média diária anual de óbitos por doenças respiratórias pré-pandemia, que ronda os 33”, salienta ainda o documento, ao sublinhar que só a covid-19 “é responsável por mais óbitos do que todas as outras doenças respiratórias reunidas em média anual”.

O relatório do IST refere que a mortalidade apresenta uma “tendência ainda de subida, prevendo-se o pico para depois do dia 15 de junho e até final do mês”. Os peritos do Técnico adiantam também que os dados indicam uma descida nominal dos casos testados, mas sublinham ter “dúvidas” sobre essa efetiva descida, tendo em conta que uma positividade dos testes acima dos 60% pode indiciar que existam “mais casos assintomáticos ocultos que contribuem para novos contágios”.

Relativamente à sexta vaga, o relatório refere que o pico já terá sido ultrapassado, mas pode haver um “recrudescimento de contágios a partir das festas de junho, admitindo que ainda existem 45% de suscetíveis à variante Ómicron no país”. O grupo de trabalho do IST salienta que o período entre vagas pandémicas está entre 115 e 120 dias, o que deve levar as “autoridades de saúde a adaptar a sua estratégia a esta periodicidade”. “Há uma indicação que no início de setembro, com um erro de 15 a 20 dias, teremos o início de uma nova vaga pandémica”, referem os especialistas do Técnico.

Face à atual situação do país, o Indicador de Avaliação da Pandemia (IAP) do IST e da Ordem dos Médicos está nos 81,4 pontos, acima do “nível de alarme”, valor que aconselha ao reforço da monitorização e a “passar a mensagem de que o perigo pandémico ainda não terminou, sobretudo com festejos populares e grandes eventos”.

“Se a hipótese da perda de imunidade se verificar, estas vagas vão se suceder de forma periódica ao longo dos anos. A única forma de quebrar estes ciclos será com vacinas de nova geração. A teoria e a história indicam também que as ondas pandémicas se irão atenuando ao longo dos ciclos repetidos até o vírus se tornar endémico”, conclui o relatório do grupo de trabalho do IST.