Covid-19: Movimento pede que cuidadores informais tenham prioridade na vacinação 366

As pessoas que, em Portugal, se dedicam a cuidar familiares ou outras pessoas com laços afetivos, os chamados cuidadores informais, tantas vezes invisíveis quando se trata de apoios para a tarefa que desempenham, voltam a ser invisíveis no momento da seleção dos grupos prioritários para a vacinação contra a Covid-19. Por isso mesmo, o Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais alerta para a situação e repete o apelo para que não sejam esquecidos. Os motivos pelos quais os cuidadores informais não podem ser esquecidos são óbvios.

“Facilmente percebemos que se os cuidadores informais ficarem infetados ficam impossibilitados de cuidar. Mas as consequências não ficam por aqui: um cuidador doente, sobrecarrega duplamente o serviço nacional de saúde, já de si em grande sobrecarga”, afirma Bruno Alves, Executive Board Member da Eurocarers, Bruxelas e coordenador nacional da Cuidadores Portugal, Sílvia Artilheiro Alves, presidente da Associação Nacional de Cuidadores Informais (ANCI) e ainda Nélida Aguiar, na qualidade de cuidadora informal e também membro da direção da ANCI e da Eurocarers. “Igualmente, um cuidador infetado aumenta a probabilidade de infeção da pessoa cuidada. Já basta o isolamento, a dificuldade de acesso aos serviços de saúde e sociais, imagine-se agora a angústia dos cuidadores, se ficam infetados pela Covid-19: quem cuida deles e da pessoa cuidada?”

A questão foi colocada, em julho de 2020, ao Ministério da Saúde, a quem se apelou para incluir os cuidadores informais no grupo prioritário de vacinação. A resposta chegou em janeiro passado, quando o então coordenador da Task Force do Plano de Vacinação contra a COVID-19, Francisco Ramos, informava que estes cuidadores não foram incluídos na primeira fase.

O Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, composto por quase três dezenas de associações de cuidadores e doentes de todo o País, pede que se reavalie esta decisão. “Numa ótica de uma estratégia de melhor planeamento e alívio da sobrecarga do Serviço Nacional de Saúde, importa repensar se os cuidadores informais não deverão integrar o grupo prioritário. E se é importante vacinar os cuidadores formais, como os profissionais de saúde, porque estão na linha da frente, os cuidadores informais também estão! Embora revestidos com um manto de invisibilidade, são também uns verdadeiros heróis! Com os condicionamentos da pandemia, prestam um maior número de horas de cuidados, sem os apoios que gostariam”, reforçam.

Bruno Alves enfatiza ainda “a confiança que existe no Serviço Nacional de Saúde e que não tem dúvida que todos serão vacinados, a questão é quando. Este timing pode fazer toda a diferença na vida do cuidador, da pessoa cuidada e nos sistemas sociais e de saúde”.

Nélida Aguiar é também cuidadora informal. E considera a não inclusão de cuidadores, como ela, na primeira fase de vacinação “como uma afronta e total desrespeito por aqueles que lidam diariamente com inúmeras situações de dependência e limitações, e que são considerados o grande apoio na saúde dos que deles dependem sem serem reconhecidos ou profissionais. Enquanto cuidadora, pesa-me a responsabilidade constante de não poder adoecer, nem ser infetada, por não ter apoio de retaguarda que continue a apoiar os que de mim dependem”.

E aproveita para reclamar mais apoios, aqueles que o Estatuto do Cuidador Informal deveria garantir, mas não foi capaz de o fazer. “Continuamos a sentir as grandes dificuldades diárias que nos levam a enfrentar enormes sobrecargas (emocionais e físicas)”, acrescenta, recordando que, “com a pandemia, verifica-se ainda mais a escassez de cuidados formais, o que faz recair a responsabilidade e uma grande sobrecarga dos cuidados sobre a família, desresponsabilizando o Estado e a própria comunidade”.

Bruno Alves, Sílvia Artilheiro Alves e Nélida Aguiar admitem a dificuldade de vacinar todos os cuidadores informais, tendo em conta os problemas na identificação e reconhecimento dos cuidadores a nível nacional. “Uma possibilidade para contornar em parte esta situação poderia passar por vacinar todos os cuidadores que recebem o complemento por dependência e subsídio de 1º e 2º grau, bem como os cuidadores que as equipas de saúde identifiquem no domicílio e, em particular, com problemas de saúde crónicos.” E vacinar não só os cuidadores, mas também a pessoa cuidada, “que se traduzirá em ganhos para todos. Não nos esqueçamos que se o trabalho dos cuidadores informais fosse exclusivamente realizado pelos cuidadores formais, corresponderia a um incremento da despesa pública equivalente a 4 mil milhões de euros”.