As vacinas contra a covid-19 atualmente em uso em Portugal podem ser administradas a pessoas com doença alérgica, embora alguns doentes devam fazer a toma sob vigilância em contexto hospitalar, alertaram especialistas da área Imunoalergologia.
“Não existe atualmente nenhuma contraindicação absoluta [para a toma das vacinas contra a covid-19 no que se refere a doença alérgica]”, disse à Lusa a médica imunoalergologista Ana Reis Ferreira.
A especialista, que é responsável pela triagem dos pedidos de consulta de Imunoalergologia para vacinação covid-19 no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E), contrariou, assim, algumas ideias feitas sobre a toma da vacina contra a covid-19.
Esta convicção é partilhada por Patrícia Barreira, médica da consulta especifica de fármacos do mesmo hospital, e por Susana Cadinha, diretora de serviço de Imunoalergologia do CHVNG/E que, numa resposta escrita enviada à Lusa, referem que “atualmente, nenhuma doença alérgica contraindica de forma absoluta a toma da vacina contra a covid-19”.
No entanto, as especialistas alertam que “alguns doentes deverão ser encaminhados para a consulta de Imunoalergologia para avaliação do risco e eventual administração da vacina sob vigilância, em meio hospitalar” caso manifestem determinados antecedentes.
Em causa estão situações como história de hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes, mastocitose sistémica e/ou doença proliferativa de mastócitos (células responsáveis pelas reações alérgicas), diagnóstico prévio de anafilaxia idiopática ou reações anafiláticas recorrentes e sem causa aparente, reação de hipersensibilidade confirmada a excipientes de outros medicamentos (incluindo vacinas), bem como reação anafilática (reação alérgica grave) a qualquer outra vacina, ou à dose anterior da vacina contra a covid-19.
As especialistas apontam que, nestes casos, e após avaliação na consulta de Imunoalergologia, “aos doentes que tiveram uma reação alérgica à primeira dose da vacina que contraindique a toma da segunda dose, poderá ser recomendado completar o esquema vacinal com uma vacina de outra marca”.
Críticas da “desinformação” e das “notícias falsas ou erróneas” sobre o novo coronavírus, as especialistas do CHVNG/E lamentam que as pessoas tenham dificuldade em “encontrar as fontes e as orientações fidedignas de que necessitam”, uma situação que pode conduzir a mitos e ideias preconcebidas também no que se refere à vacinação contra a covid-19.
“Este problema agravou-se com uma hipervalorização dos riscos das vacinas, muito inferiores aos seus benefícios, não só para a saúde dos cidadãos, mas também para a retoma económica”, frisaram as médicas, aproveitando para defender a realização de “campanhas de informação validadas por grupos com demonstrado conhecimento na área”, bem como a consulta de médicos e especialistas em caso de dúvida.
Patrícia Barreira, Ana Reis Ferreira e Susana Cadinha admitem que “em alguns doentes, poderá estar indicada a administração da vacina em doses fracionadas ou pré-medicação com anti-histamínicos”, contudo esta necessidade deverá ser avaliada “doente a doente pelo imunoalergologista, considerando a gravidade da reação prévia, outras doenças e a medicação habitual”.