Portugal está com uma média diária de 12 óbitos por COVID-19 e perto de 400 novos casos, um número que quase triplicou desde finais de maio, avança o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, à Lusa.
No fim de maio, o país tinha uma média de 130 notificações de casos positivos de COVID-19 por dia e nos últimos sete dias a média diária rondou as 390, precisou o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ressalvando que no início de maio o número de notificações era “muito baixinho”, cerca de dez casos.
Relativamente ao número de óbitos, Manuel Carmo Gomes disse que é de “aproximadamente 12 por dia”, o que representa também “um grande aumento relativamente há um mês”, em que se registavam cerca de três mortes diárias.
“Se recuarmos aproximadamente dois meses, nessa altura tínhamos um óbito de dois em dois dias”, adiantou o epidemiologista e membro da Comissão Técnica de Vacinação Contra a COVID-19.
Segundo Carmo Gomes, também se registou “um aumento grande” do número de óbitos de doentes internados em hospitais públicos com teste positivo, o que não significa que estivessem hospitalizadas por COVID-19.
Assinalou ainda o aumento de quase 30% de doentes internados que testaram positivo ao longo dos últimos três meses.
“Neste momento, as pessoas que testam positivo para COVID e estão internadas, um pouco mais de metade têm mais de 60 anos” e cerca de 24% mais de 80 anos, disse, apontando que, eventualmente, é nesta faixa etária que está a ocorrer a maior parte dos óbitos devido a terem várias doenças.
Como razões para este aumento de casos, Carmo Gomes apontou a evolução do vírus SARS-Cov-2, com o surgimento de novas linhagens com capacidade de fugir aos anticorpos. “Praticamente já não temos proteção contra estas novas linhagens do vírus”, nomeadamente a KP.1, KP.2 e KP.3, que têm “uma série de descendentes” e são dominantes, neste momento, na Europa e na América.
De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), a sublinhagem KP.3 tornou-se maioritária em Portugal ao longo do mês de maio, mas é geral na Europa e na América.
“Todos temos anticorpos a circular no corpo porque já fomos vacinados e fomos infetados, etc., mas estas linhagens têm capacidade de fugir a estes anticorpos”, salientou.
Por outro lado, o epidemiologista observou que já passaram cerca de oito meses desde a última campanha de vacinação, que ocorreu no outono de 2023, tendo a proteção das pessoas contra o vírus baixado. Além disso, recordou que esta “não foi brilhante”.
”As pessoas com mais de 60 anos tiveram uma cobertura vacinal de aproximadamente 66%, o que quer dizer que os outros 34% nem sequer foram vacinados no outono, já não têm contacto com a vacina há mais de um ano e meio”, observou.
Apesar de grande parte da população adulta não ter proteção contra a infeção, e se entrar em contacto com o vírus, através da inalação de partículas virais que estão em suspensão no ar, será infetada, está protegida contra “a doença greve”.
Segundo o especialista, a grande maioria “não tem uma doença muito grave, recupera e não vai parar ao hospital”.
Numa altura de férias, Manuel Carmo Gomes lembrou que o vírus SARS-CoV-2 continua a circular e lembrou algumas recomendações para evitar a infeção.
“A COVID não tem características sazonais, pelo menos até ao momento, como a gripe que praticamente já desapareceu, mas continua entre nós e está a dar origem a esta onda” de infeções.
O epidemiologista aconselhou as pessoas de maior risco a evitarem estar em espaços não arejados com pessoas fora do seu círculo habitual.
Lembrou a importância de higienizar as mãos, nomeadamente não levar as mãos à boca ou aos olhos sem estarem lavadas, e o uso de máscara por pessoas que sabem que “são de alto risco”.