A vacina russa contra a covid-19 Sputnik V poderá ser produzida em Portugal e exportada para os países africanos, se houver aval das autoridades europeias e portuguesas, num processo com a mediação da Câmara de Cascais.
“Sabendo das dificuldades que se começaram a perspetivar, colocámos a nossa rede de contactos a funcionar, em termos internacionais, para ver se podíamos encontrar uma outra solução”, adiantou, em declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras.
Segundo o autarca, alguns países mostraram-se indisponíveis para fornecer Portugal por não terem possibilidade de ceder as patentes ou para produzirem e venderem a vacina.
Porém, o Governo de Moscovo disse estar disponível para avançar com a possibilidade de produção em Portugal.
“Sabemos que a própria vacina só poderá ser efetivada quando a autoridade europeia [Agência Europeia do Medicamento] a certificar”, ressalvou o autarca, esperando que esta agência seja “célere”, tendo em conta que a vacina está a ser utilizada “com sucesso” noutros países.
Carlos Carreiras sublinhou que o processo de fabrico da vacina inclui várias fases e nem todas podem ser desenvolvidas em Portugal.
Ainda assim, o país tem capacidades, por exemplo, para ficar a cargo do enchimento das vacinas, em linha com o que diz ser possível acontecer no resto da Europa, lamentando que os países estejam dependentes de farmacêuticas “que controlam todo o processo, com as falhas que temos vindo a assistir”.
Paralelamente, existe a possibilidade de Portugal fabricar a Sputnik V para países terceiros, nomeadamente, países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP).
“Não podem ser os ricos a ter acesso às vacinas e os com menos recursos a não ter acesso”, observou o autarca, vincando que os interesses económicos ou geopolíticos não podem sobrepor-se à saúde.
Questionado sobre as empresas identificadas com capacidade para produzir a vacina, Carlos Carreiras disse que o Governo selecionou 11 e a Câmara de Cascais outras, escusando-se a avançar nomes.
O presidente da Câmara de Cascais garantiu ainda que já forneceu todas as informações sobre o processo ao gabinete do primeiro-ministro, António Costa.
“Do nosso lado o trabalho está concluído, continuando com disponibilidade para colaborar neste e noutros processos, como temos estado a colaborar”, concluiu.
Na quinta-feira, António Costa classificou esta possibilidade como “excelente”, ressalvando que o fármaco e o local de produção devem estar devidamente licenciados pela União Europeia.
“O presidente Carlos Carreiras informou-nos que tinha contactos com uma câmara com quem tem relações de proximidade num país exterior à União Europeia e que teria condições de poder obter o licenciamento para a produção dessa vacina em Portugal”, referiu António Costa, em conferência de imprensa sobre as medidas da terceira fase de desconfinamento.
Já no final de março, António Costa, após um encontro o comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton, tinha-se manifestado confiante na capacidade de mobilização da indústria europeia para aumentar a produção de vacinas contra a covid-19 e reafirmou a disponibilidade de Portugal no sentido de contribuir “ativamente” para esse esforço.