A COVID-19 foi a causa de mais de 40% do excesso de mortalidade por diabetes nos dois primeiros anos da pandemia, período em que morreram devido à diabetes mais 646 pessoas do que era esperado.
Segundo um estudo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), a que a Lusa teve acesso, entre março de 2020, quando a pandemia chegou a Portugal, e final de 2021 a proporção atribuível à COVID-19 do excesso de mortalidade por diabetes é de 44%.
A mortalidade por diabetes apresentou “vários períodos de excesso de mortalidade”, sendo os mais evidentes em julho-agosto de 2020 e em janeiro-fevereiro de 2021, refere o estudo, acrescentando que o excesso de mortalidade por esta doença no verão de 2020 foi superior ao esperado.
Mortalidade por doença
A investigação concluiu que a mortalidade por doenças respiratórias (90% atribuível à COVID-19) teve uma variação temporalmente coincidente com a variação da intensidade da pandemia.
Já a mortalidade por acidentes variou inversamente à evolução da pandemia, tendo aumentado em períodos de menor intensidade das medidas restritivas.
As estimativas indicam que morreram por doenças cerebrovasculares nos primeiros dois anos da pandemia mais 832 pessoas do que era esperado. Deste excesso de mortalidade, 18% é atribuível à covid-19.
Nas doenças cardíacas, o excesso de mortalidade estimado foi de 500 pessoas, sendo que a proporção atribuível à covid-10 é de 18%.
Mais de 19.000 mortes em excesso em Portugal nos primeiros dois anos da pandemia
As doenças respiratórias foram as que tiveram maior proporção atribuível à COVID-19, com mais de 90%.
A mortalidade por cancro diminuiu ao longo de 2021, “contrariando a tendência que tinha sido observada até 2020”, referem os investigadores. Os dados estimam que tenham ocorrido 245 óbitos por cancro além do esperado entre março de 2020 e final de 2021, mas não se observaram excessos de mortalidade diretamente atribuíveis à covid-19.
O estudo do INSA diz igualmente que o excesso de mortalidade por todas as causas nos primeiros dois anos da pandemia foi o mais elevado ocorrido em Portugal depois da pandemia de gripe de 1918, e adianta que as estimativas para Portugal estão próximas do excesso de mortalidade estimado para Espanha (107 5381), superiores aos estimados para França (87 6451) e Dinamarca (1 2971), mas inferiores ao excesso estimado para Itália (184 2641).
Nos Estados Unidos da América (EUA) foi estimado um excesso de óbitos por todas as causas de 318 por 100.000 habitantes, 84 % diretamente atribuível à covid-19.
Segundo o INSA, estas diferenças podem estar relacionadas com a menor intensidade da pandemia em Portugal nas fases iniciais, mas também com diversas diferenças demográficas, sociais e de organização dos serviços de saúde e da resposta à pandemia.
SARS-CoV-2 pode ter circulado em Portugal antes de março de 2020
A diferença “mais notável” entre a Europa e os EUA, no que respeita à distribuição etária da mortalidade durante a pandemia, foi a ausência de excessos de mortalidade abaixo dos 45 anos na Europa e abaixo dos 65 anos em Portugal, acrescenta.
Dada a menor proporção de óbitos atribuíveis à COVID-19 nos grupos etários mais jovens, esta disparidade residirá, segundo a investigação, em diferenças nas mortes não-covid nos grupos etários abaixo dos 65 anos.
Enquanto em Portugal apenas se observou um aumento das causas acidentais nos períodos de menor intensidade das medidas restritivas, nos EUA observou-se um aumento em todas as causas externas ao longo da pandemia, escrevem os investigadores, admitindo que este fenómeno esteja associado ao aumento do abuso de substâncias, à ideação suicida e aumento da violência interpessoal.