Covid-19: UE encoraja Estados-membros a imporem testes a passageiros oriundos da China 341

A União Europeia (UE) encorajou esta quarta-feira (04) “fortemente” os Estados-membros a imporem testes à covid-19 antes da partida de passageiros oriundos da China, medida que deve ser mal recebida por Pequim e que já foi criticada pelo setor da aviação.

Após uma semana de negociações entre especialistas em saúde da UE, não foi alcançado um acordo para que os 27 Estados-membros adotassem restrições, mas foram decididas outras recomendações que caberá a cada país aplicar: o uso obrigatório de máscara para os viajantes provenientes da China, testes aleatórios à chegada ou mesmo o controlo de águas residuais de aeroportos e aviões provenientes da China.

Embora o organismo europeu tenha referido, em comunicado, que os Estados-membros concordaram com uma “abordagem preventiva coordenada”, parte da posição ficou aquém de um acordo total. Na decisão sobre a testagem a viajantes oriundos da China, é referido que “os Estados-membros são fortemente encorajados a introduzir, para todos os passageiros que partem da China para os Estados-Membros, a exigência de um teste covid-19 negativo realizado até 48 horas antes da partida”, cita a Lusa.

No comunicado divulgado no final da reunião do Grupo de Resposta Política Integrada a Crises (IPCR), os Estados-membros comprometeram-se ainda a “emitir recomendações aos viajantes internacionais que chegam e saem com origem ou destino à China” e ao pessoal das aeronaves e aeroportos, em relação às medidas de higiene pessoal e saúde. Este grupo também se comprometeu a continuar a monitorizar a situação epidemiológica na UE e na China, para assegurar a coordenação europeia de quaisquer medidas consideradas necessárias.

O governo chinês e especialistas em saúde europeus defenderam que não há uma necessidade urgente de restrições gerais às viagens, uma vez que as variantes da covid-19 emergentes da China já são predominantes na Europa. A China rejeitou veementemente a imposição de restrições, como as adotadas pela Itália, França ou Espanha dentro da UE, e alertou para “contramedidas” caso tais políticas fossem impostas em todo o bloco.

Na quarta-feira, a Associação Internacional de Transporte Aéreo, que representa cerca de 300 companhias aéreas em todo o mundo, juntou-se aos protestos. “É extremamente dececionante ver este restabelecimento instintivo de medidas que se mostraram ineficazes nos últimos três anos”, destacou o diretor-geral da associação, Willie Walsh.

Desde que foi tornado público o aumento dos casos de covid-19 na China, diversos membros do bloco comunitário reimpuseram o controlo de viajantes procedentes da China, embora outros, como a Bélgica, tenham optado por não exigir aos viajantes desse país a realização de um teste.

Em Portugal, o ministro da Saúde assegurou esta terça-feira que “tudo estará preparado” para, em caso de necessidade, serem adotadas medidas de controlo da covid-19 em Portugal, nomeadamente nos aeroportos para viajantes oriundos da China.

O número de casos de covid-19 atingiu um nível recorde na China continental, com um pico em 02 de dezembro de 2022 e nas últimas três semanas, a incidência diminuiu, provavelmente também devido a um mais pequeno número de testes realizados, resultando em menos infeções sendo detetadas, segundo o ECDC.

Após restrições rigorosas de viagem no auge da pandemia, a UE regressou este outono a um sistema pré-pandemia de viagens livres, mas os países-membros concordaram que um “travão de emergência” pode, se necessário, ser ativado num curto período de tempo para enfrentar um desafio inesperado.

China pede imparcialidade à OMS

A China pediu esta quinta-feira à Organização Mundial da Saúde que adote uma postura “justa” em relação à covid-19, depois de a organização ter criticado a avaliação de Pequim sobre a epidemia.

O país suspendeu sem aviso prévio no início de dezembro a maioria das suas medidas contra a covid-19, que permitiam que a sua população ficasse amplamente protegida do vírus desde 2020. Desde então, enfrentou o pior surto de casos, com hospitais e crematórios sobrecarregados.

No entanto, as autoridades relatam muito poucas mortes relacionadas com a covid-19, após uma polémica mudança na metodologia de contabilização dos casos. “Os números atuais divulgados pela China sub-representam o verdadeiro impacto da doença em termos de internamentos hospitalares, internamentos em cuidados intensivos e, principalmente, em termos de mortes”, estimou na quarta-feira Michael Ryan, responsável pela gestão de emergências de saúde da OMS, citado pela Lusa.

“Esperamos que (…) a OMS mantenha uma posição baseada na ciência, objetiva e imparcial e desempenhe um papel ativo na resposta global aos desafios da epidemia”, disse, por seu lado, aos repórteres uma porta-voz da China. Mao voltou a assegurar que o seu país partilhou “informações e dados relevantes” sobre a epidemia de covid-19 e sublinhou a “estreita cooperação” entre a China e a OMS.

A partir de agora, apenas as pessoas que morreram diretamente de insuficiência respiratória ligada à covid-19 são contabilizadas nas estatísticas chinesas. A China, que tem 1,4 mil milhões de habitantes, registou apenas 23 mortes por covid-19 desde dezembro, apesar da onda de contaminação sem precedentes há três anos no país.