Cuidados com a pele: Aconselhamento para todas as idades 1651

Os assuntos relacionados com a pele são bastante recorrentes nas farmácias. Sendo uma área onde estas unidades de saúde podem intervir com sucesso, é preciso, contudo, estar atento aos “novos ventos”, como o comércio online, que tanto pode ser uma oportunidade como uma ameaça.

A Farmácia Comunitária continua a ser o local de eleição para a abordagem de problemas não diagnosticados, nomeadamente dermatológicos, que variam muito em função da idade. Na hora do aconselhamento, existe uma panóplia de medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM) e outros produtos de saúde à disposição, sendo «fundamental que toda a equipa conheça bem as soluções apresentadas por cada uma das marcas que exista na farmácia e saiba adequar às condições especificas do utente», declara a farmacêutica Gabriela Plácido.

Além de recomendar o produto/fármaco mais indicado para a situação em causa e o seu correto uso, a equipa deve ainda alertar sobre os possíveis efeitos secundários e, se for o caso, informar como preveni-los.

A pele do bebé e da criança

As farmácias devem apresentar «uma oferta dirigida para este espectro etário, cuja pele tem características particulares: é mais fina, mais sensível e com menos capacidade de autodefesa, necessitando por isso de cuidados especiais», refere Gabriela Plácido.

Os problemas/situações mais comuns, onde se pode intervir nas farmácias, são os «cuidados gerais com a pele do bebé (hidratação regular, proteção solar), dermatite da fralda e candidíase perineal secundária, dermatite perioral, dermatite atópica, dermatite seborreica, dermatite de contacto, picadas de insetos e pequenas feridas e queimaduras ligeiras». As recomendações são especificas para cada situação, podendo «incluir medidas farmacológicas (como no caso de candidíase perineal), mas na maioria dos casos a intervenção passa por aconselhamento de medidas não farmacológicas». A farmacêutica salienta, contudo, que existem tratamentos farmacológicos para situações mais exuberantes, mas que estão disponíveis apenas como medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) ou com indicação de utilização para idade igual ou superior a 18 anos». Neste contexto, «os cuidados de higiene e a hidratação diárias, com produtos adequados à pele do bebe ou da criança (como produtos com aveia), são, sem dúvida, aspetos a sublinhar e reforçar», salvaguarda Gabriela Plácido.

Já quando em questão está o tratamento de situações especificas, como dermatites ou queimaduras, «as medidas mantêm-se, devendo ser incentivado o uso de agentes emolientes e calmantes, destacando a importância do aumento da frequência de uso diária».

Deste modo, as farmácias devem apresentar gamas de produtos que permitam dar resposta a estas necessidades, sendo que «as marcas de dermocosmética infantil presentes no mercado, associadas a alguns produtos específicos, oferecem efetivamente a solução necessária à maioria das solicitações. São frequentemente gamas extensas que incluem respostas para alívio sintomático de dermatites, picadas de insetos ou queimaduras», específica a farmacêutica. Além de uma oferta de dermocosmética de higiene e cuidados para o bebé com pele sem problemas, as farmácias devem ainda disponibilizar soluções «para peles mais sensíveis ou com problemas, nomeadamente gamas cuja composição possua tensioativos suaves e em baixa concentração, seja enriquecida com agentes hidratantes e/ou emolientes e calmantes, não tenha perfumes e conservantes», acrescenta Gabriela Plácido.

A exposição dos produtos, «em livre serviço, pode estar organizada por categorias, estando frequentemente em destaque a indicação da zona de exposição de “mamã e bebé”». No entanto, «embora talvez mais percetível para o utilizador, a distribuição dos produtos por afeção é menos utilizada, pois gera maior ruido visual em linear e desmembra a organização de marcas, por isso o modelo tradicionalmente usado de exposição por marcas, mantém-se como o mais eficiente», conclui a farmacêutica.

A pele do jovem

«Acne, infeções fúngicas, herpes labial, queimaduras solar, hiperidrose, dermatite atópica e estrias» são situações passíveis de aconselhamento na farmácia, sendo as queixas «mais comuns a acne e as infeções fúngicas (com destaque para tinea pedis ou pé de atleta)», destaca Gabriela Plácido.

No caso dos jovens, embora os cuidados de higiene e hidratação diários da pele sejam fundamentais, «a recomendação de tratamento farmacológico pode ser indispensável para o controlo e/ou resolução da afeção». Desta maneira, por exemplo, no caso da acne, «se os cuidados de higiene e hidratação diários (com produtos específicos para peles acneicas presentes na maioria das gamas de dermocosmética disponíveis) não for suficiente, existem MNSRM que podem ser recomendados (como ácido azelaico, adapaleno, adapaleno + peróxido de benzoílo e peróxido de benzoílo)», refere a farmacêutica, acrescentando que em situações de infeções fúngicas, «indiscutivelmente, deve ser feito tratamento farmacológico com antifúngicos tópicos, existindo, como MNSRM, inúmeras especialidades farmacêuticas com indicações aprovadas para esta situação».

Já no que diz respeito às infeções por herpes labial, dependendo do seu estádio, o tratamento centra-se na «recomendação de aciclovir ou penciclovir, e/ou de hidratação local para alívio sintomático. Estão disponíveis com indicação de utilização alguns dispositivos médicos, nomeadamente pensos, cujo objetivo é não apenas disfarçar as lesões como também acelerar a sua cicatrização, através de criação de um ambiente húmido».

Quando em questão estão queimaduras solares, «existem também recomendações farmacológicas quando estas são mais significativas (como trolamina, difenidramina + calamina), mas na maioria das vezes as medidas não farmacológicas com aporte de agentes hidratantes, emoliente e calmantes são suficientes», explica Gabriela Plácido.

Nas dermatites, «as recomendações seguem o exposto no caso das crianças». E, por fim, no respeitante à hiperidrose e estrias, «as soluções centram-se exclusivamente em produtos de dermocosmética específicos, como antitranspirantes ou produtos para as estrias».

Assim sendo, é importante a farmácia «possuir os produtos de dermocosmética e os medicamentos adequados a estas situações», sendo que, em termos de exposição, mais uma vez, «no geral, é feita por marca, não havendo uma categoria especifica para jovens», salienta Gabriela Plácido, acrescentando que, no que concerne «aos MNSRM disponíveis para recomendação, como é sabido, não podem estar em livre acesso, pelo que, eventualmente selecionando a(s) época(s) sazonal(ais), a farmácia pode criar uma ou duas prateleiras de linear atrás do balcão, com identificação clara da categoria/indicação dos medicamentos».

A pele do adulto e do idoso

No adulto são sobretudo «as infeções fúngicas de diferente natureza (onicomicoses, pé de atleta), dermatites, queimaduras solares, queimaduras pelo calor, herpes labial e as necessidades de correção de imperfeições da pele ou prevenção de envelhecimento» as situações em que a equipa da farmácia pode aconselhar, sendo as indicações «as já expostas (no grupo dos “jovens”)». Importa, contudo, referir que «o tratamento das queimaduras não é diferente caso se trate de queimadura solar ou pelo calor (água quente ou ferro de engomar)», salvaguarda Gabriela Plácido.

Já em relação ao tratamento da dermatite, além das medidas referidas «e nas situações de dermatite na fase aguda com importante componente inflamatória, pode recomendar-se terapêutica farmacológica, nomeadamente corticosteroides, sendo o único classificado como MNSRM-EF [dispensa exclusiva em farmácia] a hidrocortisona. Na dispensa deste medicamento, e porque se trata de um MNSRM-EF, deve ser cumprido o respetivo protocolo de dispensa», indica a farmacêutica.

Quanto aos idosos, além das situações anteriormente referidas, «acrescenta-se a hiperpigmentação, a pele seca e desidratada e o prurido». Mais uma vez, a solução centra-se «na recomendação de produtos de dermocosmética específicos, e medidas complementares (como evitar a exposição ao sol, reforçar a ingestão de líquidos e usar de forma generosa produtos hidratantes e emolientes)», aponta Gabriela Plácido.

Em situações de prurido mais intenso e incomodativo, com eventual impacto nas atividades diárias ou no descanso noturno, «além da recomendação de agentes hidratantes e emolientes, pode recomendar-se transitoriamente um anti-histamínico. A persistência do quadro clínico, apesar da terapêutica, será critério de referenciação ao médico». Gabriela Plácido alerta ainda que «quando a expressão das afeções atinge extensão corporal significativa ou apresenta sinais de maior gravidade como infeções secundárias à causa primária ou ainda em casos em que existam comorbilidades passiveis de descompensação ou complicação (como pessoas com diabetes ou imunocomprometidas), deve, igualmente, ser feito o reencaminhamento para o médico».

Perante estas possíveis situações, «é essencial a farmácia possuir os produtos de dermocosmética e os medicamentos adequados». Uma vez mais, «a organização é geralmente feita por marca», podendo-se, no relativo aos MNSRM, «criar prateleiras de linear atrás do balcão, com identificação clara da categoria /indicação dos medicamentos por época sazonal», reforça a farmacêutica.

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Dermocosmética mulher: crescimentos acima dos dois dígitos

A mulher é uma das maiores consumidoras de produtos de dermocosmética, dado que além de comprar para si, também o faz geralmente para a família.

Dados da IQVIA (Pharmascope Combined novembro 2022) relativos a produtos de cosmética para mulher, durante dois anos móveis (setembro 2020 a setembro 2022), revelam que «no negócio da Farmácia e no segmento de cosmética o mercado de produtos de beleza é o de maior peso, que equivale a cerca de 34% em valor nos últimos dois anos», refere Cristina Pimenta, marketing & retail offering manager da IQVIA.

Este mercado, ainda de acordo com a responsável, «apresenta crescimentos acima dos dois dígitos tanto em unidades como em valor nos últimos dois anos, sendo que em praticamente todos os meses de 2022 as vendas foram superiores face aos meses homólogos de 2021, denotando uma recuperação tendo em conta o período de pandemia». Já nas parafarmácias, «28% das vendas são efetuadas com produtos de beleza para mulher, mas o mercado de produtos unissexo é o que tem peso maior de 30%».

De notar, como sublinha Cristina Pimenta, que o canal Farmácia «tem um peso superior ao de parafarmácia em valor, mas menor em unidades. Deve-se a isso o facto de o preço médio em valor em farmácia ser significativamente superior, cerca de 25€ em Farmácia contra 14€ nas parafarmácias».

Há potencial de crescimento?

Em ambos os canais, «este mercado é muito maduro pelo que o potencial de crescimento passa por novas formas de vendas, nomeadamente o comércio online», indica a marketing & retail offering manager, acrescentando que «este, apesar de ter ainda um peso muito pequeno, está em forte crescimento pelo que poderá haver no futuro uma mudança de paradigma nos canais como um todo, não apenas neste mercado em concreto».

Pontos fortes e fracos

O canal Farmácia tem como ponto forte «o atendimento e aconselhamento especializado. Este facto faz com que seja um canal de maior valor e maior margem», sendo que, como indica ainda Cristina Pimenta, «num mercado de produtos de beleza os laboratórios de produtos premium apostam mais neste canal».

Em contrapartida, o ponto fraco prende-se com o facto de, «sendo estes pontos de venda “únicos”, não estão centralizados como as cadeias das parafarmácias, têm maior dificuldade em lidar com grandes ações promocionais efetuadas por as parafarmácias».

Ameaças e oportunidades

«O comércio online que está em franco crescimento, apesar de ainda ter uma expressão relativamente pequena, podendo, por isso, ser uma oportunidade se for bem implementado e aproveitado por ambos os canais». Porém, como explica Cristina Pimenta, pode também ser «uma ameaça, se ambos não conseguirem acompanhar esta dinâmica. Além do comércio online entre lojas locais, o e-commerce cada vez mais global e sem fronteiras poderá ser uma forte ameaça para este mercado onde os preços em Portugal são, de uma forma geral, mais altos do que noutros países devido, por exemplo, à diferença de taxas de IVA», conclui.
(ARTIGO ORIGINALMENTE PUBLICADO NA FARMÁCIA DISTRIBUIÇÃO #360 – DEZEMBRO 2022)