Artigo de Opinião de José Presa, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF)
Sabia que há cada vez mais pessoas com cancro no fígado? Estamos em outubro, o Mês da Consciencialização para o Cancro do Fígado. É altura de falar sobre esta doença, cuja frequência é crescente e que pode ter consequências gravíssimas, quando não detetada e tratada precocemente.
Em países industrializados, o número de casos tem vindo a aumentar, sendo cerca de 2,5 vezes mais frequente nos homens. De acordo com dados da Globocan, de 2018, em Portugal, todos os anos, surgiram 1386 novos casos de cancro do fígado, o que corresponde a 2,4 por cento de todos os cancros. Em Portugal temos assistido a um aumento do número de casos todos os anos. Com a pandemia COVID-19 acreditamos, que o número de casos venham a diminuir, com menos e mais tardios diagnósticos efetuados, com consequências devastadoras.
É o 11.º tipo de cancro mais frequente no nosso país. Representa a 7.ª causa de morte por cancro, vitimando 1372 pessoas em 2018. A sua taxa de sobrevivência a cinco anos é inferior a 10 por cento, quando diagnosticado em fases avançadas.
Na maioria dos casos o diagnóstico é feito tardiamente. É tempo de consciencializar a população para a existência desta doença e, sobretudo, de a informar acerca da importância da sua prevenção e diagnóstico precoce.
O cancro do fígado é uma doença que é prevenível, evitável, tratável e, por vezes, até curável. É crucial apostar na prevenção. Contudo, não tendo sido possível, é fundamental iniciar um tratamento atempadamente, algo que só vai acontecer se a deteção for feita em fase inicial.
Tenha um estilo de vida saudável, de forma a manter a saúde do seu fígado; esteja atento aos sinais e sintomas corpo; consulte o seu médico assistente frequentemente; e faça exames de rotina.
O fígado é um órgão essencial, que remove as toxinas do organismo e distribui e armazena os nutrientes essenciais. Tem múltiplas funções: produção de proteínas e fatores de coagulação, de colesterol e triglicéridos. É um órgão que tem a capacidade única de se regenerar a si próprio, mesmo quando danificado pelas toxinas que processa. Mas atenção: não é indestrutível!
Existem vários subtipos de cancro do fígado, mas as suas causas ainda não são conhecidas. No entanto, há vários fatores de risco, muitos deles modificáveis, que estão relacionados, sobretudo, com os estilos de vida: infeção pelos vírus das hepatites B ou C; antecedentes familiares de cancro de fígado; cirrose hepática, que pode ser causada pelo consumo abusivo de álcool; obesidade; diabetes.
A prevenção desta doença está precisamente na mudança destes fatores. Adote uma alimentação equilibrada, faça exercício físico, não beba álcool, não consuma drogas, não partilhe seringas nem outro tipo de objetos, como sejam os de higiene pessoal, vacine-se contra a hepatite B, use preservativo, lave as mãos com frequência e certifique-se de que a comida que ingere foi devidamente higienizada, conservada e cozinhada, nomeadamente se estiver em países com condições higieno-sanitárias deficitárias.
Os sintomas do cancro do fígado são comuns a muitas outras doenças. Esteja atento aos sinais seu corpo, sobretudo se tem antecedentes familiares ou comportamentos de risco, e procure de imediato um médico, com o objetivo de detetar quanto antes a doença. Quando iniciado precocemente, o tratamento é eficaz e a cura é possível.
Esteja atento aos seguintes sintomas:
• Fadiga sem razão aparente;
• Dor ou desconforto do lado direito do abdómen superior, abaixo das costelas;
• Aparecimento de uma massa do lado direito do abdómen superior;
• Dor na omoplata direita;
• Perda de apetite ou sensação de enfartamento;
• Perda de peso sem razão;
• Náuseas;
• Vómitos;
• Icterícia.
No mês de outubro e em todos os meses, cuide do seu fígado. Aposte na prevenção e na deteção e no tratamento precoce do cancro hepático. Este é um dos objetivos que integram a missão da APEF: prevenir, diagnosticar, tratar e minimizar, tanto quanto possível, as consequências do cancro do fígado.