Aconteceu esta quinta-feira o primeiro dia da 3.ª edição da Medical Cannabis Europe Conference, que se realiza na Associação Nacional das Farmácia (ANF) até esta sexta-feira. Na primeira sessão da tarde, intitulada “Market trends on cannabis products”, foram apresentadas as várias aplicações do cânhamo, para lá do intuitivo CBD.
De acordo com a especialista Giadha DeCarcer, da Ctrust, o cânhamo pode fazer parte de um vasto conjunto de setores industriais. Nomeadamente no setor alimentar, com snacks ou condimentos, mas também no que diz respeito a vitaminas, através de suplementos dietéticos. Na área do cuidado pessoal, as potencialidades também são reconhecidas em sabonetes, produtos de beleza, bálsamos, loções ou pomadas.
Além disso, o cânhamo pode ter aplicações nas indústrias automóvel, dos bioplásticos ou biocombustíveis. Do lado do têxtil, roupa, uniformes, meias e cobertores fazem parta lista de possibilidades. Finalmente, do papel à comida animal, o cânhamo mostra ser versátil além do CBD, que contribui, por exemplo, para suplementos.
O estado da arte nos cinco continentes
Com determinadas particularidades geopoliticamente justificadas, as 75 nações onde a canábis e/ou o cânhamo estão legalizadas ou descriminalizadas representam uma importante percentagem mundial, com 263 milhões de consumidores estimados globalmente. A América do Norte é, indiscutivelmente, o epicentro da rentabilidade no mercado, ao alcançar os 186 mil milhões de dólares (176 milhões de euros) no período 2018-2025.
Por outro lado, a América do Sul encontra-se na “vanguarda da reforma da legislação da canábis”, com o Uruguai a tornar-se no primeiro país a legalizar totalmente o consumo recreativo. Por um lado, países como a Colômbia ou o Panamá estão a investir na capacidade de exportação, por outro, o Brasil mantém-se como importador.
Na Oceânia, a Austrália (que tem ambições de ser um exportador global) e a Nova Zelândia (que se prepara para legalizar o uso adulto) dominam o mercado. No continente mais populoso, a Ásia, existem apenas cinco países a considerar: A China e a Índia (“importantes produtores de cânhamo”), a Tailândia (a desenvolver um programa de canábis medicinal), o Japão e a Coreia do Sul (com “oportunidades de nutracêuticos e cosméticos”).
Em África, é na região Sul que o progresso está mais presente, com a África do Sul a permitir o uso recreativo. O Zimbabué e o Lesoto legalizaram o uso médico, e a Zâmbia, a Guiné Equatorial, a Libéria e a Guiné Bissau encontram-se a explorar o cânhamo industrial e o uso medicinal. Finalmente, a Europa, já abordada no início do dia (ler artigo abaixo) apresenta a maior onda de reformas e legislação em todo o no mundo.
“Portugal está a tornar-se num dos principais hubs de cultivo de canábis na Europa”
Várias tendências de mercado
Heitor Costa, diretor de assuntos institucionais e de inovação da Apifarma, apresentou algumas das inúmeras tendências que hoje caracterizam a indústria da canábis, que “passou por uma transformação notável nos últimos anos, à medida que a legalização e a mudança de atitudes alimentaram um aumento na inovação”.
De acordo com o especialista, a Alemanha, a Suíça e os Países Baixos estão na vanguarda da legalização de produtos com canábis. Hoje, o consumidor tem à sua disposição um conjunto de produtos que oferecem “não só uma possibilidade de escolha, como aumentam o apelo pela canábis a um grupo demográfico maior”, referiu.
A diversificação de produtos com CBD, direcionados por exemplo ao desporto, a customização, a inovação tecnológica, as bebidas de infusão, a mediatização proporcionada por celebridades ou até a produção artesanal fazem parte da panóplia de tendências de mercado. Heitor Costa instou ainda a audiência a ler o business case da consultora EY Parthenon que aborda a Promoção de um Cluster de Canábis Medicinal em Portugal.