Sendo a Publicidade um discurso persuasivo, é natural que aqueles que se dedicam a ela se foquem em conseguir que a sua mensagem seja relevante para o público a que se dirige. No essencial, que seja diferente e faça diferença. Neste processo, acontece que, algumas vezes, se esquece a importância da atenção em todo o processamento da informação; e a verdade é que sem ela nada pode ser conseguido. Pense de uma maneira simples: aquele anúncio pode falar de uma marca que lhe dá um conjunto de benefícios nos quais você está muito interessado e o discurso até está especialmente adaptado a si, mas como, quando passou por ele na rua, a sua atenção estava focada, por exemplo, no cão que estava no jardim, você não o viu. Ou seja, a melhor mensagem do mundo vale muito pouco, caso não lhe dêmos a nossa atenção. E, hoje em dia, é muito provável que isso aconteça. Para se ter uma pequena ideia, saiba que, numa sociedade dita ocidental – como a nossa -, um indivíduo é sujeito, por dia, a alguns milhares de estímulos publicitários. Os valores apurados variam entre os 3.000 e os 5.000. É isso mesmo: entre o momento em que se levanta e o momento em que se deita, o caro leitor vai receber entre 3.000 a 5.000 mensagens publicitárias. Atenção, que não estamos a falar apenas de anúncios formais; inclui-se aqui a visualização de embalagens de marcas, logótipos na roupa das pessoas com quem nos cruzamos, etc. Mas não deixa de ser surpreendente, não é? Tão surpreendente como esperar que o público olhe para um anúncio no meio desta selva de distrações, caso não se faça nada por isso. Fazer algo por isso, implica perceber um pouco mais sobre como funciona o fenómeno da atenção e como ele pode (e deve) ser incluído no processo publicitário. Mas isso fica para a próxima crónica. Quem sabe, deste modo, não ganhei a vossa atenção. João Barros, Professor Convidado na Escola Superior de Comunicação Social e Investigador no Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa |