Uma equipa de investigadores descobriu como os óvulos se preparam para criar vida, compreendendo como funciona o corpo de Balbiani, uma estrutura extraordinária que organiza moléculas essenciais para orientar o desenvolvimento embrionário inicial.
A investigação, realizada com recurso a modelos de peixe-zebra e imagens de última geração, permitiu ver como esta estrutura muda de algumas gotículas de líquido para um núcleo estável, uma descoberta que revela a extraordinária precisão do processo reprodutivo da natureza.
Os detalhes do estudo, liderado pelo professor Yaniv Elkouby e pela sua equipa da Faculdade de Medicina da Universidade Hebraica e do Instituto de Investigação Médica Israel-Canadá (IMRIC), foram publicados na quinta-feira na Current Biology, noticiou a agência Efe, como informa a Lusa.
Há mais de 200 anos que os cientistas estudam o funcionamento dos ovócitos — células ováricas imaturas — necessários para o desenvolvimento embrionário, mas os mecanismos subjacentes a este processo são ainda pouco compreendidos.
O estudo baseia-se no corpo de Balbiani (Bb), uma estrutura no interior da célula que não possui membrana envolvente e cuja função é reunir e organizar moléculas importantes, como o ácido ribonucleico (RNA) e as proteínas, cruciais para a correta orientação do óvulo e desenvolvimento inicial do embrião.
O corpo de Balbiani encontra-se em muitas espécies, desde insetos a humanos, e também no peixe-zebra, um modelo animal que os investigadores usaram para conduzir o estudo, descobrir como se forma esta estrutura e obter imagens ao vivo dos ovários completos do peixe.
O estudo explica a importância de uma proteína chamada Bucky ball, que impulsiona a formação do corpo de Balbiani através da separação de fases, um processo em que as moléculas passam de dissolvidas na célula para mais condensadas, formando, por fim, uma estrutura mais estável.
Ao observarem a atividade desta proteína, mostraram que esta começa como gotículas líquidas que depois estabilizam num compartimento coeso semelhante a um sólido, uma transformação que é crucial para a estrutura e função do corpo de Balbiani, essencial para o desenvolvimento embrionário bem-sucedido.
A equipa descobriu também o papel essencial dos microtúbulos, estruturas celulares que regulam a montagem do corpo de Balbiani.
Os microtúbulos orientam o movimento dos grânulos proteicos do Buckyball, garantindo a sua organização adequada e evitando o seu crescimento excessivo, mantendo a forma e a funcionalidade do corpo de Balbiani, uma orquestração precisa que dá origem à formação de um corpo Balbiani único e intacto, elemento-chave na reprodução.
Além da reprodução e do desenvolvimento embrionário, o estudo tem implicações mais vastas.
As estruturas sólidas nas células são mais conhecidas em contextos patológicos, como os priões, que se formam irreversivelmente e danificam as células, causando doenças neurodegenerativas.
Em contraste, o corpo Balbiani é formado num contexto de desenvolvimento fisiológico de forma regulada e reversível.
“Descobrimos como o corpo de Balbiani é formado pela condensação molecular e como os microtúbulos regulam este processo. Esta descoberta ajuda a responder a questões de longa data sobre como a polaridade do ovócito e o desenvolvimento embrionário são iniciados”, explicou Elkouby.