Descoberta de português permite desenvolver fármaco contra infeções 639

Descoberta de português permite desenvolver fármaco contra infeções

15 de Janeiro de 2015

Um investigador da Universidade do Porto descobriu que uma proteína responsável por regular o ferro no organismo também protege contra infeções graves, permitindo desenvolver um medicamento importante principalmente para doentes com excesso de ferro (hemocromatose).

«Basicamente descobri o motivo pelo qual pessoas com hemocromatose morrem tão rápido [devido a infeções graves] e são tão suscetíveis, descobri que isto acontece porque estes pacientes têm deficiência de uma proteína que regula o ferro, que se chama hepcidina, e que é necessária para as pessoas saudáveis conseguirem combater a infeção», explicou hoje à agência “Lusa” João Arezes.

O investigador da Universidade do Porto considerou «interessante» o facto de ter descoberto que «uma proteína que regula o metabolismo do ferro é tão importante no contexto de uma infeção».

A partir da conclusão do trabalho, que foi divulgado quarta-feira na publicação norte-americana Cell Host & Microbe, os cientistas do grupo de João Arezes desenvolveram «um medicamento, uma proteína que tem o mesmo efeito da proteína que está em falta nos doentes».

Ao ministrar esta proteína a ratinhos com sobrecarga de ferro «conseguimos, por um lado, diminuir a quantidade de ferro e, por outro lado, proteger os ratinhos da morte após infeção», resumiu o investigador.

Esta substância foi sintetizada pelo grupo de trabalho de João Arezes, em Los Angeles, nos EUA. O que o resultado agora divulgado traz de novo é que «em ratinhos equivalentes a pessoas com hemocromatose conseguimos diminuir os níveis de ferro e, além disso, proteger contra infeções gravíssimas nos doentes através da administração deste composto», resumiu o cientista.

A hemocromatose hereditária é uma doença caracterizada por uma sobrecarga de ferro, ou seja, estes doentes têm demasiado ferro no organismo.

O ferro é essencial para várias funções no organismo, mas, quando está em excesso, é tóxico e deposita-se em vários tecidos, como o coração ou o fígado, levando ao desenvolvimento de problemas como cirroses ou cancro hepático.

Atualmente, os doentes com hemocromatose recebem o mesmo tratamento que já se faz há 50 ou 60 anos, as sangrias, que consiste em retirar sangue, que pode chegar a meio litro por semana, uma forma «não muito agradável» de retirar o ferro em excesso no organismo, descreveu João Arezes.