Descobertos mecanismos de alteração da perceção visual originados por psicadélicos 217

Um estudo recente revela um mecanismo que pode ajudar a explicar alguns dos fenómenos associados aos efeitos visuais dos psicadélicos. Neste sentido, foi encontrado um mecanismo de alteração da resolução da visão central e periférica, que explica vários fenómenos visuais como a visão em túnel (que implica a perda de visão periférica).

A investigação foi liderada pelo docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e coordenador científico do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da Universidade de Coimbra (UC), Miguel Castelo-Branco, tendo resultado no artigo cientifico Rapid effects of tryptamine psychedelics on perceptual distortions and early visual cortical population receptive fields, publicado numa revista da área da imagem cerebral, a NeuroImage.

Segundo o portal da UC, foi estudada “a ação da dimetiltriptamina (de forma inalada, com ação breve), conhecida como DMT, em diversos participantes”. Trata-se de uma substância psicadélica natural que simula os efeitos de um neurotransmissor cerebral, a serotonina (que regula o humor, a sensibilidade sensorial, o sono, o apetite, a sexualidade, a resposta ao stress, a memória e outras funções cognitivas)”.

Na alteração da perceção identificada, “o centro do campo visual pode aparecer como definido de forma muito precisa e a periferia de forma obscura e difusa”, explica Miguel Castelo-Branco, citado pelo portal da UC, acrescentando que é como se “as pessoas com ação deste psicadélico tivessem pixels maiores no cérebro visual, o que diminui a resolução, que gera, por exemplo, distorção de objetos, sobretudo na periferia”.

Através da utilização de uma ressonância magnética funcional, técnica que estuda a atividade cerebral e as alterações funcionais das regiões que processam informação visual,  os investigadores conseguiram “mapear modificações das propriedades de resposta das regiões do cérebro que respondem a estímulos visuais”, avança o neurocientista.

“A identificação de uma relação entre alterações dos mapas visuais e experiências percetuais surpreendentes, como a que aconteceu neste nosso estudo, abre as portas para relacionar alterações precisas dos mapas sensoriais com a emergência de fenómenos, como determinadas formas de alucinação incluindo alterações da perceção do espaço”, elucida Miguel Castelo-Branco.

O estudo original no contexto português – que tem como primeira autora a estudante de doutoramento e investigadora do ICNAS, Marta Lapo Pais – insere-se num trabalho de investigação que Miguel Castelo-Branco lidera, que tem procurado “estudar os mecanismos de ação dos psicadélicos, a fenomenologia da perceção, os estados mentais envolvidos, e os seus potenciais efeitos terapêuticos”, avança o neurocientista.

Pode aceder ao artigo científico aqui.