Desenvolvidos métodos para detetar droga produzida com fármacos e produtos de limpeza
27 de março de 2017 Investigadores do Porto coordenam um grupo de investigação internacional que criou métodos para auxiliar os médicos e as forças de segurança a detetar um tipo de droga que pode ser produzida em casa, com medicamentos e produtos de limpeza. Para a criação destes métodos, que permitem detetar a droga, designada por “krokodil”, no sangue, na urina e nos órgãos dos usuários, os investigadores analisaram os efeitos aditivos e tóxicos associados à desomorfina, um estupefaciente presente nessa substância, explicou à “Lusa” o investigador da Cooperativa de Ensino Superior, Politécnico e Universitário (CESPU), Ricardo Dinis-Oliveira, coordenador do projeto. Esta droga, utilizada como «uma alternativa barata à heroína», pode ser produzida em casa, «não necessitando de ser traficada», escapando assim «ao controlo das forças de segurança», referiu o coordenador desta investigação, que resulta de uma colaboração entre a CESPU e as faculdades de Farmácia e de Medicina da Universidade do Porto. De acordo com o também presidente da Associação Portuguesa de Ciências Forenses, a base de produção desta droga são medicamentos que contêm codeína (utilizada para o tratamento da tosse ou em analgésicos), possíveis de adquirir nas farmácias (com receita médica) e na Internet, e produtos de limpeza à venda nos supermercados. Para o coordenador, nenhuma substância se equipara a “krokodil”, cujos efeitos são considerados «mais fortes e rápidos» do que os associados à heroína, classificando-a assim como a droga «mais destrutiva» que existe atualmente, podendo o seu consumo levar à amputação dos membros dos usuários. Quanto às consequências imediatas desta droga, aponta o aparecimento de úlceras, necroses (degeneração de um tecido pela morte das suas células), flebites (inflamações nas paredes das veias) e gangrena, nas áreas do corpo onde a droga é injetada, bem como lesões ósseas – nas cartilagens e músculos – e alterações na pressão sanguínea e na funções cardíaca, renal e hepática. O toxicologista alerta ainda para as possíveis lesões neurológicas causadas pela “krokodil” (como alucinações, perda das capacidades cognitivas e da memória), resultando a morte dos utilizadores de múltiplas patologias, sobretudo de natureza infeciosa (como pneumonia), ou de depressão respiratória. A “krokodil” surgiu há cerca de 15 anos na Rússia, país onde o número de consumidores ascende a um milhão, tendo-se expandido para a Geórgia e a Ucrânia e, nos últimos anos, para a Bélgica, a França, a Suécia, a Espanha, a Alemanha e a Noruega. Em Portugal, segundo o investigador, a informação sobre o uso de “krokodil” «é escassa» e a sinalização desses casos «complexa», não existindo dados oficiais quanto ao número de usuários, embora algumas situações tenham sido descritas por médicos portugueses em reuniões científicas. O coordenador acredita que, por esta ser uma «droga nova», «desconhecida» para as classes médica e farmacêutica, é importante ter profissionais «melhor informados», o que pode tornar a venda de alguns medicamentos «mais criteriosa». Além dos investigadores portugueses, a equipa é composta por cientistas da Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro (Brasil), da República Checa, da Geórgia e da Holanda, inserindo-se este trabalho no âmbito de uma tese de doutoramento em Ciências Forenses. A “krokodil” e os métodos desenvolvidos para a sua deteção são exemplos de temas que vão estar em debate nas Jornadas Científicas da CESPU e no II Congresso da Associação Portuguesa de Ciências Forenses, que decorrem a 30 e 31 de março, na Alfândega do Porto. |