Desigualdade e austeridade fomentam doenças mentais 744

Dainius Pūras, relator especial das Nações Unidas para o direito à saúde física e mental, apresentou esta segunda-feira, um novo relatório sobre a doença mental. Neste estudo, explora a relação entre a saúde mental e a desigualdade.

Numa entrevista exclusiva ao diário britânico “The Guardian”, o relator concluiu que a austeridade, a desigualdade e a precariedade laboral são fatores chave para a saúde mental, ou a falta dela.

“As medidas de austeridade não contribuíram de forma positiva para a saúde mental. As pessoas sentem-se inseguras, sentem-se ansiosas, não têm um bem-estar emocional devido a esta situação de insegurança”, disse Dainius Pūras.

A austeridade afetou milhões de pessoas na Europa. No caso de Portugal, a taxa de desemprego subiu a um nível a 10,9 por cento em 2010, os rendimentos das famílias desceram cerca de sete por cento entre 2009 e 2013 e o risco de pobreza aumentou até 2015.

“As pessoas vão aos seus médicos para que lhes prescrevam medicação, o que é uma resposta inadequada”. Pūras acredita que os governos deveriam encarregar-se de tratar da pobreza e da desigualdade e que tal “melhoraria a saúde mental”.

A prescrição de medicamentos para as doenças mentais tem aumentado nas últimas décadas, sobretudo antidepressivos. Atualmente, estima-se que 970 milhões de pessoas sofram de alguma doença mental.

Pūras argumenta que a justiça social e medidas de combate à desigualdade seriam mais eficazes. “Esta seria a melhor “vacina” contra as doenças mentais e seria muito melhor do que o uso excessivo de medicação psicotrópica”, defende.

Para além de sugerir que se tome como principal prioridade reduzir as desigualdades e a exclusão social, Dainius Pūras recomenda também que se aposte em programas escolares, apoio para aqueles que passaram por experiências adversas na infância e adolescência, maior sindicalização e melhor bem-estar social.