DGS: Portugal registou três casos suspeitos de Ébola que afinal eram paludismo 29 de setembro de 2014 Portugal registou, até ao momento, três casos suspeitos de Ébola, que os diagnósticos revelaram negativos, afirmou o diretor-geral da saúde, admitindo a hipótese da infeção chegar ao país, mas «nunca comparável» à que afeta a costa ocidental africana. «Não temos e não teremos uma atividade epidémica em Portugal de forma alguma comparável à situação» que existe na Guiné Conacri, Serra Leoa e Libéria. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o vírus já provocou mais de 2.900 mortos, em cinco países da África ocidental. «Em Portugal, admitimos a hipótese de um, dois, três doentes poderem entrar no nosso país depois de terem estado nos últimos 21 dias numa zona afetada e durante nesse período de incubação viajarem e puderem declarar a doença no nosso país», disse Francisco George, em entrevista à agência “Lusa”. Estas três situações foram investigadas «sobretudo por razões de precaução», mas tratavam-se de casos de paludismo. «Os riscos eram muito baixos em termos de suspeição, mas entendemos que era preciso testar o próprio dispositivo que foi criado», disse. A estrutura envolve a Direção-Geral da Saúde (DGS), o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) e os hospitais de referência: Curry Cabral e Dona Estefânia (para as crianças), em Lisboa, e São João, no Porto. Neste dispositivo participa ainda a Direção Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros, «porque é em África, onde residem portugueses, que está o problema», acrescentou. Até ao momento, acrescentou, «não existe indicação de qualquer português que tenha adoecido nesses países, até porque são poucos os cidadãos que residem na Libéria, Serra Leoa ou Guiné Conacri». «Naturalmente que estamos preocupados com essa situação», adiantou, lembrando que há vários cenários possíveis para socorrer os portugueses que sejam infetados nesses países. As «melhores medidas de tratamento» terão de ser disponibilizadas, o que poderá ser feito de duas formas. «Há duas hipóteses: ou tratá-los num centro de excelência num hospital montado para tal, na Serra Leoa e na Libéria, como os ingleses preferem, ou assegurando o transporte de cidadãos para o país de origem, como defendem os franceses». Esta última hipótese acarreta mais riscos, «porque o doente vem em condições que podem descompensar a sua situação», disse. Francisco George garante que a resposta portuguesa está preparada e é, para já, suficiente. «Temos equipas pequenas, muito bem tratadas, que fazem frequentemente exercícios de simulação, e estão treinadas para ir ter com o doente, isolá-lo e transportá-lo em via verde até ao hospital de referência. Temos 37 quartos de pressão negativa, com todas as condições, onde os médicos e enfermeiros se protegem com equipamentos de nível IV (de maior rigor de proteção)». Depois de confirmada a doença por análises no INSA, acrescentou, o doente «será tratado para o sistema imunitário vencer o vírus do ébola». O princípio desta resposta é tratar o doente infetado e evitar que este transmita o vírus a quem não tem a infeção. Casos suspeitos serão internados mesmo contra vontade do doente As autoridades irão internar para tratamento as pessoas com critérios clínicos e epidemiológicos que as classifiquem como casos suspeitos de doença por vírus do Ébola, mesmo que essa não seja a sua vontade, revelou o diretor-geral da Saúde. Em entrevista à agência “Lusa”, Francisco George sublinhou que «é preciso salvaguardar o interesse público, que é um valor maior». Em nome do interesse público, as autoridades irão garantir o internamento de todas as pessoas que apresentem critérios que os definam como casos suspeitos. Estarão nesta situação as pessoas que, se estiveram nos últimos 21 dias num país afetado pela epidemia por vírus Ébola ou em contacto com um doente com infeção pelo vírus e apresentar febre superior a 38ºC de início súbito. Questionado sobre a hipótese do doente considerado suspeito recusar o internamento, Francisco George disse que essa é uma questão que «não se põe». «Mesmo que não sejam observados os princípios constitucionais que estipulam essas garantias individuais, neste caso, nós não vamos observar essas garantia». «Seguramente que todos os tribunais deste país iriam compreender», adiantou. Para o diretor-geral da Saúde, em Portugal «há um risco muito baixo» da infeção chegar. «O grande problema está na costa ocidental de África, mais precisamente, em termos de risco, na Guiné Conacri, na Serra Leoa e na Libéria», sublinhou. «São estes países onde a epidemia está sem controlo. Há aqui um grande risco, mas fundamentalmente nestas regiões», acrescentou. Para Francisco George, «esta epidemia é dramática». «Estamos perante um problema como não era admitido que viesse a acontecer, desde sempre. Estamos perante uma situação de grande gravidade, mas não em toda a África». «É um drama. Não sabemos neste momento antecipar o que irá acontecer nos próximos meses», disse. Especialistas portugueses querem combater, mas riscos são grandes Uma dezena de especialistas de saúde portugueses ofereceu-se para ir para as regiões onde a infeção do vírus Ébola é mais grave, mas o diretor-geral da Saúde considera que os riscos «são muito elevados». Em entrevista à Agência “Lusa”, Francisco George revelou que existe uma «bolsa de candidatos prontos para ir para essas regiões» onde a infeção do Ébola está ativa, nomeadamente Guiné Conacri, Serra Leoa e Libéria. «Não podemos correr riscos. Não podemos expor, nem a população, nem o pessoal médico, o pessoal sanitário, incluindo enfermeiros, a riscos. Por isso é que não queremos envolver todas as estruturas de proteção civil nesse processo», disse. Portugal optou por ter preparadas «poucas equipas, muito bem treinadas e protegidas». «No início da epidemia em África morreram 150 médicos, dos americanos que estudaram o vírus, cinco morreram, outros estão muito doentes num centro especializado, em Atlanta. O risco maior, para além dos familiares, é para o pessoal de saúde. Temos de ter em atenção as condições de segurança, de apoio, mas também de evacuação, se estes adoecerem», lembrou. Francisco George defende, nesta fase, a organização de estruturas organizadas «num contexto da União Europeia para assegurar níveis de proteção elevados para quem se desloca para essas operações, que são de grande risco». «Temos enviado o que nos pedem. Enviámos uma equipa do Instituto [Nacional de Saúde Dr.] Ricardo Jorge a São Tomé, a pedido das autoridades desse país, enviámos equipamentos e medicamentos para a Guiné-Bissau, respondemos a pedidos de Moçambique e de Cabo Verde», referiu. O diretor-geral da Saúde garante que Portugal está pronto a «dar apoio a todos os países», revelando que, «no contexto na epidemia na costa ocidental africana, as estruturas que dependem da União Europeia e o Ministério dos Negócios Estrangeiros português, envolvendo também a Proteção Civil, estão a equacionar formas de apoio, mas a situação é muito difícil». «Os portugueses não podem deixar de ficar preocupados com esta situação africana. Têm de estar alertados, embora não alarmados. Temos de ter confiança nas nossas estruturas, temos de saber que há conhecimentos de caráter científico, e ter esperança de medicamentos que possam surgir e que têm estado a ser preparados nas últimas semanas», adiantou. |