A rinossinusite crónica é uma doença inflamatória crónica da mucosa das fossas nasais e dos seios perinasais, que se manifesta por obstrução nasal, rinorreia (corrimento nasal), sensação de pressão ou cefaleia facial e hipósmia (diminuição do olfato). Apesar da prevalência reportada na população ser de cerca de 12%, pensa-se que a desvalorização dos sintomas e a ausência de procura de cuidados médicos levem a um subdiagnóstico e subtratamento desta doença.
É importante reconhecer que o quadro de obstrução nasal e rinorreia associado a um processo infecioso agudo não é expectável que dure mais que três semanas. Por isso, a persistência de tais sintomas, sobretudo quando associados a diminuição do olfato, deve motivar os doentes a procurar uma consulta de otorrinolaringologia para observação direta da mucosa nasal.
A endoscopia nasal (observação de toda a cavidade nasal com uma câmara) é um componente essencial na avaliação dos doentes com queixas sugestivas de rinossinusite crónica. É relativamente indolor e rápido (demora cerca de 2 minutos). A observação de pólipos ou pus na região dos meatos médios (zona de drenagem dos seios perinasais) faz o diagnóstico e permite caracterizar a doença como polipoide e não polipoide, o que vai influenciar a abordagem terapêutica dos doentes.
Os pólipos nasais são o resultado da acumulação de líquido inflamatório dentro de mucosa cronicamente inflamada e a sua presença está associada a uma maior probabilidade de perda olfativa e a uma doença mais agressiva. Os pólipos nasais estão mais frequentemente associados a asma, alergia aos anti-inflamatórios não esteroides e outras alergias.
O tratamento dos doentes com rinossinusite crónica com pólipos inicia-se com lavagens nasais e corticoide nasal (sob a forma de spray), podendo haver a associação a um anti-histamínico se houver suspeita ou confirmação de contribuição alérgica. A avaliação sintomática e endoscópica de seguimento após cerca de 2 meses de tratamento demonstra na maioria dos casos alterações positivas relevantes, sendo o tratamento de segunda linha sugerido em casos com fraca resposta ao tratamento. Poderão ser tentados ao longo do seguimento em consulta de otorrinolaringologia pequenos cursos de corticoide sistémico, antibióticos ou antifúngicos, embora a evidência não seja tão robusta. A cirurgia endoscópica nasossinusal é proposta em casos de difícil controlo sintomático e tem os objetivos de remover pólipos, abrir os seios perinasais, drenar secreções retidas e sobretudo aumentar a área de penetração da solução de lavagem e de corticoide tópico, de modo a evitar que a doença polipoide retorne de forma relevante. Além de eficaz, é relativamente segura quando realizada por cirurgiões com experiência. A cirurgia não implica cicatriz e não exige tamponamento nasal, pelo que pode ser feita em ambulatório.
Além disso, recentemente, surgiu um tratamento de última linha para casos de doença recorrente e severa e após cirurgia endoscópica nasossinusal otimizada: o anticorpo monoclonar dupilumab está indicado em doentes com rinossinusite crónica com pólipos, cirurgia prévia, anósmia, necessidade de corticoide sistémico recorrente, asma e afeção relevante da qualidade de vida. É um medicamento seguro, com administração bimensal subcutânea e em ambulatório e com uma taxa de resposta impressionante, com regressão rápida dos pólipos e restabelecimento da sensação olfativa mesmo em doentes que reportam não sentir cheiros há vários anos. O processo de prescrição é linear e está disponível se bem fundamentada na maioria dos serviços de otorrinolaringologia dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde.
Filipe Correia
Médico Otorrinolaringologista
Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental
Hospital da CUF Tejo / Hospital da CUF Sintra