Diagnóstico correto de alergia a antibióticos pode poupar 1,5M de euros/ano 731

Diagnóstico correto de alergia a antibióticos pode poupar 1,5M de euros/ano

 


18 de maio de 2018

Investigadores do Cintesis concluíram que um correto diagnóstico de alergia às penicilinas permitiria uma diminuição de 3.863 dias de internamento e uma poupança de cerca de 1,5 milhões de euros por ano, em Portugal.

Segundo este estudo, realizado no Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde – Cintesis, a que a “Lusa” teve hoje acesso, «apenas uma minoria destas eventuais alergias às penicilinas – incluindo a amoxicilina, o antibiótico de primeira linha num grande número de infeções – foi devidamente confirmada».

«Após um estudo diagnóstico adequado, apenas um em cada dez dos doentes é realmente alérgico», afirmam os autores do trabalho.

O estudo analisou dados da Administração Central do Sistema de Saúde referentes a todas as hospitalizações ocorridas em hospitais públicos portugueses entre 2000 e 2014, tendo comparado todos os episódios ocorridos em doentes com registo de alergia à penicilina (102.872 hospitalizações) com igual número de doentes com características demográficas e clínicas similares, mas sem registo de alergia à penicilina.

O objetivo era perceber se existiam diferenças no que se refere, por exemplo, à duração do internamento e aos seus custos.

Os resultados indicam que os doentes supostamente alérgicos à penicilina representam um custo médio por hospitalização significativamente maior.

No total, as hospitalizações nestes doentes ultrapassaram os 325 milhões de euros, o que significa mais 9% do que os custos do igual número de doentes sem indicação de alergia.

Os investigadores salientam que «em alguns daqueles doentes, nomeadamente pacientes mais jovens com condições mais graves, os custos foram 27% mais elevados».

«Feitas as contas, em 15 anos, as hospitalizações de doentes com indicação de alergia à penicilina custaram um encargo adicional de cerca de 27 milhões de euros», sublinham.

Além disso, acrescentam, o tempo de hospitalização dos doentes com registo de alergia à penicilina é quase 10% maior, totalizando um excesso de mais de 64.000 dias ao longo destes 15 anos.

Em doentes mais graves, esta rotulagem traduziu-se «num aumento de quase um quarto a metade do tempo de internamento, consoantes as idades fossem acima ou abaixo dos 30 anos», afirmam.

Os doentes etiquetados como alérgicos à penicilina apresentam ainda um maior número de infeções por agentes resistentes a fármacos, com destaque para uma frequência significativamente maior de infeções do trato urinário e da pele.

De acordo com Bernardo Sousa Pinto (primeiro autor), «existem claramente muitas pessoas com falsos diagnósticos de alergia a antibióticos da família das penicilinas, cujas consequências, em termos clínicos e de serviços de saúde, podem ser graves».

«Desde logo, estes doentes são tratados com antibióticos de segunda linha, que são menos eficazes e comportam um maior risco de resistências do que as penicilinas. Além disso, são mais caros, relacionando-se ainda com um maior número de reinternamentos», sublinha o investigador.

Assumindo que apenas um em cada dez dos doentes registados como alérgicos à penicilina é realmente alérgico, o investigador estima que «retirar esse rótulo aos restantes doentes hospitalizados resultaria numa diminuição anual de mais 3.863 dias de internamento e numa poupança de mais de 1.5 milhões de euros em despesas hospitalares».

Bernardo Sousa Pinto, que tem vários estudos nesta área, defende, por isso, a necessidade de obter uma história clínica estruturada e, quando possível, a realização de testes de confirmação, nomeadamente provas de provocação, para estabelecimento do diagnóstico de alergia às penicilinas.

Esta investigação foi realizada por Bernardo Sousa Pinto, António Cardoso-Fernandes, João Fonseca, Alberto Freitas, Luís Araújo e Luís Delgado, do Cintesis – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.

O artigo foi publicado no jornal “Annals of Allergy, Asthma & Immunology, órgão oficial do American College of Allergy, Asthma & Immunology”.