Diretores clínicos dos hospitais responsabilizados pelas falhas das VMER
09-Abr-2014
Os diretores clínicos dos hospitais vão passar a ter a responsabilidade direta pela coordenação e organização das escalas das Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER), anunciou esta quarta-feira o secretário de Estado adjunto da Saúde, Fernando Leal da Costa.
«Até ao fim desta semana, iniciarei um processo de carácter normativo que determinará que a coordenação das VMER passe a ser feita de forma integrada com a direção da urgência, estando na dependência directa do director clínico do hospital», adiantou Leal da Costa, no fórum da “TSF”, ao mesmo tempo que lamentava o que considerou ser uma campanha de desinformação em curso sobre o sistema de emergência médica.
Trata-se de uma «irresponsabilidade» que está a criar «angústia injustificada» na população, sustentou o governante, que defende que o serviço do INEM é excelente e sublinha que, apesar de por vezes as VMER estarem inoperacionais, estão sempre disponíveis outros meios de socorro. Em 2013, recordou, o INEM formou 690 profissionais e, destes, mais de quatro centenas eram médicos, por isso os hospitais vão ter que colocar nas escalas das VMER todos os que têm formação para tripular estas viaturas.
Respondendo ao bastonário da Ordem dos Médicos, que terça-feira afirmou que o valor cada vez mais baixo que é pago aos profissionais das VMER é uma das principais justificações para a inoperacionalidade de algumas viaturas, Leal da Costa acentuou que o valor médio /hora pago a um médico é de 24,19 euros.
«A afirmação de que o pagamento é insuficiente para os médicos e [que] é por isso que não trabalham é falsa», disse. «Acima de tudo, não posso aceitar a ideia de que os médicos são mercenários cujo trabalho depende apenas do que se paga. É uma afirmação infeliz que não fica bem a um dirigente de uma associação que devia preocupar-se com a credibilização dos profissionais».
O bastonário da Ordem dos Médicos reclama uma tabela única, a nível nacional, de pagamento aos profissionais das VMER mas também nova legislação sobre tempos de resposta. «A rede de resposta em emergência médica tem de ser estudada e deve passar a existir uma lei que defina os tempos máximos de resposta e espera. A nível internacional isso está definido. O socorro a uma situação de emergência não deve demorar mais de 15 minutos segundo os parâmetros internacionais. Mas em Portugal isso não está definido», adiantou ainda ao “Público”. E rematou: «Tem de existir uma lei que o defina para que se acaba com esta mentalidade portuguesa do andar sempre a desenrascar. Estamos a falar de vidas humanas. O tempo máximo pode ser diferente por motivos geográficos em regiões diferentes, mas deve ser tendencialmente igual em todo o país».
Entretanto, para minorar o problema da inoperacionalidade de algumas VMER, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) avançou esta quarta-feira com a proposta de que estas viaturas passem a contar com enfermeiros e médicos também dos centros de saúde, para contornar as faltas das tripulações que actualmente são apenas asseguradas pelos hospitais. Esta posição vai ser defendida numa reunião que a liga tem marcada com o presidente do instituto Nacional de Emergência Médica, avançou Jaime Marta Soares, presidente da LBP.
A proposta da LBP visa evitar situações como a que ocorreu no domingo em Évora, quando a VMER do hospital da cidade não pode sair para socorrer duas vítimas de um acidente perto de Reguengos de Monsaraz, porque o médico escalado faltou. «A liga defende que os médicos e os enfermeiros podem ter a sua formação e depois fazer um curso rápido de socorrismo. Os bombeiros foram-se especializando porque o país precisa», sublinhou Jaime Soares. «Isto não é um problema só de Évora. Há muitas carências, sobretudo no interior do país. Estes profissionais teriam de ter formação especifica para emergência médica, mas no caso deles seria de fácil administração. São profissionais de saúde altamente qualificados. Porque não até fazer uma escala de serviço para VMER entre estes médicos e enfermeiros do centro de saúde? Mesmo quando não estão de serviço ao centro. Fora do horário de trabalho», sugere o presidente da LBP.
Porém, o bastonário da Ordem dos Médicos não concorda. «A solução que a liga de bombeiros propõe não é viável. Mais uma vez, tenta-se usar um remendo em vez de uma solução. O trabalho pré-hospitalar tem de ser desempenhado por profissionais qualificados especificamente para isso. Têm de ser médicos com formação, perfil e vocação e nem todos têm esse vocação. Pegar num médico de um centro de saúde de repente para ele entrar numa ambulância e deixar todos os seus doentes à espera durante horas não lembra a ninguém e não é solução. Não conheço centros de saúde em que os médicos estejam sem fazer nada de pernas cruzadas», argumenta José Manuel Silva.