Autores:
Nuno Flora,
Presidente Executivo da ADIFA
Gonçalo Chasqueira,
Gestor de Projeto da ADIFA
A vacinação é uma das maiores conquistas da ciência em prol da saúde pública. Através das campanhas de vacinação, é possível prevenir doenças, erradicar surtos e salvar vidas. A eficiência da distribuição farmacêutica é crucial para que essas vacinas cheguem no momento certo e nas condições ideais aos pontos de vacinação, assegurando a integridade e a eficácia das doses administradas.
Neste contexto, destaca-se o papel essencial dos distribuidores farmacêuticos na garantia da cadeia de vacinação. Muito além de um simples processo logístico, a distribuição de vacinas envolve uma infraestrutura sofisticada e um compromisso inegociável com a segurança e a qualidade dos produtos desde a sua receção, ao correto armazenamento e transporte até ao local de administração.
Distribuição farmacêutica: uma rede vital e estratégica
A cadeia de distribuição farmacêutica, mais do que uma etapa intermediária entre fabricantes e centros de vacinação, é uma rede estratégica que conecta intervenientes com diferentes necessidades, sempre com a responsabilidade de garantir que cada dose é entregue no seu destino final nas condições adequadas.
Desde 2007, com a consagração legal da prestação de serviços nas farmácias comunitárias, onde se inclui a administração de vacinas não incluídas no PNV, os distribuidores farmacêuticos estiveram disponíveis desde a primeira hora para colocar a sua capacidade instalada ao dispor das farmácias, garantindo o estreito cumprimento das Boas Práticas de Distribuição de Medicamentos de Uso Humano.
O transporte de vacinas é altamente sensível e, como tal, a gestão rigorosa da cadeia de frio requer uma monitorização constante e planos de contingência e gestão de qualidade para evitar qualquer quebra que possa comprometer a integridade dos produtos. Nos últimos 17 anos, os distribuidores farmacêuticos têm vindo a garantir a entrega de vacinas através dos mais de 600 veículos especializados e das 26 plataformas logísticas localizadas em todo o território nacional. Esta operação implicou um reforço nas infraestruturas de armazenamento, bem como a utilização de tecnologias avançadas e a capacitação contínua de equipas multidisciplinares para assegurar o cumprimento das boas práticas.
O compromisso dos distribuidores farmacêuticos com os Programas e Campanhas de Vacinação Sazonal
O compromisso dos distribuidores farmacêuticos vai além de garantir que as vacinas chegam ao seu destino. É, acima de tudo, um compromisso com o sistema de saúde e com a população portuguesa, motivo pelo qual têm vindo a apoiar, em estreita colaboração com os parceiros públicos e privados, várias campanhas de vacinação desde 2018.
Tomemos como exemplo os projetos-piloto da vacinação sazonal em Loures, que permitiram a vacinação gratuita da população com mais de 65 anos contra a gripe, nas farmácias dessa região entre 2018 e 2019. Este foi um importante ponto de partida para demonstrar a capacidade e resposta dos distribuidores farmacêuticos às necessidades da população. Entre 2020 e 2022, os distribuidores foram desafiados a participar nas campanhas de vacinação sazonal do SNS a nível nacional, assegurando a entrega de mais de 300 mil vacinas contra a gripe em 2400 farmácias.
Fruto da experiência adquirida, a intervenção dos distribuidores farmacêuticos tem aumentado nos últimos anos e 2023 representou um marco importante para o setor. A publicação da Portaria que regula o modelo de funcionamento da Campanha de Vacinação Sazonal contra a Gripe e a COVID-19 nas farmácias tornou possível formalizar a integração de diferentes parceiros no Grupo Operacional da Vacinação Sazonal (GOVS), liderado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
Essa colaboração interinstitucional permitiu a definição clara dos papéis e responsabilidades de cada interveniente no circuito logístico e a sua operacionalização resultou na entrega de mais de 3,1 milhões de doses pelos distribuidores farmacêuticos, o que possibilitou a imunização de mais de 3 milhões de portugueses nas farmácias, cerca de 69% do total de vacinas administradas a nível nacional.
Este ano, está previsto que as cerca de 2500 farmácias portuguesas sejam abastecidas com 3 milhões de doses de vacinas contra a Gripe e a COVID-19, para utentes entre os 60 e os 84 anos.
Desafios e oportunidades futuras
Apesar dos avanços, a cadeia de distribuição farmacêutica enfrenta desafios contínuos que precisam de ser abordados para garantir a resposta adequada a oportunidades futuras.
Um dos principais é a gestão da cadeia de frio, cada vez mais crítica à medida que novas vacinas e medicamentos altamente sensíveis são introduzidos no mercado. Tecnologias inovadoras e mais robustas que permitam a monitorização e controlo da temperatura durante todo o tempo de permanência do produto na cadeia de abastecimento, com visibilidade para o profissional de saúde que efetua a dispensa do medicamento, serão progressivamente implementadas para garantir a integridade dos produtos em cada etapa da logística.
Adicionalmente, com o enorme sucesso das campanhas de vacinação, a ADIFA defende que se deve implementar este modelo de distribuição para mais vacinas incluídas no Plano Nacional de Vacinação e outras intervenções, como é o caso dos rastreios.