Doentes com VIH com dificuldades de acesso a tratamentos, alerta Centro Anti-Discriminação 1265

O Centro Anti-Discriminação (CAD) recebeu, no ano passado, mais de cem queixas de infetados com VIH, grande parte relacionada com dificuldades de acesso a tratamento.

Entre 2011 e 2018, o CAD «recebeu mais de 500 queixas, sendo que, só no ano passado, foram mais de cem», explicou à agência “Lusa” Ana Duarte, da Ser+, uma das associações do CAD. A maioria das situações (77 queixas) estava relacionada com dificuldades de acesso ao tratamento.

Há doentes que chegam às farmácias hospitalares para levantar os medicamentos para três meses de tratamento, mas recebem apenas a quantidade para um mês de tratamento ou até menos, segundo Ana Duarte. «Há pessoas que têm de ir ao hospital de 15 em 15 dias» para levantar os fármacos, disse, acrescentando que em alguns locais os farmacêuticos «abrem uma caixa e dão apenas algumas lamelas porque dizem que uma caixa tem de dar para vários utentes».

Ana Duarte recordou a legislação que define que devem ser dispensados medicamentos suficientes para garantir, no mínimo, três meses de tratamento e alertou que existem muitas pessoas infetadas que vivem longe dos hospitais.

Como informado pela fonte, do lado dos hospitais as justificações para tal varia entre «a necessidade de gerir o ‘stock’ suficiente» e «questões financeiras», porque «a medicação retroviral é muito cara e têm de ir comprando pouco para ter liquidez financeira».

O CAD considera que faltam políticas adequadas que permitem que se mantenham situações que «violam direitos fundamentais das pessoas que vivem com VIH».

Entre 1983 e 2017, foram diagnosticados quase 58 mil casos de infeção por VIH, dos quais mais de 22 mil atingiram o estádio de sida, com ocorrência de mais de 14.500 mortes. Houve um aumento gradual de novos casos entre 1983 e 1999, ano que registou o maior valor acumulado, observando-se a partir daí uma tendência de diminuição anual. O último relatório “Infeção VIH e sida” mostra que, em 2017, surgiram 1.068 novos casos de infeção por VIH em Portugal, sendo o grupo etário entre os 25 e os 29 anos o que teve a taxa mais elevada de novos diagnósticos.

Em 2017 morreram 261 pessoas com VIH, 134 delas em estádio sida. A idade mediana à data da morte foi de 52 anos, segundo o último relatório do Instituto Ricardo Jorge.