Doentes novos em lista de espera por um rim duplicaram 549

21 de Setembro de 2015

No final de 2014, existiam 1.970 doentes a aguardar por cirurgia. Subida de casos relacionado com a decisão de se querer fazer transplantes mais cedo, evitando diálise.

O número de novos doentes em lista de espera por um rim quase duplicou no ano passado. Segundo a Newsletter Transplante de 2015, que analisa a atividade da transplantação em todo o mundo, em 2014 foram colocadas em lista de espera pela primeira vez 609 doentes (no total são 1.970), quando em 2013 tinham sido 320. Uma subida de necessidades que fez aumentar também o número de pessoas em diálise (12.085 no ano passado). Ana França, coordenadora nacional da transplantação do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), explicou ao “Diário de Notícias” que há um aumento de doentes com insuficiência renal, mas também «se tem procurado incluir mais cedo os doentes em lista de espera».

«Portugal, a par da Turquia, é o país que tem o maior índice de novos doentes. Talvez devido à dieta pouco restritiva em sal e à falta de prevenção». A diabetes, que está muito associada à insuficiência renal, também afeta um número recorde de portugueses. O envelhecimento da população motiva esta subida de doentes e de necessidades, mas Ana França acredita que as alterações nos critérios para transplante também foram responsáveis pela duplicação de doentes.

«Hoje, o doente que entra em diálise tem indicação para entrar logo em lista, porque há um alerta para incluir logo. Pretende-se transplantar o mais cedo possível e evitar que se percam oportunidades. Além disso, sabe-se que há mais vantagens até em transplantar antes de se iniciar a diálise», sublinhou a responsável. Em 2014, estavam a fazer diálise 12.085 doentes crónicos, tendo havido mais 374 utentes do que os 11.709 de 2013. Ainda assim, a lista de espera global para transplante no final do ano aumentou apenas em 60 doentes, de 1.910 para 1.970. «Muito devido à idade, porque têm infeções ou complicações e acabam por ir saindo da lista de forma temporária. Outros nem sequer são elegíveis para o transplante».

A newsletter do Conselho da Europa coloca Portugal em quarto lugar na colheita de órgãos e em décimo na transplantação, longe dos máximos atingidos em 2009, mas ainda assim revela uma melhoria em relação a 2011 e 2012. Neste ano, morreram 81 doentes que estavam à espera (43 de rim), embora muitas vezes por outras razões. A área renal depara-se com vários problemas. Além do aumento de doentes, há um menor aproveitamento dos órgãos colhidos, por terem hoje menos qualidade.

Menos rins com qualidade
Se Portugal já liderou a transplantação renal com dador cadáver, hoje está em nono na União Europeia e cai para 13.º lugar quando se incluem os transplantes com dador vivo.

Ana França justifica que, apesar de existir um esforço para haver mais colheita, a idade do dador, que tem subido, afeta a qualidade dos órgãos. «O dador habitual tem mais de 60 anos, problemas de AVC ou aterosclerose, que afetam os rins e a própria irrigação dos mesmos, daí que 15% dos rins fiquem por aproveitar». A dádiva em vida é ainda muito baixa, o que justifica que haja 13 países europeus à frente e 27 em todo o mundo. “A doação em vida e em paragem cardiocirculatória têm contribuído para que muitos países aumentem os transplantes. «Além do início da colheita em vida, espera que a realizada em coração parado possa reforçar a atividade. Para já, apenas o Hospital de São João está em fase avançada neste processo».

Transplantes em 10º lugar
A Espanha lidera a lista de transplantação em que Portugal surge como o 10.º país da União Europeia, ficando em 12.º em todo o mundo. Com uma taxa de 69,7 transplantes por milhão de habitantes, é ultrapassado, por exemplo, pela Holanda, Reino Unido, República Checa, Croácia, Noruega e EUA. A explicação não é a falta de colheita em Portugal, mas sim o sucesso de outros países. «Há quem se tenha desenvolvido muito nesta área de uma forma que nós não acompanhamos», frisa Fernando Macário, presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação.

No primeiro semestre, tal como o “DN” noticiou, houve uma colheita de órgãos que foi a melhor de sempre, «e em a gosto essa tendência foi confirmada e até melhorou», segundo Ana França. Na newsletter deste ano, há outros indicadores analisados, desde logo em relação a outros órgãos. Nos transplantes de fígado e pâncreas, Portugal conseguiu ficar em quinto lugar. No primeiro, «essa subida deverá ter que ver com o facto de termos dois centros a transplantar e mais doentes a precisar, por se tratar de diabetes».