Duarte Santos: “Queremos devolver às farmácias a capacidade de sonhar” 2513

A menos de 20 dias das eleições para os novos órgãos sociais da Associação Nacional das Farmácias, Duarte Santos, líder da Lista A, que se candidata ao cargo de presidente da direção, falou ao Netfarma sobre os motivos que o levam a entrar na corrida. Não deixando de tecer algumas considerações sobre o mandato que agora cessa, da sua adversária Ema Paulino, antevê o que pretende fazer, caso as farmácias lhe atribuam um voto de confiança.

Porque é que decidiu candidatar-se à presidência da direção da ANF?

Candidato-me porque acredito que a associação está a atravessar uma grave crise, está distante das farmácias e a atual equipa, os atuais órgãos sociais, não são capazes de promover um ambiente que fomente a união. Esta é, no fundo, a razão pela qual a Associação Nacional das Farmácias foi criada e é aquilo que representa. Candidato-me com uma equipa altamente representativa das farmácias, com uma visão de pessoas provenientes de diferentes realidades do país, com diferentes experiências profissionais e de vida. A nossa candidatura tem o lema “Unidos pelas Farmácias” e é sobretudo por isso que me candidato. A ANF é uma organização forte que está a fazer 50 anos e é o que é porque representa, federa e mobiliza 95% das farmácias no nosso país. Foi um mandato [anterior] marcado por discussões turbulentas, pedidos de demissão e um ambiente promotor do conflito. Penso ser fundamental que apareça uma solução, que é a nossa, capaz de agregar diferentes visões, diferentes gerações, diferentes experiências de vida ao serviço das farmácias. Só assim é que a associação será efetivamente a organização forte que as farmácias precisam que ela seja. Essa é a grande razão pela qual me candidato e quero promover a união.

Acredito também que a nova estrutura diretiva tem de ser capaz de resolver os problemas da ANF, os problemas associados ao universo empresarial, mas tem de ter, acima de tudo, o seu foco nos problemas das farmácias. E aqui, parece-me, também não tem sido feito aquilo que é fundamental. Temos de focar-nos no reforço da união, nos problemas e na economia das farmácias, bem como nas soluções para uma associação mais ágil, mais eficiente e mais independente.

Sobre o ambiente turbulento que referiu, pretende concretizar? Que podemos esperar da sua candidatura para resolver essa situação?

Vivemos claramente num ambiente de conflito e basta que as farmácias assistam a um Conselho Nacional, ou a uma Assembleia Geral, para perceber do que é que estamos a falar. São apenas momentos que traduzem o dia a dia que os atuais órgãos sociais têm promovido, na sua intervenção, ao longo do último mandato. Foi um mandato marcado por um espírito de conflito, promotor da divisão e não da união, e os exemplos são claros. Existe uma total falta de solidariedade e há incapacidade para ouvir e respeitar opiniões diferentes. Foi um mandato marcado, diria que não deve haver outro na história da ANF, por dois pedidos de demissão, um da Mesa de Assembleia Geral e outro da Direção. Existiram moções de censura, viveu-se um ambiente de total discussão e existem várias evidências. Quando uma direção não é capaz de promover um ambiente de união no seio dos órgãos sociais, como é que nós podemos acreditar que esta equipa é capaz de promover a união no setor? Isto, para mim, é óbvio. É muito importante termos farmácias sólidas, com novas responsabilidades e que estejam suportadas por um bom modelo económico. Queremos devolver às farmácias a capacidade de sonhar com um futuro que seja mais positivo. Isso não é possível com uma associação nestas condições. Vamos refundar o espírito da ANF e estar mais próximos das farmácias, através dos nossos órgãos sociais. Respeitaremos e vamos promover o papel da estrutura associativa e dos membros do Conselho Nacional, de forma diferente daquilo que é feito pela atual direção. Queremos estar com todas as farmácias, conhecer a sua visão sobre os problemas do dia a dia e sobre o que querem da sua associação. Temos de levar a cabo uma reestruturação da ANF que vá ao encontro das expetativas dos associados. E queremos também fomentar um espírito em que todos são chamados a participar na reflexão do presente e na construção do futuro.

Falou em “expetativas”. Quais considera serem as expetativas dos farmacêuticos para a ANF?

As farmácias querem que a sua associação seja forte, defenda os seus interesses e garanta um ritmo regulamentar propício ao desenvolvimento da sua economia. E, enquanto falamos nesse ritmo, temos de perceber que as farmácias querem segurança. Porque essa segurança é fundamental num contexto económico-social, nacional e mundial, de grande complexidade. Este não é o momento para termos órgãos sociais promotores de divisionismo. Temos de estar unidos, de conseguir garantir que as farmácias têm condições de sustentabilidade económica e capacidade de desenvolver a sua atividade com sucesso. Aquilo que as farmácias querem é que a associação seja capaz de resolver os problemas do seu dia a dia e os dramas que vivem. Nós temos soluções concretas no âmbito dos recursos humanos, porque sabemos que é fundamental atrair e reter farmacêuticos e técnicos.

Sabemos que as farmácias têm graves problemas no acesso a medicamentos. Foi recentemente publicado, pelo Grupo Farmacêutico da União Europeia, um estudo que demonstra que Portugal é dos países em que esta situação mais se agravou nos últimos anos. E as farmácias querem certamente que a sua associação apresente propostas concretas e ajude a resolver este problema. Nós temos soluções para isso. As farmácias querem que exista uma evolução e diferenciação do modelo profissional da farmácia. E que este seja complementado com a implementação de novos serviços, que devem ser fomentados e implementados pela ANF e não por empresas do mercado que só apoiam algumas farmácias e os seus clientes. Tem de ser a ANF a promover a evolução do modelo de serviços, para todas as farmácias, e ajudá-las a contratualizar serviços com as diferentes entidades, no âmbito daquilo que seja a contratualização de serviços por parte das farmácias mediadas pela ANF. É necessário garantir que os serviços são rentáveis e têm margem de contribuição positiva. Isto porque aquilo que as farmácias querem é que se defenda e promova o seu modelo económico. E esse é o nosso grande compromisso.

Houve um reforço da farmácia na agenda mediática, devido à pandemia covid-19 e testagem, bem como agora pela vacinação sazonal. Sente que a imagem das farmácias melhorou, não só junto da sociedade civil, mas também dos parceiros e das entidades de saúde?

Não tenho dúvidas de que melhorou. Fui responsável pela dinamização e contratualização desse tipo serviços, até 2022, pelo que estive envolvido nos programas de testagem à covid-19, por todo o país, e sei como foi importante aquilo que as farmácias fizeram. Foi mérito delas e das suas equipas, tudo aquilo que foi conseguido em resposta às necessidades no contexto da pandemia. As farmácias garantiram a continuidade de cuidados e foram capazes de assumir novas responsabilidades, nomeadamente no âmbito da vacinação, da testagem e da dispensa em proximidade. Isto deve-se ao esforço das farmácias. Aquilo que eu noto é que estamos num momento de grande oportunidade para as farmácias, também pelo que foi feito no contexto pandémico. Demonstrámos ser capazes de assumir novas responsabilidades e temos um SNS que precisa da rede de farmácias mais do que nunca. Adicionalmente, o diretor-executivo do SNS [Fernando Araújo] conhece muito bem a ANF e as farmácias há muitos anos. Temos efetivamente boas oportunidades.

O que cabe à ANF é negociar modelos de operacionalização e negociar condições que promovam, do ponto de vista económico, a sustentabilidade dos serviços. Na última campanha de vacinação, eu identifiquei algumas fragilidades, por responsabilidade da ANF, não por responsabilidade das farmácias. Cabe à associação, primeiro, tentar negociar valores que representem uma margem de contribuição positiva para as farmácias e não encargos. Porque é inquestionável que as farmácias este ano pagaram para vacinar. Aquilo que tem de ser feito pela ANF é demonstrar ao poder político e à opinião pública que as farmácias estão a assumir o compromisso de vacinar as pessoas, numa altura que é particularmente importante. Eu não ouvi a ANF a fazê-lo. Vacinamos nas farmácias a um valor totalmente simbólico. A associação disse que sim e não protegeu os associados, naquela que era a sua dimensão reputacional, e que permitia valorizar o esforço perante o poder político e as pessoas. E a prova disso foi que, quando houve um pico de gripe, toda a comunidade, o poder político, os outros profissionais, as organizações de representantes de outros prestadores de cuidados de saúde, como foi o caso da Associação Nacional de USF, vieram dizer que a culpa era das farmácias. Cabe à ANF garantir que existem condições de defesa política e constitucional das farmácias. Para que não façam aquilo que fizeram, que foi um esforço enorme, com um sacrifício das equipas e um esforço enorme do ponto de vista económico, para ainda ficarem vulneráveis aos olhos do poder político e da opinião pública, quando as coisas não correm bem. Repito que as farmácias este ano pagaram para vacinar.

Falando diretamente para os proprietários de farmácia, porque é que devem votar na sua lista?

Porque o proprietário de farmácia sabe e reconhece que precisa de uma associação forte, eficiente, independente e que esteja coesa. Deve votar nesta lista porque nós promoveremos a união. Não vamos acicatar conflitos e não vamos alimentar jogos de claques. Vamos querer trabalhar com todos, defender todos e respeitar cada um dos associados. Deve votar em nós porque nós temos uma visão concreta de que a associação tem de ser muito mais eficiente. Nós temos de perguntar aos associados que serviço é querem da sua associação. A ANF tem de ser mais leve, mais ágil e representar menos custos para os associados. Acreditamos e defenderemos, junto dos associados, um mecanismo e novas soluções para a reestruturação da dívida da Farminveste, para reduzirmos a dependência da banca. Este é um compromisso que assumimos com grande interesse, porque queremos uma ANF independente. E deve votar em nós porque temos uma equipa credível para conseguir unir os associados e fazer com que a associação dê resposta às expectativas das farmácias, sobretudo naquelas que são as suas grandes preocupações do dia a dia: os recursos humanos, os medicamentos esgotados e a promoção e defesa de um modelo económico mais saudável para as farmácias que preveja a sua sustentabilidade, no presente e no futuro.

Dia 19 de fevereiro não perca o Grande Debate entre os dois candidatos à liderança da Associação Nacional das Farmácia. A partir das 21h00, Duarte Santos e Ema Paulino apresentam os seus projetos, argumentos e visão para o futuro da ANF, num debate moderado por Paulo Silva, diretor da revista FARMÁCIA DISTRIBUIÇÃO. O debate será transmitido em canal fechado, via Zoom. Reserve aqui o seu lugar e não perca a oportunidade de colocar questões aos candidatos. Esta é uma iniciativa da revista FARMÁCIA DISTRIBUIÇÃO e do portal NETFARMA. Reserve o seu lugar clicando aqui.

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