Ébola: 22 milhões vivem em zonas com condições para transmissão animais-pessoas 09 de setembro de 2014 Mais de 22 milhões de pessoas vivem em zonas de África, incluindo Angola e Moçambique, com condições para que o vírus Ébola se transmita de animais para pessoas, segundo um artigo publicado numa revista científica, citado pela “Lusa”. Assinado por duas dezenas de cientistas de várias universidades e instituições do mundo, o artigo, publicado ontem na revista científica “eLife”, conclui que o facto de existir uma vasta zona onde estão reunidas as condições para que haja uma transmissão do vírus de animais para pessoas aumenta o potencial de surtos em seres humanos. Os cientistas demonstraram ainda que a população humana que vive dentro dessa zona de risco «é maior, mais móvel e mais bem conectada internacionalmente do que na altura em que o vírus foi detetado pela primeira vez», em 1976, no Zaire. Angola e Moçambique estão entre os 22 países assinalados na zona de risco, onde, no total, vivem mais de 22 milhões de pessoas. Nenhum dos países referidos, entre os quais está também a populosa Nigéria, registou ainda qualquer caso de transmissão animal-pessoa. São raros os casos (apenas 30 confirmados ao longo das quase quatro décadas de história da doença) em que as pessoas foram contaminadas pelo vírus por terem tocado ou comido animais infetados, como morcegos, chimpanzés ou gorilas. Porém, alertam os cientistas, no dia em que isso se verificar, «a eventualidade de uma contaminação entre a população humana é maior, particularmente nas áreas com infraestruturas de saúde deficitárias». Guiné-Bissau: Ministra da Educação apela à população para deixar de consumir carne de caça A ministra da Educação da Guiné-Bissau, Odete Semedo, apelou ontem à população guineense para deixar de consumir carne de caça como forma de evitar a infeção com o vírus Ébola. Odete Semedo falava aos jornalistas à margem das comemorações do Dia Mundial da Alfabetização que se assinalou ontem e que na Guiné-Bissau está a ser dedicado à prevenção do Ébola. Perante jovens da comunidade do bairro de Antula, arredores de Bissau, a ministra disse que «tem havido resistência» da população aos apelos das autoridades no que toca à suspensão temporária do consumo de carne de animais de caça. «Ainda temos notícias de gente que está a consumir carne de caça, dizendo que há muito que come porco do mato, gazela e nada acontece», afirmou Odete Semedo. Para já, o Governo apenas vai reforçar a sensibilização contra essas práticas, mas no futuro pretende tomar «medidas drásticas», disse Odete Semedo. A ministra da Educação guineense também criticou o comportamento da população que tem vindo a «lançar falsos alarmes» de pessoas infetadas com Ébola supostamente vindas da Guiné-Conacri, país onde a doença já matou mais de 500 pessoas. O Governo disponibilizou dois números de telefone gratuitos para a denúncia de casos suspeitos mas, de acordo com Odete Semedo, algumas pessoas têm estado a ligar para esses números lançando “falsos alarmes” pondo em pânico os agentes de saúde. «É uma brincadeira de mau gosto diante de um problema que está a ceifar vidas», notou a ministra da Educação. OMS: Libéria deve registar «milhares de novos casos nas próximas três semanas» A Libéria, já o país africano mais afetado pela epidemia do vírus Ébola, deverá ver-se a braços com «muitos milhares de novos casos» nas «próximas três semanas», alertou ontem a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em comunicado, a organização internacional refere que «o número de novos casos está a aumentar exponencialmente» na Libéria, onde se registaram já metade das infeções com vírus Ébola e metade das duas mil mortes contabilizadas até agora. Com a previsão, a OMS pretende alertar os parceiros internacionais que estão a tentar ajudar a Libéria para a necessidade de se prepararem para «aumentar os esforços atuais em três ou quatro vezes». Os países mais afetados pelo surto do vírus na África Ocidental (entre os quais estão também Guiné-Conacri e Serra Leoa, e, em menor grau, Nigéria e Senegal) estão entre os mais pobres do mundo, com infraestruturas médicas deficitárias. Antes da chegada do Ébola, a Libéria, por exemplo, tinha um médico para cada cem mil pessoas e agora que 152 peritos sanitários estão infetados com o vírus e 79 já morreram, a percentagem piorou ainda mais. «O número de novos casos está a aumentar muito mais rápido do que a capacidade para os gerir em centros específicos para tratamento», destacou a OMS. «Não há camas livres para tratamento do Ébola em lado nenhum do país», descreve a organização, explicando que, quando os doentes «não têm escolha senão regressarem às suas casas e comunidades», outras pessoas serão «inevitavelmente infetadas». A OMS refere ainda que os táxis estão a transformar-se na principal fonte de transmissão do vírus, pois transportam muitos passageiros e não são desinfetados após cada utilização. União Africana apela para fim da proibição de viajar Os Estados membros da União Africana defenderam ontem que as proibições de viajar impostas para deter a epidemia de Ébola devem ser levantadas para que o impacto económico das restrições não piore a situação do continente africano. «Foi acordado que, como Estados membros africanos, deveríamos instar todos os Estados membros a levantarem todos os obstáculos impostos às deslocações, para que as pessoas possam circular entre países, para que haja trocas e para que estejam abertos a atividades económicas», disse a jornalistas a chefe da comissão da União Africana (UA), Nkosazana Dlamini-Zuma. «Mas foi igualmente sublinhado que apesar de a proibição de viajar poder ser levantada, deverá haver mecanismos de supervisão montados, tanto nos países de onde os cidadãos saem, como nos de entrada, seja em aeroportos ou fronteiras terrestres, ou portos de mar», referiu. Na luta para deter a propagação da doença, alguns países afetados impuseram quarentenas em regiões inteiras, ao passo que outros, que foram até agora poupados ao vírus mortal, cancelaram os voos para os países afetados. Dlamini-Zuma comunicou ao conselho executivo da organização de 54 membros, que se reuniu na capital etíope, Adis Abeba, a urgente necessidade de «articular uma resposta africana unida, abrangente e coletiva» ao surto epidémico. A decisão foi tomada no final de uma reunião de emergência de um dia da União Africana sobre o Ébola, realizada quando se elevam as expectativas quanto a uma potencial vacina que previna temporariamente o contágio. Uma nova vacina testada até agora apenas em macacos forneceu «proteção completa a curto-prazo e parcial a longo prazo» contra o vírus, indicaram investigadores à revista “Nature Medicine”. A responsável da comissão da UA advertiu que, na batalha para deter o alastramento da doença, é necessário «ter cuidado para não introduzir medidas que tenham mais impacto social e económico do que a própria doença». Com as restrições fronteiriças a impedir o comércio, o preço dos alimentos está a aumentar, apontou, fazendo eco do aviso das Nações Unidas relativamente à grave escassez de alimentos nos países mais atingidos pela doença. «Devemos instaurar medidas rígidas para deter a propagação da doença, mas temos também de pôr em prática medidas que permitam que a agricultura se mantenha e se apoie os comerciantes», acrescentou Dlamini-Zuma. Libéria decreta fim de quarentena em Dolo Town O governo da Libéria anunciou ontem o fim do período de quarentena em Dolo Town, por causa da epidemia de Ébola, e atenuou o recolher obrigatório noturno em todo o país. Os 17 mil residentes de Dolo Town, cidade situada a cerca de 75 quilómetros a Oeste de Monróvia, estiveram isolados durante as últimas duas semanas, altura em que se registou um aumento do número de pessoas infetadas. «O governo da Libéria levantou o período de quarentena em Dolo Town, uma decisão que tem efeitos imediatos», anunciou a estação de rádio estatal “ELBC” citando um comunicado oficial. «De acordo com o Executivo, o recolher obrigatório foi reduzido das 23:00 até às 06:00, em vez do que estava em vigor e que se prolongava entre as 21:00 até às 06:00», acrescenta o mesmo documento. Dolo Town foi colocada sob isolamento no dia 20 de agosto, tal como o bairro de West Point, um bairro degradado da capital da Libéria. O isolamento de West Point provocou confrontos entre a população e a polícia, mas em Dolo Town os residentes reagiram de forma pacífica à medida decretada pelas autoridades. O fim do período de quarentena terminou na semana passada, depois de um anúncio governamental com base nas decisões das autoridades médicas do país. «Estamos muito contentes por sabermos que o governo levantou a quarentena. Graças a deus agora podemos ir a Monróvia comprar comida mais barata», disse Prince Paygar, um residente de Dolo Town, à agência “France Press”. Mesmo assim, o levantamento das medidas drásticas acontece na mesma altura em que a Organização Mundial de Saúde avisou a Libéria de que o país deve preparar-se para milhares de novos casos de Ébola durante as próximas semanas. «São previsíveis milhares de novos casos na Libéria durante as próximas três semanas», disse ontem a agência das Nações Unidas através de um comunicado. O país regista pelo menos metade das 2.100 vítimas mortais de Ébola, na região da África Ocidental. |