Ébola: Aldeias inteiras dizimadas e mortos subavaliados na Serra Leoa – MSF 03 de novembro de 2014 Um responsável da investigação operacional dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) Rony Zachariah disse, sexta-feira, que a situação é catastrófica na Serra Leoa, onde o Ébola dizimou aldeias inteiras e causou mais mortes do que o anunciado, noticiou a “Lusa”. «Doentes morreram e comunidades desapareceram e isso não aparece nas estatísticas», declarou Zachariah à agência “France Presse”, à margem de um congresso médico em Barcelona, adiantando que o número oficial de mortos é «muito inferior ao da realidade». A febre hemorrágica Ébola, muito contagiosa, causou desde o início do ano até 27 de outubro pelo menos 4.922 mortos em 13.703 casos registados, na sua quase totalidade em três países: Libéria, Serra Leoa e Guiné-Conacri, segundo o último balanço da Organização Mundial de Saúde (OMS). Rony Zachariah, que esteve nas zonas rurais da Serra Leoa, declarou à “AFP” que «a situação [no país] é catastrófica». «Algumas aldeias foram simplesmente apagadas» do mapa. «Numa aldeia com 40 habitantes, 39 morreram. Um único sobrevivente. Numa outra, os 12 membros de uma família, avós, pais, filhos, morreram todos», adiantou. «Mas nenhum está incluído nas estatísticas», lamentou, assinalando a total saturação dos sistemas de saúde locais com, nalguns casos, «três ambulâncias para 400.000 habitantes» e as dificuldades dos centros de saúde, cujos profissionais são infetados e morrem. Segundo o médico, aqueles países «têm, no máximo, uma enfermeira por cada 10.000 habitantes». «Como é que querem que o sistema funcione quando eles perdem 10, 11 ou 12 enfermeiras», questionou Zachariah. O responsável dos MSF defendeu o envio de mais profissionais de saúde, meios de transporte e logísticos para aqueles países da África Ocidental. Novos casos aumentam nove vezes em regiões rurais da Serra Leoa O vírus Ébola está a espalhar-se nove vezes mais rapidamente em algumas regiões rurais da Serra Leoa, comparando com a situação registada há dois meses, segundo um relatório da organização Africa Governance Initiative (AGI). «Enquanto na Libéria, (o aparecimento) de novos casos parecerem ter abrandado, o Ébola continua a espalhar-se de forma assustadoramente rápida em algumas partes da Serra Leoa», refere o relatório da AGI, citado pela “Lusa”, uma organização apoiada pelo ex-primeiro ministro britânico Tony Blair. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), há dois meses havia cerca de 1.146 pessoas infetadas na Serra Leoa, numero que subiu para 2.304 em setembro e que em novembro já chegava aos 5.338. O relatório da AGI refere que em outubro surgiram, em média, 12 novos casos em algumas zonas rurais próximas de Freetown, o que revela um grande aumento quando comparado com a média registada em setembro, mês em que foram detetados 1.3 casos diários. De acordo com o relatório, estes números mostram que os novos casos nas zonas rurais aumentaram nove vezes. Também na capital da Serra Leoa, Freetown, o número de novos casos aumentou seis vezes nos dois últimos meses, segundo números divulgados pelo ministro da Saúde daquele país. Reino Unido constrói três laboratórios na Serra Leoa O Reino Unido está a construir três novos laboratórios na Serra Leoa para tratar o vírus Ébola na África Ocidental, disse ontem a ministra britânica para a Cooperação Internacional, Justine Greening. O executivo disponibilizou novos fundos, avaliados em 25,5 milhões de euros, para construir e gerir esses centros, nos quais se vão fazer exames de sangue e recolher amostras do vírus em pessoas infetadas. O primeiro laboratório foi inaugurado na semana passada em Kerry Town, ao lado de um centro de tratamento do Ébola, financiado pelo Reino Unido, e duplicou a capacidade do país em fazer despistes da doença. Está prevista a construção dos outros dois centros em Port Loko e em Makeni. Quando os três laboratórios entrarem em funcionamento vai quadruplicar o número de exames diários. Os laboratórios terão resultados dos exames em 24 horas, muito menos do que os cinco dias que são agora necessários. «Erradicar o Ébola na sua origem é a chave para o vencer e evitar que se propague», disse a ministra. Nos próximos dias cerca de 50 voluntários dos serviços de Saúde britânicos, universidades e o Laboratório de Tecnologia do Reino Unido irão formar as equipas que vão gerir os laboratórios. O Governo de Londres comprometeu-se até agora com cerca de 287 milhões de euros para a luta contra o vírus, que desde o início do ano já causou 4.922 mortos e infetou pelo menos 13.703 pessoas, quase todas na Serra Leoa, Libéria, e Guiné-Conacri, segundo o último balanço da Organização Mundial de Saúde. A França recebeu um funcionário das Nações Unidas que trabalhava na Serra Leoa e está infetado com o vírus Ébola, anunciou ontem o ministério da saúde francês. De acordo com um comunicado do ministério, citado pela “Lusa”, o funcionário foi transportado numa ambulância aérea, tendo sido colocado «em isolamento de alta segurança» num hospital militar situado perto de Paris. ONG acusa países de maltratarem «heróis» da luta contra o Ébola Uma organização britânica criticou ontem os governos que colocam em quarentena o pessoal médico que chega aos seus países infetado pelo Ébola e os que recusam vistos aos cidadãos dos países africanos mais atingidos pelo vírus, noticiou a “Lusa”. O diretor-geral da organização “Save the Children”, Justin Forsyth, criticou ontem o facto de países como a Austrália e o Canadá terem decidido fechar as suas fronteiras aos cidadãos de países afetados pela epidemia de febre hemorrágica. Durante uma visita à Serra Leoa, um dos três países africanos com mais problemas, Justin Forsyth criticou também as medidas de quarentena impostas por alguns estados norte-americanos aos profissionais de saúde que lidam com aqueles doentes. «É muito importante que os enfermeiros e os médicos possam viajar facilmente para a Serra Leoa, a Libéria e a Guiné, mas também é importante que possam chegar ao seus países sem a ameaça da quarentena», defendeu o responsável pela organização não-governamental de defesa dos direitos da criança em todo o mundo. A posição de Justin Forsyth surge depois da polémica instalada em Nova Jersey por terem colocado em quarentena uma enfermeira que regressava de Serra Leoa e não tinha sintomas considerados perigosos e de a Califórnia ter instituído, esta semana, a medida de quarentena para todo o pessoal médico que tenha estado em contacto com doentes com Ébola. Já na Austrália e no Canadá, os governos decidiram suspender a emissão de vistos para os nacionais dos países afetados pela epidemia, numa tentativa de ficar longe do vírus. Em declarações à agência de notícias “AFP”, Forsyth considerou estas medidas «completamente anormais», defendendo que deveriam ser «facilitadas as idas e vindas de pessoal médico, porque eles são heróis». |