Ébola: Aprovado uso de tratamentos experimentais – OMS
12 de Agosto de 2014
A comissão de ética da Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovou hoje o uso de tratamentos experimentais no combate à febre hemorrágica Ébola.
«Perante as circunstâncias da epidemia e sob reserva de que determinadas condições sejam cumpridas, a comissão chegou ao consenso de que é ético oferecer tratamentos não homologados, cuja eficácia não é conhecida, nem os seus efeitos secundários, como tratamento potencial ou a título preventivo», explicou a OMS.
A comissão definiu como condições essenciais à utilização destes tratamentos «uma transparência absoluta relativamente aos cuidados, consentimento informado, liberdade de escolha, confidencialidade, respeito das pessoas, preservação da dignidade e implicação das comunidades», citou a “Lusa”.
Os peritos referiram a «obrigação moral de reunir e partilhar os dados sobre a segurança e a eficácia destas intervenções», que devem ser alvo de uma avaliação constante, com o objetivo de uma utilização futura.
Antes mesmo do anúncio da aprovação da OMS, os Estados Unidos prometeram enviar para a Libéria, um dos países mais atingidos pela epidemia, um soro experimental, disponível em quantidades reduzidas, para tratar os médicos liberianos atualmente infetados.
Este soro foi usado, com resultados iniciais positivos em dois médicos de nacionalidade norte-americana, já repatriados para os Estados Unidos.
Na segunda-feira, a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, anunciou que o medicamento experimental ia ser enviado durante esta semana.
A OMS desmentiu hoje ter autorizado o envio deste tratamento para a Libéria, e esclareceu que a utilização de um medicamento novo em determinado país depende de acordos estabelecidos entre as autoridades sanitárias e os laboratórios, não requerendo qualquer autorização da organização mundial.
«A OMS não tem qualquer responsabilidade no envio de tratamento algum para os países (afetados) porque não temos qualquer tratamento de reserva», declarou a porta-voz, Fadela Chaib.
A epidemia de Ébola, que afeta a região da África Ocidental, já fez mais de mil mortos, em 1.848 casos suspeitos, de acordo com o último balanço da Organização Mundial de Saúde, atualizado na noite de segunda-feira.
Foram registados 11 novos casos e seis mortos na Guiné-Conacri, 45 novos casos e 29 mortos na Libéria, e 13 novos casos e 17 óbitos na Serra Leoa, não tendo sido registados novos casos ou vítimas mortais na Nigéria.
Fabricante: Reservas de medicamento experimental esgotadas
As reservas do medicamento experimental para o Ébola administrado a dois americanos e a um padre espanhol, que morreu hoje, estão esgotadas depois de terem sido enviadas amostras para dois países da África Ocidental, afirmou hoje o fabricante.
Países como a Nigéria e a Libéria pediram o medicamento ZMapp e a fabricante, Mapp Biopharmaceutical, afirmou ter aceitado todos os pedidos autorizados pelas autoridades legais e regulatórias. Segundo a ZMapp a droga foi enviada sem custos nenhuns.
«É do nosso entendimento que todos os pacientes a quem se irá oferecer tratamento, tratar ou esperar ser tratado são capazes de dar um consentimento informado para o uso de uma droga experimental, que ainda não foi avaliada pela segurança do uso em pessoas e animais», afirmou a companhia em comunicado.
A Mapp e os seus parceiros, estão a trabalhar com o governo dos EUA para aumentar a produção do medicamento rapidamente, informou a empresa.
Anthony Fauci, diretor do Instituto de Alergia e Doenças Infeciosas dos EUA, afirmou que oferecer uma pequena quantidade de uma droga experimental não irá ajudar a conter a epidemia, considerando que «não se controla uma epidemia com duas ou três doses de um medicamento».
O padre espanhol Miguel Pajares, infetado na Libéria, foi um dos doentes sujeitos ao medicamento mas veio hoje a falecer. Pajares chegou a Madrid na quinta-feira e foi de imediato transportado para o hospital Carlos III, onde veio a morrer hoje.