Ébola: Cansaço das equipas médicas é o principal desafio no terreno – OMS
11 de Agosto de 2014
O cansaço das equipas médicas que estão a tentar combater o vírus Ébola é o principal desafio que as organizações no terreno estão a enfrentar, disse ontem à agência “Lusa” uma porta-voz a Organização Mundial de Saúde (OMS) em Conacri.
«O maior desafio é que os prestadores de cuidados de saúde estão a ficar exaustos. Tem trabalhado durante muito tempo e em condições difíceis», referiu Nyka Alexander, porta-voz do centro de coordenação da OMS para o combate ao Ébola na sub-região (Giné-Conacri, Serra Leoa e Libéria).
Ao contrário do que já aconteceu noutros surtos, «não tem sido um trabalho curto e rápido, tem sido longo e doloroso e as pessoas precisam de ser apoiadas como nunca antes visto numa epidemia», acrescentou.
A OMS declarou na sexta-feira que a situação é uma «emergência internacional de saúde pública» e Nyka Alexander espera que isso signifique «que haja ainda mais países prontos a ajudar».
A epidemia «ainda não começou a abrandar», verificando-se que nalguns locais «estabiliza», mas ao mesmo tempo surgem «mais casos» noutros.
«Ainda há pessoas morrer», realça, sem querer arriscar previsões sobre o evoluir da situação.
Para além da necessidade de reforçar as equipas no terreno, a porta-voz da OMS referiu que são necessários outros recursos e financiamento.
«Há novos centros [de tratamento de Ébola] a ser instalados e os trabalhadores locais tem que ser pagos. Há um esforço enorme a fazer e ainda não chegámos lá», sublinhou.
A aplicação das ajudas deve ter como prioridade «os sítios onde é preciso cortar as cadeias de transmissão» da doença.
Para países que acompanham a epidemia com preocupação, como Portugal, Nyka Alexander sugere que haja uma mobilização «realista» das autoridades e população para tentar fortalecer a frente de ataque na África Ocidental.
«É importante que as pessoas prestem atenção, porque para os que sofrem é determinante saber que não estão esquecidos pelo resto do mundo», referiu.
Por um lado, são bem-vindas «doações a organizações médicas» e «a quem está no terreno», por outro, a porta-voz da OMS pede à população que «encoraje o governo [de cada país] a continuar a suportar o sistema das Nações Unidas, que está a ajudar a responder» ao problema.
«Deve-se ser realista, não preocupar com ameaças que não estão à volta, mas sim com as pessoas que enfrentam a doença diretamente», concluiu.
Centro de tratamento em Conacri curou dois terços dos doentes infetados
O centro de tratamento de Ébola em Conacri conseguiu curar cerca de dois terços dos doentes infetados com o vírus que ali chegaram nas últimas seis semanas, disse à agência “Lusa” o chefe de missão dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Guiné-Conacri.
«Neste centro, desde 27 de maio, 21 pacientes de um total de 31 saíram curados», referiu Jerôme Mouton, que pede a quem fique doente que se dirija aos centros o quanto antes porque quanto mais cedo for diagnosticado um caso de Ébola, mais hipóteses há de sobreviver e de evitar o contágio.
A taxa de cura alcançada «é uma conquista» e constituiu «alguma surpresa», porque a estirpe Zaire do vírus, que está a causar o surto, «é a pior: pode matar até 90% das pessoas afetadas», realçou.
«Não há tratamento para o Ébola, mas é como outras doenças. O corpo luta contra ela e pode ganhar essa luta com um pouco de ajuda», acrescentou ontem o responsável dos MSF.
A receita passa por «tratar os sintomas e prevenir que outras infeções surjam», tais como malária, endémica na região, entre outras doenças.
Com essa proteção acrescida dada ao doente isolado, «mantendo-o hidratado e alimentado» para enfrentar a severidade da febre, vómitos e diarreias, «o sistema imunitário tem capacidade para vencer a luta contra o vírus e a pessoa ficar curada».
Ao mesmo tempo que se trata quem já está infetado, acompanha-se o estado de saúde de todas as pessoas com quem o doente contactou para ser feito um isolamento precoce «no caso de alguém desenvolver os sintomas» de Ébola.
«Foi isso que foi feito aqui na Guiné-Conacri com algum sucesso» e que Jerôme Mouton acredita ser a razão pela qual «a situação está muito melhor que em países vizinhos».
As possibilidades de sobrevivência são confirmadas por Nyka Alexander, porta-voz do centro de coordenação da Organização Mundial de Saúde para o combate ao Ébola na sub-região (Giné-Conacri, Serra Leoa e Libéria).
«O que sabemos é que se alguém tiver Ébola e não for tratado, nove em cada 10 morrem. Mas se for para os centros, dois em cada três vão viver», destacou à agência “Lusa” na sede da OMS em Conacri.
Um cenário que a leva a realçar a necessidade de «espalhar a mensagem junto das comunidades: vizinhos a dizer a vizinhos que se alguém se sentir mal deve ir a um centro de tratamento e assim as chances de sobreviver e proteger amigos e família são altas».
Nas ruas de Conacri e noutras regiões do país onde também já foi detetado Ébola, a vida decorre com normalidade, em contraste com o elevado grau de preocupação no resto do mundo.
Jerôme Mouton considera que a população tem razão em não entrar em pânico.
«Para apanhar esta infeção é preciso estar em contacto direto com alguém que está infetado e sintomático. Pessoas assim não costumam andar pelas ruas. Estão na cama com febre alta e grande fraqueza e mesmo que circulem não trocam fluídos corporais com toda a gente, todo o dia», explicou.
No resto do mundo «há preocupação, porque é uma doença assustadora, mas é preciso explicar que não é nova e sabemos o que fazer», acrescentou Nyka Alexander.
«Temos que cortar as cadeias de transmissão nestes países para ficarmos aliviados e não haver tanta preocupação» no resto do mundo, concluiu.
Familiares e equipas de saúde que tratam pessoas infetadas têm sido as principais vítimas da doença, a par de quem trata dos corpos dos mortos.
Guiné-Conacri encerra fronteiras com Libéria e Serra Leoa
A Guiné-Conacri anunciou no sábado o encerramento das suas fronteiras com a Libéria e com a Serra Leoa, numa tentativa de evitar a propagação do vírus Ébola, que está a afetar os três países da África Ocidental.
«A Guiné decidiu fechar temporariamente as suas fronteiras com as vizinhas Libéria e Serra Leoa», disse o porta-voz do Governo, o ministro Albert Damantang Camara, citado pela agência “France Press”.
Entretanto, mais de 1.500 polícias e militares foram destacados na Serra Leoa para fazer cumprir as medidas de quarentena impostas nas zonas afetadas pela febre hemorrágica, revelou o Governo.
No total, precisou a fonte governamental, 750 pessoas, sobretudo polícias, serão colocadas em Kailahun e Kenema, duas cidades no leste do país que se encontram em estado de emergência sanitária, em vigor desde 1 de agosto.
Os restantes efetivos serão colocados em outras regiões, nomeadamente na capital Freetown, no norte do país.
OMS espera que uma vacina preventiva esteja disponível em 2015
Uma vacina preventiva contra o Ébola deverá passar à fase de ensaios clínicos em setembro e poderá estar disponível em 2015, disse o diretor do Departamento de Vacinas e Imunização da Organização Mundial de Saúde (OMS) à rádio francesa “RFI”.
Segundo o responsável, em setembro devem avançar os ensaios clínico da vacina que está a ser desenvolvida no laboratório britânico GSK, primeiro nos Estados Unidos e depois num país africano, uma vez que é em países do continente Africano que têm surgido casos.
Jean-Marie Okwo Bele disse que «no final do ano» já se pode «obter resultados» e que, se esses testes forem bem sucedidos, poderá ser comercializada a vacina ainda durante o próximo ano.
«Como é uma emergência, podemos colocar em prática procedimentos de emergência (…) para que em 2015 possamos dispor de uma vacina», acrescentou o diretor do Departamento de Vacinas e Imunização da OMS.
De momento, não há tratamento específico no mercado para tratar ou prevenir a febre hemorrágica Ébola causada por um vírus que mata em poucos dias. A taxa de letalidade (relação entre o número de casos e mortes) é superior a 50%.
Várias vacinas estão sendo testadas, enquanto um tratamento promissor, ZMapp, foi o primeiro a ser testado em norte-americanos infetados em África depois de bons resultados em macacos.
Desde fevereiro, o vírus do Ébola infetou mais de 1.700 pessoas, mais de 900 das quais morreram, na Serra Leoa, Guiné-Conacri, Libéria e Nigéria, segundo a OMS.
Hoje foi conhecido que morreu, na última madrugada, a freira congolesa Chantal Pascaline, que trabalhava com o padre espanhol infetado pelo vírus do Ébola num hospital da Libéria.
EUA enviam mais pessoal e recursos para a Nigéria para ajudar combater vírus
As autoridades de saúde dos EUA anunciaram na sexta-feira o envio de mais pessoal e recursos para a Nigéria, que declarou emergência nacional o combate ao vírus ébola.
«Estamos a começar a organizar o nosso staff em Lagos», disse o porta-voz do Centro para o Controlo de Doenças (CDC) dos EUA, Tom Skinner, à agência noticiosa “AFP”.
«Estamos muito preocupados com Lagos e o potencial de contágio, uma vez que Lagos, em bom rigor, a própria Nigéria, nunca viu o ébola», acrescentou.
A Nigéria tornou-se o quarto país da África Ocidental envolvido no maior surto deste vírus, quando um cidadão, com dupla nacionalidade, da Nigéria e dos EUA, que estava infetado, viajou por avião para Lagos no dia 20 de julho, morrendo cinco dias depois.
Oito pessoas que estiveram em contacto com ele foram diagnosticadas com Ébola, duas das quais vieram a morrer.
Os peritos consideram que o Ébola está fora de controlo na África Ocidental, com a OMS, na sexta-feira, a considerar a epidemia uma emergência internacional de saúde e a apelar à ajuda global.
Skinner afirmou que o pessoal do CDC está em todos os países infetados e que já há vários norte-americanos na Nigéria.
«Estamos a ajudar o pessoal em Lagos a montar um centro de operações de emergência similar ao que temos aqui [EUA] e a ajudar a organizar a resposta do país à epidemia», acrescentou.
Presidente da Nigéria declara estado de emergência nacional
O Presidente da Nigéria declarou na sexta-feira o estado de emergência no país devido à propagação da epidemia de Ébola que já provocou dois mortos no seu país, o mais populoso de África.
«O Presidente Goodluck Ebele Jonathan declarou, em Abuja, uma emergência nacional o controlo e contenção do vírus Ébola na Nigéria», referiu em comunicado o seu gabinete.
OMS recomenda à Guiné-Bissau que reforce vigilância das fronteiras
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou na sexta-feira à Guiné-Bissau o reforço da vigilância das fronteiras com a Guiné-Conacri, um país onde já se verificaram 367 mortes provocadas pelo Ébola.
«Neste momento a OMS, em Genebra, ainda não recebeu nenhuma informação relativa a casos registados em Guiné-Bissau», afirmou à “Lusa” Tarik Jasarevic, da organização sedeada em Genebra.
Segundo o responsável, a Guiné-Bissau deve reforçar a vigilância das suas fronteiras, seguindo as indicações anunciadas pela OMS.
«Os países devem manter a vigilância, particularmente os países fronteiriços», disse Tarik Jasarevic, assessor da OMS.
Segundo o responsável, de acordo com as diretivas anunciadas pela OMS, as autoridades dos países fronteiriços das zonas atingidas devem dar particular atenção a «sintomas de febres sem explicação e mortes por causa de uma condição febril».
Além disso, os países devem facilitar o acesso a diagnósticos que despistem novos casos, assegurando que o pessoal médico possa intervir de forma rápida e adequada.
Qualquer país que detete um caso, suspeito ou confirmado, ou um contacto com pessoas que morreram por causa de uma condição febril devem investigar o caso, salienta a OMS.
Segundo a organização, estas diretivas foram dadas no início do ano aos agentes de saúde em Guiné-Bissau para reforçar a vigilância epidemiológica e prevenir novas infeções. Além disso, o Ministério da Saúde deu instruções aos agentes das alfândegas para controlar 11 pontos de entrada no país.
Na Guiné-Conacri, onde o surto surgiu em março deste ano, registaram-se quatro mortes nas últimas 48 horas, uma na Nigéria, 12 na Libéria e outras 12 na Serra Leoa.
Nestes quatro países, os casos de doentes confirmados, prováveis e suspeitos de Ébola somam 1.779, indicou a OMS.
O país mais afetado é agora a Serra Leoa, com 717 casos e 293 mortes, seguido da Libéria, com 554 e 294 mortes, e da Guiné-Conacri, com 495 e 367 vítimas mortais.