Ébola: Centros de saúde vão reforçar formação profissional e criar isolamentos 29 de outubro de 2014 Os médicos de saúde pública alertaram hoje que a resposta de combate ao Ébola a nível local precisa de ser melhorada, com espaços de isolamento de doentes em centros de saúde e formação e treino de profissionais de saúde, revelou a “Lusa”. O alerta foi deixado hoje pela Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), numa conferência de imprensa que visou principalmente mostrar que uma situação epidemiológica é altamente improvável em Portugal e que a as condições de resposta à doença «a nível central estão reunidas». «Pode esperar-se a chegada de casos isolados, orientados para locais de referência com profissionais preparados, mas para passar daqui para a epidemia era preciso passar pela barreira de defesa que são as autoridades de saúde», explicou Mário Durval, dirigente da ANMSP, considerando que este «importante» dispositivo está em montado e bem preparado. No que respeita à resposta a nível local, na qual «os médicos de saúde pública têm um papel central», está a ser «reforçada a preparação» de meios, de equipamentos e de profissionais. «Se houver uma situação epidemiológica é a nível local que se joga o combate. As condições a nível central estão reunidas, mas a nível local é preciso melhorar a rede, é uma das medidas que é necessário aprofundar e melhorar. Localmente, estamos a formar pessoal para criar planos de contingência locais», acrescentou. Fátima Dias, membro da direção da ANMSP, lembrou que, apesar de estar previsto o encaminhamento de todos os casos suspeitos – têm que ter sintomas e ter estado num dos países de risco – para as unidades de referência, é preciso acautelar a eventualidade de alguém menos informado se dirigir a um centro de saúde. Para tal, estas unidades de saúde terão afixado à entrada um cartaz (escrito em três línguas) alertando quem tenha estado num dos países afetados pela epidemia há menos de 21 dias e apresente sintomas para que se dirija a um espaço específico a indicar pela respetiva unidade de saúde. Estes espaços ainda estão a ser preparados nos centros de saúde, tratando-se de uma qualquer divisão o mais próximo da entrada possível, facilmente lavável, com o mínimo de equipamento possível, onde o doente deve permanecer até à chegada do INEM, que o transportará para um dos centros de referência. Quanto à formação, os profissionais já têm alguma formação, que foi obtida antes da gripe A. «Agora vamos proceder à formação em cascata. É formação, formação, treino, treino», salientou. No entanto, os médicos esclareceram que o contágio do Ébola não é fácil, só sendo transmissível através de contacto direto com fluídos, que não incluem o suor nem a saliva, e após o início dos «sintomas específicos», tais como vómitos e diarreias. Mário Durval sublinhou que todas as investigações indicam que o contágio não se efetua durante o período de incubação do vírus (ausência de sintomas), nem tão pouco durante a fase dos «sintomas gerais», que são a febre e o mau estar. Isto dá aos profissionais uma «grande margem de segurança», no sentido de saberem que uma pessoa que apareça num serviço de saúde oriunda de um país de risco e já com febre alta ainda não está contagiosa. Por este mesmo motivo, não está contemplada em Portugal quarentena para pessoas que tenham estado em contacto com um infetado, como aconteceu noutros países. Os profissionais de saúde afirmam que não basta ter contactado com um infetado para colocar alguém em quarentena. Essa pessoa apenas será vigiada que se começar a revelar sinais de febre. Aeroportos não têm planos para o Ébola Os aeroportos nacionais não têm planos de contingência para enfrentar o Ébola. Comissários de bordo, hospedeiras e funcionários estão preocupados com a falta de formação e informação para lidar com casos suspeitos e já pediram mais esclarecimentos por considerarem que esta é uma situação de alto risco. Segundo confirmou o “Sol” junto de fonte da ANA, a empresa que gere os seis aeroportos do país, a Direção-Geral de Saúde (DGS) ainda não deu instruções para que sejam definidos os circuitos que eventuais doentes devem percorrer ou as salas a ser usadas para isolar passageiros com sintomas suspeitos. «Neste momento não temos plano de contingência nem temos nada preparado, porque não recebemos quaisquer instruções nesse sentido da DGS», adianta fonte da empresa, acrescentando que até agora só tiveram indicação para distribuir folhetos informativos aos viajantes de voos diretos dos 15 países africanos classificados de alto risco. Toda esta situação levou os funcionários que dão assistência em escala, o pessoal de limpeza e os operadores de bagagem ou do check in, entre outros, a exigir mais explicações sobre a doença. E, através do sindicato que os representa, até já pediram uma reunião à DGS e ao Instituto Nacional de Aviação Civil. «Estamos preocupados com o Ébola, porque continuamos com mais dúvidas do que certezas», lamenta ao “Sol” Armando Costa, do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação Civil, recordando que a DGS, na sequência de uma reunião, a 9 de setembro com os funcionários do aeroporto de Lisboa, tinha garantido que daria em breve informação mais detalhada. «Deram-nos explicações gerais sobre a doença e as suas formas de contágio e depois prometeram dar-nos folhetos com informação adequada a cada grupo profissional. Mas até agora nada», avisa o dirigente sindical. No aeroporto Sá Carneiro, no Porto, só na semana passada é que os funcionários tiveram uma sessão de esclarecimento da DGS, onde foi visível as muitas dúvidas dos trabalhadores, contou ao “Sol” um funcionário da ANA no Porto. Também o sindicato que representa os inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) se queixa da falta de informação que se agravou depois do alerta feito pelo Colégio de Saúde Pública da Ordem dos Médicos, que num parecer refere existir alto risco de contágio no país e ser necessário dar formação ao pessoal que controla a entrada de passageiros. Perante isto, o pessoal do SEF pediu, entretanto, uma reunião aquele organismo da Ordem dos Médicos. «Estamos na primeira linha de contacto com muitos passageiros que chegam ao aeroporto e isso traz riscos elevados», defende Acácio Pereira, dirigente do Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF, considerando que continuam com dúvidas sobre como podem proteger-se da infeção: «Temos uma proteção mínima, um vidro com um buraco, mas podemos apanhar perdigotos e mexemos em documentos que podem ter sido transportados na boca». Já o pessoal de cabina, da TAP e de outras companhias aéreas, alerta para a necessidade de as autoridades apostarem na deteção de passageiros com sintomas em terra. «Perante casos suspeitos temos de isolar os passageiros. Mas como?», questiona Rui Valle de Carvalho, presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, alertando que é «muito difícil garantir o isolamento» por não existir a bordo um local para esse efeito, a não ser a casa de banho. A mesma opinião têm os pilotos. Segundo Jaime Prieto, presidente do sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, apesar de estes profissionais estarem protegidos no cockpit, consideram que uma «vigilância apertada em terra» pode evitar contágios das tripulações, que segundo orientações das companhias aéreas devem proteger-se com máscaras e luvas. A DGS garante estar a preparar novas medidas para os aeroportos. Ao “Sol” a subdiretora-geral da Saúde Graça Freitas adianta que «há um plano que está a ser revisto e prevê que as respostas sejam acionadas à medida que o cenário da doença se agrava». A responsável admite que vai ser dada mais informação aos trabalhadores aeroportuários, mas desvaloriza o perigo para estes profissionais, considerando que «o risco está no contacto próximo com pessoas com sintomas», e os profissionais de saúde são os trabalhadores mais expostos. |