Ébola: Cruz Vermelha discorda do fecho das fronteiras no combate à epidemia 627

Ébola: Cruz Vermelha discorda do fecho das fronteiras no combate à epidemia

18 de setembro de 2014

A Federação internacional da Cruz Vermelha considera arriscado o fecho das fronteiras na luta contra a epidemia do ébola, referiu ontem à “Lusa” um colaborador da organização.

«A Cruz Vermelha não trabalha com o fecho das fronteiras. Não é a nossa abordagem. A nossa abordagem é manter o diálogo com as pessoas afetadas e com as comunidades vulneráveis, escutar as comunidades e os suas inquietudes e ajudá-las a entender as dinâmicas do surto», disse à “Lusa” o coordenador de saúde em emergência Panu Saaristo.

Interrogado sobre as restrições de viagens implementadas pelos governos apesar da Organização mundial da saúde não proibir as viagens, o coordenador respondeu: «nós vemos um risco já que as pessoas que viajam precisam de sustentar as suas famílias (…) Elas não viajam por turismo. Isso é bastante válido no caso das fronteiras terrestres».

Assim, as pessoas que continuam a viajar em trabalho vão tornar-se mais vulneráveis perante o ébola, porque vão estar fora do sistema de controlo.

Para este responsável, é melhor manter o diálogo e entender os medos dos países e adaptar as medidas de controlo da epidemia.

No caso de ilhas, como São Tomé e príncipe ou Cabo Verde, o coordenador indicou que «em teoria, é mais fácil controlar uma ilha e é mais complicado fechar fronteiras terrestres. Mas o mundo é pequeno e pessoas tornaram-se mais móveis».

Para o coordenador da Cruz Vermelha, a forma mais eficaz de prevenir o ébola é «tomar medidas para formar o pessoal de saúde e voluntários, comunicar as mensagens corretas (…) para que todos estejam preparados (…) se aparecer um caso que viajasse para estes países seria mais fácil de controlar a situação».

A gestão de uma crise epidémica é composta por uma cadeia de elementos interligados em que todos devem funcionar para derrotar a epidemia. Se um elemento do sistema falha, o tempo para conter a epidemia aumenta, assim como o numero de pacientes, sustentou.

O desafio é que «no sistema inteiro todos elementos têm de estar presentes para que possamos ter o controlo da epidemia de forma rápida e efetiva», refere Panu Saaristo

As atividades de prevenção, de monitorização dos contactos dos pacientes e de gestão dos corpos são alguns dos elementos desta cadeia.

Sendo assim, as epidemias não se podem encarar como um terramoto, onde geralmente se atinge um pico e depois se vai melhorando pouco a pouco.

Este tipo de combate envolve um investimento inicial elevado para controlar a situação, mas no caso do ébola a resposta não foi imediata.

«Geralmente, os surtos de ébola costumam ser rápidos, explosivos e curtos. Mas, isso não vai acontecer na África ocidental e não aconteceu. Esperar que o surto acabe não foi uma boa estratégia. Mas não sabíamos isso antes. (…) Agora a situação está a ser encarada de forma mais séria pela comunidade humanitária internacional (…) Estamos a mobilizar mais.», concluiu.

Desde de março, a Federação internacional da Cruz Vermelha trabalha em 13 países, Guiné-Conacri, Libéria, Serra Leoa e Nigéria e em grande escala na Costa do Marfim, Mali, Senegal, Camarões, Benim, Togo, Chade, Republica Centro Africana e Gâmbia.

Espanha ativa protocolo preventivo devido a homem com sintomas da doença

A Espanha ativou o protocolo preventivo para casos de ébola depois da chegada esta madrugada à estação de autocarros “Méndez Álvaro” de Madrid de um homem de 30 anos com sintomas de febre depois de ter estado em África.

Segundo a “Lusa”, um porta-voz dos Serviços de Emergência de Madrid revelou à agência “Efe” que pouco antes da meia-noite os serviços de emergência receberam um aviso da Polícia Nacional que solicitava a sua presença numa esquadra de polícia da estação de autocarros “Méndez Álvaro”, onde foi identificado um passageiro com febre e indisposição.

À sua chegada à estação, os serviços sanitários confirmaram que o homem, não identificado, tinha viajado no último mês para África embora, aparentemente, não tenha estado em nenhum país com casos de ébola conhecidos.

Mesmo assim, os serviços de emergência ativaram o protocolo preventivo para casos suspeitos de ébola e transferiram o indivíduo para instalações hospitalares onde vai realizar testes de despistagem para a doença.

Países africanos esperançosos com ajuda norte-americana

Os países africanos afetados pelo ébola depositam elevadas esperanças na ajuda militar anunciada pelos Estados Unidos, incluindo uma resolução para conter a epidemia, que deve ser analisada hoje pelo Conselho de Segurança da ONU, de acordo com a “Lusa”.

«O anúncio do Governo norte-americano de uma ajuda militar direta constitui um momento significativo na batalha contra o ébola», afirmou a Presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf.

«Esperamos que esta decisão dos Estados Unidos incentive o resto da comunidade internacional a agir. Os nossos parceiros americanos aperceberam-se que a Libéria não pode vencer o ébola sozinha», acrescentou.