Ébola: Curry Cabral com 14 isolamentos a postos e mais 10 para casos improváveis 20 de outubro de 2014 O Hospital Curry Cabral, em Lisboa, tem 14 quartos de isolamento imediatamente disponíveis para receber eventuais casos de doentes infetados por vírus Ébola, mas mais dez poderão ser usados na «improvável» eventualidade de serem necessários. «Temos 14 isolamentos respiratórios de pressão negativa neste sector e se houvesse necessidade – que não é provável, é pura especulação – de mais quartos teríamos noutro sector do serviço disponível mais dez quartos», disse à “Lusa” o diretor do serviço de infeciologia do hospital de referência em Lisboa para os casos de Ébola. Trata-se de um corredor com 14 quartos, cada um deles com uma antecâmara de desinfeção e preparação dos profissionais de saúde, cuja porta de ligação ao quarto só se abre, quando a porta de ligação ao exterior, ao corredor, está fechada. Os quartos têm cama, mesa, televisão e os equipamentos médicos necessários para assistir o doente, que pode levar consigo peças, como telemóvel, computador ou outros objetos pessoais. «Os profissionais de saúde é que não podem levar nada para dentro do quarto, nem trazer nada lá de dentro», para evitar qualquer risco de contaminação, explicou Fernando Maltez. No contacto com o doente, ou suspeito de ter a doença, os profissionais estão protegidos por um fato de isolamento, semelhante a um escafandro, que após a utilização é imediatamente destruído. Trata-se de equipamentos de proteção individual «para agentes biológicos de grau de infecciosidade de nível 4», no qual se encaixa o vírus Ébola: um fato integral de cor amarela, descartável, impermeável, com capuz incorporado, uma capa azul clara que se coloca por cima do fato, óculos, viseira, touca, dois ou três pares de luvas e botas com perneiras que chegam ao joelho. «É o equipamento que tem que se usar no contacto direto com doentes e que depois de utilizado é para descartar», sublinhou, especificando que este fato não dispõe de nenhum sistema de respiração interno, apenas uma máscara permeável, que é eficaz para este tipo de doença. Quanto ao número de fatos disponíveis, Fernando Maltez disse serem os necessários para atuar de acordo com o número de doentes que ocorrerem, não sendo para já previsível que haja qualquer falta de fatos. «Penso que há uma probabilidade de virmos a ter casos importados», uma «probabilidade real» e que «é tanto maior quanto mais prolongada for a duração da epidemia e quanto maior for a duração da epidemia não controlada» na Guiné-Conacri, na Libéria e na Serra Leoa. Já sobre a possibilidade de haver uma disseminação epidémica em Portugal de casos de Ébola, o médico considera-a «muito pouco provável». «Hoje a probabilidade de chegarem casos importados e depois haver o risco de transmissão, o risco é maior para os profissionais de saúde, como aconteceu um pouco por toda a Europa e também nos Estados Unidos, onde não há epidemias, há casos importados que originaram casos secundários», explicou. Fernando Maltez salvaguardou que o maior risco de contágio a um profissional de saúde está no momento de despir o fato, que, apesar de obedecer a uma série de procedimentos de segurança já estabelecidos, é sempre complicado, pois qualquer contacto inadvertido com a pele pode ser fatal. «Mas a realidade de hoje pode modificar-se e daqui por uma ou duas semanas estarmos confrontados com uma epidemia de grandes dimensões naqueles países, podemos inclusive estar confrontados com uma disseminação da epidemia a países de língua oficial portuguesa, onde aí naturalmente as conexões com o nosso país são maiores, onde a probabilidade de chegarem casos é maior e, portanto, o panorama em termos epidemiológicos pode modificar-se e fazer-se uma previsão diferente», disse. Quanto ao «percurso» que deve ser seguido por um eventual doente é simples e, se for seguido corretamente, não tem motivos para falhar ou provocar o contágio de terceiros. «Qualquer doente que venha de um país onde está presente a epidemia e que chegue ao nosso país com sintomas, ou que desenvolva esses sintomas no espaço de 21 dias após ter regressado, ou tenha tido contacto com algum doente que tenha estado infetado e tenha morrido, ou não, por via de doença por vírus de Ébola deve contactar a linha saúde pública [Saúde 24]». Se os sintomas descritos por telefone configurarem um caso suspeito ou provável, é imediatamente validado pela Direção-Geral da Saúde que enviará uma equipa médica que transportará o paciente para o hospital de referência, onde será encaminhado para um dos isolamentos. A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) avisou os bombeiros de que não devem transportar casos suspeitos de Ébola, mas sim contactar o INEM ou a linha de Saúde 24. Esta semana, a Liga dos Bombeiros Portugueses tinha manifestado dúvidas sobre o papel destes profissionais no âmbito da prevenção do vírus do Ébola em Portugal. Num comunicado datado de sexta-feira e divulgado no site da Autoridade, citado pela “Lusa”, são definidos os «procedimentos a adotar pelos bombeiros», bem como se recordam os critérios para considerar um caso suspeito. Perante um caso suspeito, a Proteção Civil dá indicações aos bombeiros para não transportarem o doente. Deve ser contactada a linha Saúde 24 (808 24 24 24) ou o INEM, sendo depois a situação reportada ao Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS). Na quarta-feira, a Liga dos Bombeiros tinha pedido uma reunião «urgente» à Autoridade de Proteção Civil para clarificar o papel dos bombeiros no combate ao Ébola. A propósito da mobilização de meios, o diretor-geral da Saúde, Francisco George, disse no parlamento esta semana que foi decidido que a proteção civil não deve ser mobilizada para um risco que é por enquanto considerado baixo. No gabinete de crise criado esta semana, dirigido pela Direção-Geral da Saúde, não constam elementos da Autoridade Nacional da Proteção Civil. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o vírus do Ébola já causou mais de 4.500 mortos em cerca de 9.000 casos concentrados sobretudo na Libéria, Serra Leoa, Guiné-Conacri e Nigéria. Portugal ainda não teve qualquer caso confirmado, apenas cinco casos suspeitos que se revelaram negativos. Portugal deverá montar base de retaguarda no Hospital Militar de Bissau Portugal deverá montar uma base de retaguarda para prevenção e combate ao vírus Ébola no Hospital Militar de Bissau, anunciou sábado a ministra da Saúde da Guiné-Bissau, Valentina Mendes. «Portugal vai criar uma base no Hospital Militar: lá é que vão ser instalados os equipamentos e o pessoal que vem [para Bissau]», explicou a governante. Valentina Mendes falava após encontros mantidos na sexta-feira e sábado com o diretor-geral de Saúde de Portugal, Francisco George, e Paulo Campos, presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) português, que se encontram na capital guineense. A base portuguesa deverá complementar um centro de tratamento e isolamento para casos de Ébola que o governo de Bissau quer implantar no Hospital Simão Mendes, principal hospital público do país, mas também um dos mais degradados. De acordo com Valentina Mendes, o executivo vai redigir uma carta-pedido endereçada ao Governo português, detalhando a cooperação desejada e entretanto esboçada com Francisco George e Paulo Campos. No documento «estará todo o pacote», referiu a ministra, desde equipamentos em falta, necessidades de treino e outros recursos, como por exemplo, um laboratório. A carta será entregue em mão pela própria governante ao Governo português durante uma deslocação que vai efetuar a Portugal, ao lado do primeiro-ministro guineense, Domingos Simões Pereira, antes do final do mês. A governante espera que em novembro seja possível receber as primeiras equipas médicas portuguesas em Bissau. Apesar de se chamar Hospital Militar, 98% dos casos tratados são de civis, mediante o pagamento de uma taxa moderadora de cerca de três euros. Construído em 2011 através da cooperação chinesa na Guiné-Bissau, a unidade tem das melhores instalações e serviços do país, ainda assim, extremamente carentes: conta apenas com dois especialistas, um cirurgião e um obstetra, o que limita a utilização de equipamentos de diagnóstico. Tendo em conta o contexto, e consoante evoluir a ameaça do Ébola, as equipas médicas portuguesas poderão envolver-se na promoção de outros cuidados de saúde, admitiram os participantes. Francisco George e Paulo Campos visitaram o Hospital Militar sábado de manhã. Para o presidente do INEM, há um interesse particular em unir a função hospitalar à tutela militar, dada a necessidade de proteger instalações que lidem com o vírus Ébola – que já foram atacadas noutros países afetados pela epidemia. Por outro lado, «é uma estrutura organizada» e «talvez o melhor polo de saúde na Guiné-Bissau». No entanto, «não vamos colocar a tónica só neste hospital. Este pode ser um pilar importante, mas temos que explorar todos os pilares da cooperação na área da saúde», disse. Augusto Mendes, diretor clínico da unidade, disse à “Lusa” que o mais urgente é «treinar os técnicos e pessoal médico, não só na parte teórica, mas também sobre a maneira de usar os kits de proteção» contra o Ébola. Apesar de os dois países com que faz fronteira já terem sido afetados pelo vírus Ébola, a Guiné-Bissau continua livre da ameaça mortal. A norte, no Senegal, já foi verificado um caso importado, entretanto curado, e a sul, na Guiné-Conacri (onde a epidemia eclodiu), o Ébola continua a matar. Desde meados de agosto que a Guiné-Bissau fechou as fronteiras com Conacri, apesar das queixas de comerciantes e da população fronteiriça, para prevenir a entrada de pessoas infetadas – apesar de haver relatos de travessias em zonas não vigiadas pelas autoridades. |