Ébola: DGS lamenta quebra dos protocolos e lança plano de comunicação 507

Ébola: DGS lamenta quebra dos protocolos e lança plano de comunicação

14 de outubro de 2014

O caso da doente que no domingo foi para o Hospital de S. João (Porto) pelos seus próprios meios por suspeita de infeção pelo vírus de Ébola, depois de passar primeiro por uma unidade de saúde privada, demonstrou que os protocolos definidos pela Direção-Geral da Saúde (DGS) para evitar ao máximo uma eventual disseminação da doença foram completamente ignorados. Este foi o quinto caso suspeito em Portugal.

De acordo com o “Público”, o Conselho Nacional de Saúde Pública foi convocado para uma reunião de emergência agendada para amanhã onde, segundo a DGS, será anunciado o «plano nacional de comunicação». O objetivo é garantir toda a informação disponível à população para que os cidadãos possam tomar «opções corretas».
 
O diretor-geral da Saúde lamentou que os protocolos e as medidas de precaução estabelecidas não tivessem sido cumpridos «nem pela unidade de saúde privada, nem pela doente» e sublinhou que, em caso de suspeita,  os cidadãos têm de ter consciência de que não se devem deslocar para o hospital nas suas viaturas e muito menos em transportes públicos.
 
Depois de se ter concluído que a doente afinal não tinha Ébola,  Francisco George desdobrou-se em declarações aos órgãos de comunicação social e pediu às pessoas para colaborarem, ligando primeiro para a linha Saúde 24 (808242424), sempre que tenham alguma suspeita, em vez de irem diretamente para as unidades de saúde, como aconteceu neste caso, até porque o transporte nestas situações deve ser feito por uma das três ambulâncias do INEM especificamente preparadas para o efeito. A mulher, com cerca de 40 anos e que passara por um dos países africanos de risco, foi internada no Hospital de S. João às primeiras horas da noite de domingo.

Em comunicado, o hospital admitiu, então, que tinha um paciente suspeito internado e especificou que estava «clinicamente estável». Mas logo ao início da manhã de ontem percebeu-se que tudo não passara de um alarme falso, quando as análises às amostras enviadas para o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (Insa), em Lisboa, se revelaram negativas.
 
Este foi já o quinto caso suspeito de Ébola que fez soar campainhas de alarme em Portugal. O Insa já tinha despistado o vírus em três doentes que, em agosto, setembro e no início deste mês, passaram pelo Hospital Curry Cabral (em Lisboa) e num outro caso que não chegou a necessitar de tratamento hospitalar. Todos deram negativo (três tinham malária e um sofria de febre tifóide).  Além do S. João e do Curry Cabral, o D. Estefânia (em Lisboa) está destacado para eventuais internamentos pediátricos na capital.
 
A diferença, desta vez, é que o hospital do Porto admitiu, em comunicado, que tinha um caso suspeito internado antes de saber os resultados das análises. Fará sentido divulgar este tipo de informação, antes de se ter a confirmação da doença que está a assustar o mundo?  O presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, Henrique Barros, entende que o S. João tenha procedido desta forma, porque «havia informação a circular nas redes sociais», mas lembra que «a amplificação de sinais de alerta» pode ter um efeito perverso,  podendo, «no futuro, levar ao desinteresse, descuido e não preparação para uma situação de facto». Por isso, recomenda o médico e investigador, as unidades de saúde devem estar, por sistema, «num silêncio o mais monástico possível e não entrar no ruído».

Sobre o plano de contingência definido pela DGS  para evitar a disseminação e casos de Ébola em Portugal, Henrique Barros faz questão de acentuar que este «não se pode ficar pelos hospitais», como tem sucedido até à data. «Tem que se centrar nas pessoas e nas estruturas de saúde em geral, porque a tendência natural dos doentes é recorrerem à proximidade», lembra.
 
Em resposta às críticas de Francisco George, Artur Osório, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP),  diz que estas unidades de saúde «só receberam a informação genérica que está no site da DGS e um cartaz com sintomas para afixar». «Nós é que já tomámos algumas medidas», diz Artur Osório, que garante que os profissionais de saúde sabem que, em caso de suspeita, devem isolar imediatamente o doente e pedir ao INEM o seu transporte.
 
Assegurando que a doente  internada no S. João não passou por nenhum dos maiores hospitais privados do Grande Porto, mas poderá ter ido «a uma pequena clínica», Artur Osório espera que amanhã, na reunião do Conselho Nacional de Saúde Pública – que integra membros dos setores público, privado e social, bem como especialistas, e tem funções consultivas do Governo no âmbito da prevenção e controlo de doenças transmissíveis – sejam também avançadas «diretrizes sobre a forma de treinar os profissionais de saúde». Por enquanto, assegura, as unidades de saúde (e só associadas da APHP são uma centena) estão a seguir as normas da DGS.
 
São considerados casos suspeitos  doentes que tenham estado nos últimos 21 dias num país de risco, onde há surtos de Ébola (Guiné-Conacri, Serra Leoa, Libéria e Nigéria), ou quem esteve em contacto com pessoas infetadas e tenha um aparecimento súbito de febre superior a 38 graus.

Saúde tem orçamento para combate e pode pedir mais às Finanças se precisar

As unidades de saúde públicas têm, para já, orçamento para as ações de combate ao Ébola, mas se aumentar o nível de vigilância e ação o Ministério da Saúde poderá solicitar mais dinheiro às Finanças, segundo fonte oficial.

Fonte do gabinete do ministro da Saúde disse à agência “Lusa” que, atualmente, «os hospitais e outras instituições têm cabimento para as despesas que o combate ao Ébola implica».

«Sendo necessário, por (causa de um eventual) aumento do nível de vigilância e ação, a Saúde poderá recorrer, como acontece nestes casos, à dotação provisional do Ministério das Finanças», adiantou a mesma fonte, revelando que tal já aconteceu no passado.

Só o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), a quem caberá o transporte de suspeitos ou doentes com o vírus, investiu 200 mil euros na aquisição de material de proteção contra a infeção.

Também os hospitais, principalmente os de referência para os doentes com Ébola, têm procedido à aquisição de material, como equipamentos de proteção individual.

Até ao momento, foram identificados cinco casos suspeitos de Ébola em Portugal, tendo as análises realizadas no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) descartado a hipótese de infeção por este vírus.

Diretora-geral OMS: Surto é «a maior emergência» e mostra mundo mal preparado

O atual surto de Ébola é «a mais grave emergência dos tempos modernos» e mostra que o mundo está mal preparado para responder a uma emergência sanitária crítica, afirmou ontem a diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS).

«O mundo está mal preparado para responder a qualquer emergência sanitária sustentada e severa», disse Margaret Chan num discurso lido por um representante da OMS numa reunião de responsáveis de saúde do Pacífico Ocidental em Manila e distribuído à imprensa em Genebra.

Margaret Chan frisou, no discurso citado pela “Lusa”, que esta constatação não se refere apenas ao surto de Ébola na África ocidental, mas a qualquer outra emergência da mesma magnitude.

O atual surto, considerou, é a maior emergência sanitária da nossa era.

«Na minha longa carreira na saúde pública, que incluiu lidar com os surtos de H5N1 e SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em Hong Kong e com a pandemia de gripe na OMS, nunca vi um assunto que atraia tanto interesse mediático mundial. Nunca vi um problema de saúde que provoque tanto medo e terror fora dos países afetados. Nunca vi uma doença contagiosa que contribua tão fortemente para o potencial fracasso de um Estado», afirmou a diretora-geral da OMS.

A reunião de 18 de setembro do Conselho de Segurança da ONU para avaliar a situação demonstra, considerou, tratar-se de «uma crise de saúde pública que se transformou numa crise que afeta a paz e a segurança internacional».

Margaret Chan realçou que a evolução do surto foi parcialmente determinada pelo facto de ter surgido em países pobres com sistemas de saúde muito precários.

«O surto demonstra os perigos das crescentes desigualdades sociais e económicas no mundo. Os ricos obtêm o melhor tratamento. Os pobres são deixados morrer», disse.

A inexistência de tratamentos ou vacinas para um vírus conhecido desde 1976 deve-se, afirmou, ao facto de «o Ébola ter sido histórica e geograficamente confinado a nações africanas pobres».
 

Empresas fabricantes de materiais de proteção contra vírus valorizam-se

As ações em bolsa de duas empresas norte-americanas, fabricantes de material usado na proteção contra o vírus Ébola, subiram ontem depois de confirmado o contágio da enfermeira que tratou um paciente infetado em Dallas., avançou a “Lusa”.

As ações da empresa Alfa Pro Tech, que se dedica ao fabrico de luvas, máscaras e outros dispositivos de proteção subiu 10,78%, para 8,23 dólares (6,49 euros), enquanto a Lakeland Industries, especializada em combinações NRBQ (Nuclear, Radiológica, Bacteriológica e Química) e outros materiais de proteção, subiu 9,93%, para 21,58 dólares (17,02 euros), depois de atingir os 24,25 dólares (19,13 euros), o seu maior valor.

A Lakeland Industries anunciou no domingo que os seus materiais para a luta contra a propagação do vírus Ébola estavam disponíveis em todo o mundo, afirmando que o Departamento de Estado norte-americano encomendou 160.000 desses conjuntos e acrescentou que vai aumentar a produção, introduzindo melhorias no seu fabrico.

Hollande e Obama pedem esforços internacionais para conter epidemia

Os presidentes dos Estados Unidos e da França decidiram ontem pedir esforços internacionais para conter a epidemia de Ébola que assola três países da África Ocidental, de acordo com a “Lusa”.

François Hollande e Barack Obama, que falavam ao telefone, sublinharam a necessidade de «uma mobilização da comunidade internacional e da União Europeia, em estreita colaboração com as Nações Unidas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e os países afetados».

A epidemia já matou 4.000 pessoas este ano na Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa, os países mais afetados pela doença.