Ébola: Epidemia avança mais rápido que a mobilização de esforços para travá-la – OMS 563

Ébola: Epidemia avança mais rápido que a mobilização de esforços para travá-la – OMS

04 de agosto de 2014

A diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, afirmou, na sexta-feira, que a epidemia de Ébola na África Ocidental «avança mais rápido» que a mobilização dos esforços para travá-la, podendo trazer consequências «catastróficas».

«Os atuais efetivos de socorro nacional e internacional são tristemente inadequados», declarou, depois de uma reunião regional sobre o surto de Ébola, em Conacri, referindo que o encontro «deve marcar uma transformação na luta contra a epidemia».

«Se a situação continuar a deteriorar-se, as consequências podem ser catastróficas em termos de perda de vidas, assim como pode haver perturbações socioeconómicas e um alto risco de propagação para outros países», salientou Margaret Chan, que descreveu o surto como sendo, «de longe, o maior de sempre na história de quatro décadas desta doença».

«Está a tomar áreas com movimento populacional fluido em fronteiras mais maleáveis e mostrou uma capacidade de espalhar-se através de viagens aéreas, ao contrário do que se tinha visto em outros surtos», acrescentou, salientando que os casos estão a acontecer não só em áreas rurais de difícil acesso, mas também em capitais densamente povoadas.

«Os governos podem precisar de usar as forças policiais e de defesa civil para garantir a segurança das equipas de resposta. Alguns já o estão a fazer», disse.

A OMS e os líderes dos países da África Ocidental mais afetados pelo surto de Ébola reuniram-se, em Conacri, para organizar, pela primeira vez, uma resposta conjunta à crise.

O objetivo do plano de emergência, entre a OMS, Guiné-Conacri, Serra Leoa, Libéria é prevenir e detetar casos suspeitos, aperfeiçoar a vigilância nas fronteiras e reforçar o centro de coordenação sub-regional de epidemias da organização da ONU na Guiné-Conacri, bem como coordenar o envio de «várias centenas» de trabalhadores humanitários para o terreno.

Depois de lançar um plano de resposta para conter a propagação do vírus Ébola, Margaret Chan anunciou que convocou um comité de emergência da OMS na próxima quarta-feira para avaliar as implicações internacionais deste surto na África Ocidental, apontou a “Lusa”.

Este surto de febre hemorrágica causou, após sete meses, 729 mortos – 339 na Guiné Conacri, 233 na Serra Leoa, 156 na Libéria e um na Nigéria -, indica o último balanço da OMS.

Destas 729 mortes registadas pela OMS, 485 são casos confirmados de Ébola.

A OMS anunciou um apoio financeiro de 75 milhões de euros ao plano e Margaret Chan justificou «este aumento dos recursos» pela «amplitude» do surto.

A epidemia, surgida no início do ano, foi declarada primeiro na Guiné-Conacri, antes de se estender à Libéria e depois à Serra Leoa.

O vírus do Ébola transmite-se por contacto direto com o sangue, líquidos ou tecidos de pessoas ou animais infetados.

Risco de transmissão do vírus nos aviões é reduzido

A OMS considera reduzido o risco de transmissão do vírus do Ébola nos aviões e aconselha a não-restrição de viagens áreas, embora alguns países tenham reforçado medidas de segurança aeroportuária por temer contaminação nestes transportes.

Recentemente, as autoridades de aviação da Nigéria, um dos quatro países atingidos pela febre hemorrágica causada pelo vírus Ébola, à semelhança da Libéria, Guiné-Conacri, e Serra Leoa, iniciaram o controlo dos passageiros provenientes dos países africanos.

Igualmente, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) exortou aos cidadãos norte-americanos a evitarem «viagens não essenciais» para aqueles países africanos, enquanto a Austrália instruiu funcionários alfandegários para dar assistência a eventuais doentes que passem pelos aeroportos australianos.

Num artigo publicado na sua página, a OMS garante que «não há nenhuma razão para parar o transporte aéreo» devido ao surto do Ébola, porque a doença é transmitida através do contato direto com sangue, fluídos corporais ou tecidos.

Apesar das crenças, acrescenta aquela agência das Nações Unidas, o risco de contaminação é baixo porque «os aviões não são placas de Petri», o recipiente cilíndrico, achatado, de vidro ou plástico que os profissionais de laboratórios utilizam para a cultura de micróbios.

A OMS considera que, dentro de um avião, as pessoas não contraem doenças como acontece numa sala de cinema, porque «o ar das aeronaves é muito mais fresco do que se pode pensar e está constantemente limpo por meio de filtros de alta qualidade».

«Em condições normais as cabines dos aviões são mais limpas do que o ar da maioria dos edifícios», assegura a OMS.

Num artigo publicado na revista especializada em aviação, a “Cockpit Confidential”, um piloto britânico Patrick Smith, afirmou que «os filtros de partículas de ar de alta qualidade, instalados nos aviões comerciais produzidos na década de 1980, removem até 99,97% de todos os micróbios e há uma mudança total do ar a cada dois ou três minutos».

Segundo Patrick Smith, o maior risco de se contaminar ocorre quando se está o avião ainda está pousado na pista, quando os motores não estão a funciona e o ar tão fresco não está ser puxado para dentro dos filtros.

É por isso que a OMS recomenda companhias aéreas a garantirem a ventilação adequada na cabine quando os voos levam 30 minutos ou mais para aterrar, escreve o piloto.

Serra Leoa, Libéria e Guiné-Conacri isolam epicentro da epidemia do vírus

Os três países da África Ocidental que se confrontam com o vírus Ébola decidiram isolar o epicentro da epidemia, situado na sua fronteira comum, disse um dirigente depois de uma cimeira regional na Guiné-Conacri.

Serra Leoa, Libéria e Guiné-Conacri decidiram «concentrar-se nas regiões fronteiriças, que representam mais de 70% da epidemia», declarou a secretária executiva da União do Rio Mano, Hadja Saran Daraba, que junta os três países e a Costa do Marfim.

«Estas zonas vão ser isoladas pela polícia e o exército», disse à comunicação social.

Entretanto, o Presidente da República do Congo, Denis Sassou-Nguesso, solicitou na sexta-feira, em Washington, a ajuda da comunidade internacional na luta contra esta epidemia que, disse, supera a capacidade de resposta de África.

«A comunidade internacional deve ajudar-nos. Isto supera-nos», disse Sassou-Nguesso, durante uma intervenção no Clube Nacional de Imprensa, referindo-se à epidemia que já causou a morte a mais de 700 pessoas na África Ocidental.

Também em Washington, virólogos norte-americanos disseram que esperam testar em setembro uma vacina experimental contra o Ébola.

«Terminámos as experiências com animais de uma vacina experimental e vamos começar em setembro um estudo com humanos», disse à “AFP” o diretor do Instituto Nacional Americano de Doenças Infeciosas, Anthony Fauci.

Governo: Portugueses nos países afetados devem recorrer à emergência consular

O Governo advertiu ontem que os portugueses que se encontrem nos países afetados pelo vírus do ébola devem contactar o gabinete de emergência consular, em caso de «problema grave», e podem recorrer a embaixadas de países da União Europeia.

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, afirmou à agência “Lusa” que os portugueses que residem na Serra Leoa, Guiné-Conacri e Libéria – países afetados por uma epidemia de ébola que já fez mais de 700 mortos -, em caso de «problema grave, que justifique uma emergência, devem contactar o gabinete de emergência consular», através dos números de telefone 707202000 ou 961706472 ou pelo endereço eletrónico gab.emergencia@mne.pt.

«É aquilo que se deve fazer em qualquer ponto do mundo, esse gabinete tem um atendimento permanente», disse o governante.

Uma vez que nestes países Portugal não possui representação diplomática, os cidadãos nacionais podem contactar a embaixada em Dacar, capital do Senegal, ou dirigir-se a uma embaixada de países da União Europeia nas zonas onde residem.

Em caso de doença, «qualquer pessoa que ali esteja nessas circunstâncias, tem em primeiro lugar de recorrer aos serviços médicos locais», disse, acrescentando: «Se for uma situação extrema, terá de ser avaliada», mas excluindo a possibilidade de o Executivo providenciar a retirada do cidadão do local.

«Isso nunca acontece, até porque há transportes aéreos», afirmou, acrescentando que a saída do país depende da situação de saúde: «Há pessoas que podem voar e outras que não», referiu.

Questionado sobre a comunidade portuguesa naqueles países, José Cesário referiu que há «umas escassíssimas dezenas de portugueses, como residentes permanentes», mas afirmou desconhecer em concreto o número de cidadãos que vivem nestes Estados da África Ocidental, até porque em alguns casos, «as pessoas vão trabalhar para lá e não se registam em lado nenhum».

O secretário de Estado referiu que desde abril «o Governo recomenda que os portugueses não vão para aquela zona, por causa do ébola».