Ébola: Famílias escondem doentes para evitar discriminação social
25 de Agosto de 2014
A Organização Mundial da Saúde (OMS) denunciou na sexta-feira que famílias na Libéria e Serra Leoa, países seriamente afetados pelo Ébola, estão a esconder doentes para evitar discriminação social, o que concorre para a subestimação do número de infetados.
Em nota divulgada na página da Internet, em que questiona «por que a eclosão do Ébola está a ser subestimada», a agência da ONU refere que a magnitude do surto, especialmente na Libéria e Serra Leoa, estão a ser avaliada por baixo por inúmeras razões: muitas famílias escondem os familiares infetados em suas casas.
«Como o Ébola não tem cura, alguns acreditam que será mais confortável para familiares infetados morrerem em casa», enquanto «outros rejeitam a ideia de que tem um paciente com Ébola e acreditam que o cuidado numa enfermaria isolada – visto como uma incubadora da doença – vai levar à infeção e morte certa», afirmou a OMS.
Mas, de acordo com aquela organização, há «um maior medo do estigma e rejeição social» da parte dos pacientes e familiares quando se confirma um diagnóstico do Ébola no seio familiar.
«Estes são surtos de movimento rápido, que criam desafios para os muitos parceiros internacionais que prestam apoio», refere a agência, que denunciou ainda que «nas aldeias, os cadáveres são enterrados sem se notificar as autoridades de saúde e sem qualquer investigação da causa da morte».
Segundo a OMS, «muitos centros de tratamento e clínicas gerais foram fechados» naqueles dois países, em parte, porque os pacientes estão com medo de se deslocar às unidades sanitárias, de onde «as equipas médicas estão a fugir».
Por outro lado, em alguns casos, os epidemiologistas têm viajado para as aldeias e contam o número de sepulturas recentes como sendo um indicador de casos suspeitos do Ébola, considera a agência.
De acordo com as Nações Unidas, os centros de saúde da Libéria estão a viver um fenómeno nunca antes visto desde o surgimento do surto daquela febre hemorrágica: «assim que uma nova instalação de tratamento é aberta é imediatamente preenchida com pacientes, muitos dos quais os que não tinham sido previamente identificados».
«Este fenómeno sugere fortemente a existência de uma carga de trabalho invisível de pacientes que não estão a ser detetados pelo sistema de vigilância. Por exemplo, em Monróvia, capital da Libéria, um centro de tratamento de Ébola com 20 camas que abriu na semana passada foi imediatamente sobrecarregado com mais de 70 pacientes», afirmou a OMS, citada pela “Lusa”.
OMS admite que travar o surto «não será fácil»
O diretor adjunto da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a segurança sanitária, Keiji Fukuda, admitiu na sexta-feira que «não será fácil» parar a epidemia de Ébola, estimando que a tarefa durará «vários meses de trabalho feroz».
«O ritmo e a amplitude da aceleração do Ébola são algo nunca visto. É uma situação sem precedentes», disse Keiji Fukuda durante uma conferência de imprensa com o coordenador da ONU para o surto de Ébola, David Nabarro, realizada nas instalações da Missão das Nações Unidas na Libéria (Minul), na capital do país, Monrovia.
O responsável da OMS reconheceu ter sido surpreendido pela propagação do vírus.
«Nunca tínhamos visto um surto de Ébola que atingisse as cidades e as zonas rurais tão rapidamente e com uma tão grande amplitude geográfica», acrescentou.
«A situação não vai ser invertida do dia para a noite, isto não vai ser fácil. Esperam-nos muitos meses de trabalho feroz, muitos meses para nos debatermos com a epidemia», preveniu o responsável da OMS.
A OMS divulgou nesse mesmo dia, em Genebra, um balanço do número de mortos por Ébola até 20 de agosto – 1.427. Destes, 624 morreram na Libéria, 406 na Guiné-Conacri, 392 na Serra Leoa e cinco na Nigéria.
Segundo o mesmo balanço, o total de casos – confirmados, prováveis ou suspeitos – desde aquela data cifra-se em 2.615.
«O principal objetivo da nossa vinda à Libéria é verificar a epidemia de Ébola através dos olhos das pessoas, das entidades de saúde, dos serviços governamentais da Libéria, com vista a fazermos um balanço dos problemas que enfrentam na luta contra a doença assim como os desafios», disse David Nabarro.
Chegado na quinta-feira a Monrovia, David Nabarro está a visitar, juntamente com Keiji Fukuda, países afetados pela epidemia. Freetown, Conacri e Abuja serão outros locais que visitarão.
OMS vai reforçar luta contra doença com mais 500 camas
A Organização Mundial de Saúde (OMS) vai reforçar a luta contra o vírus do ébola com a disponibilização de 500 camas suplementares em Monrovia, capital da Libéria, o país africano mais afetado pela epidemia.
Em comunicado emitido após a visita de responsáveis da organização à capital liberiana, a OMS declarou que, em cooperação com a Organização das Nações Unidas (ONU) e com o Governo da Libéria, será «intensificada a resposta ao vírus do ébola, injetando novos recursos».
A OMS sublinhou, contudo, que o número de camas «é insuficiente» face ao crescente número de pacientes, porque a epidemia desestabilizou o sistema de saúde e criou tensões no seio da sociedade.
«É por isso que a OMS se empenhou em intensificar o seu trabalho com os seus parceiros, para construir centros de cuidados adicionais, aumentando o número de camas nas próximas seis semanas», disse Keiji Fukuda, da OMS.
Dois internados em Espanha não têm vírus ébola
Os dois homens internados em isolamento em Zaragoza e Barcelona, Espanha, não estão infetados com o vírus ébola, segundo as análises feitas no Instituto de Saúde Carlos III, em Madrid, revelaram fontes do ministério da Saúde à agência “EFE”.
No hospital Royo Villanova de Zaragoza está um guineense, de 38 anos, com malária, enquanto no Hospital Clínic de Barcelona continua internado um diplomata senegalês, de 36 anos.
Costa do Marfim encerra fronteiras com a Guiné-Conacri e a Libéria
A Costa do Marfim decidiu encerrar as fronteiras com a Guiné-Conacri e a Libéria, países afetados por uma epidemia de febre hemorrágica provocada pelo vírus Ébola que já fez mais de 1.427 mortos na África Ocidental.
A decisão «excepcional», em vigor desde sexta-feira, insere-se «num quadro restrito de medidas preventivas para proteger as populações, incluindo estrangeiros, que vivem no território costa-marfinense», indicou um comunicado do primeiro-ministro Daniel Kaban Duncan, citado no sábado pela agência francesa “AFP”.
Na sexta-feira, o secretário-geral do sindicato dos serviços de saúde da Libéria, George Williams, anunciou que todas as regiões do país já foram atingidas pela epidemia, após a confirmação dos primeiros casos mortais na região sudeste, perto da fronteira com a Costa do Marfim.
A 11 de agosto, a Costa do Marfim decidiu suspender todos os voos de e para os países atingidos pela epidemia. Na terça-feira, Abidjan proibiu a realização de competições desportivas internacionais no país.
Presidente cabo-verdiano diz que população deve confiar na medida do Governo
O Presidente de Cabo Verde disse no sábado que a população deve confiar na medida tomada pelo Governo de interditar a entrada no país de cidadãos provenientes dos quatro países africanos afetados pelo vírus do Ébola.
Jorge Carlos Fonseca, que se encontrava na ilha cabo-verdiana do Maio para uma visita privada, disse à “Rádio de Cabo Verde” (RCV), citado pela “Inforpress”, que o Governo de José Maria Neves tem as suas razões, e que todos devem seguir a par e passo o assunto, para que o país possa estar bem informado e esclarecido.
Segundo o chefe de Estado cabo-verdiano, que já manteve encontros com o primeiro-ministro, José Maria Neves, e a ministra da Saúde, Cristina Fontes Lima, as medidas de prevenção tomadas pelas autoridades do país «são as exigidas e mais adequadas» e apela a todos para a confiança nas mesmas.
«Vou continuar em articulação permanente com o Governo sobre esta matéria para inteirar das medidas que vão sendo tomadas em cada momento da avaliação», indicou Jorge Carlos Fonseca.
Na terça-feira, o primeiro-ministro cabo-verdiano anunciou a interdição por um período de três meses da entrada em Cabo Verde de cidadãos estrangeiros provenientes dos países afetados pelo surto de Ébola na África ocidental e suspendeu deslocações oficiais de responsáveis cabo-verdianos a esses países.
Cabo Verde ainda não registou qualquer caso de Ébola, vírus que já matou mais de 1.300 pessoas na Nigéria, Serra Leoa, Guiné Conacri e Libéria.
ONU e OMS prometem meios sem precedentes contra epidemia «excepcional»
As Nações Unidas e a Organização Mundial de Saúde prometeram, este sábado, meios «sem precedentes» na Libéria para fazer face à propagação devastadora do vírus.
A Costa do Marfim anunciou o encerramento das fronteiras terrestres com dois dos três países afetados – a Libéria e a Guiné-Conacri –, uma medida em vigor desde sexta-feira para «proteger as populações, incluindo estrangeiros, que vivem no território costa-marfinense».
«Esta epidemia excecional exige uma mobilização sem precedentes a todos os níveis», afirmou o coordenador da ONU para o surto de Ébola, David Nabarro, em visita aos países afetados com o diretor adjunto da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a segurança sanitária, Keiji Fukuda.
David Nabarro garantiu que a nova coordenação estabelecida permitirá «garantir que os recursos adequados são canalizados para as áreas que mais necessitam deles».
Para já, Keiji Fukuda – que afirmou na sexta-feira que seis a nove meses é uma estimativa razoável para erradicar o surto de Ébola – indicou que a OMS e os seus parceiros vão construir centros de cuidados suplementares em Monróvia, capital da Libéria, aumentando o número de camas para até 500 camas nas próximas seis semanas.
A organização Médicos Sem Fronteiras, que dispõe de um centro com 120 em Monróvia, no hospital ELWA, também já tinha indicado, em declarações à “AFP” na passada quinta-feira, a sua intenção de elevar a capacidade para até 400 camas nos próximos dez dias.