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Ébola: Médica francesa infetada pelo vírus na Libéria é repatriada

19 de setembrode 2014

Uma voluntária francesa dos Médicos Sem Fronteiras, contaminada na Libéria pelo vírus do Ébola, foi repatriada na noite de quinta-feira para o aeroporto militar de Villacoublay, perto de Paris, avança a “Lusa”, de acordo com informações divulgadas pela “AFP”.

Uma ambulância dos bombeiros deixou a base militar pelas 01:45 (00:45 em Lisboa).

A paciente deve ser admitida num hospital de Saint-Mandé, perto da capital, especialmente equipado com «duas câmaras de pressão negativa», usadas para evitar a fuga de vírus para o exterior.

A mulher, que contraiu a doença em Monróvia, onde estava em missão, representa o primeiro caso de contaminação conhecido entre os franceses que se encontram nos países africanos afetados.

A sua identidade e função não foram reveladas pelos Médicos Sem Fronteiras, uma organização sem fins lucrativos que luta contra uma epidemia que já matou mais de 2.460 pessoas num ano, a maioria da Libéria, Guiné-Conacri e Serra Leoa, de acordo com os mais recentes números da Organização Mundial de Saúde.

Novo balanço da OMS dá conta de 2.630 mortos em 5.357 casos

A febre hemorrágica Ébola fez 2.630 mortos em 5.357 casos registados na África ocidental, segundo o mais recente balanço da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado ontem e citado pela “Lusa”.

A epidemia, a mais grave desde a identificação do vírus, em 1976, iniciou-se na Guiné-Conacri no princípio deste ano. Desde então, fez 1.459 mortos em 2.720 casos na Libéria, de acordo com o balanço feito a 14 de setembro.

Também desse dia datam os balanços da Guiné-Conacri, onde se registaram 601 mortes em 942 casos, e da Serra Leoa, com 562 mortos de entre 1.673 casos.

Os profissionais de Saúde foram particularmente atingidos, com 151 mortos.

Um foco distinto da doença está também a propagar-se numa região remota do noroeste da República Democrática do Congo (RDC), de uma estirpe diferente daquela que atinge a África ocidental.

Já matou 40 pessoas em 71 casos desde que surgiu, a 11 de agosto, segundo um balanço datado de 15 de setembro e ontem divulgado pela OMS.

Dois outros países africanos registaram igualmente casos da doença: a Nigéria, com oito mortos em 21 casos, de acordo com um balanço de 14 de setembro, e o Senegal, com um caso diagnosticado, de um estudante da Guiné-Conacri cuja cura as autoridades senegalesas anunciaram a 10 de setembro.

A doença, também designada como febre hemorrágica do vírus Ébola, tem uma taxa de mortalidade de quase 90 por cento.

A infeção ocorre por contacto direto com os fluidos corporais, sangue, líquidos biológicos ou secreções. O período de incubação oscila entre os dois e os 21 dias. O doente torna-se contagioso a partir do momento em que os sintomas se manifestam – apenas não o é durante o período de incubação.

Segundo a OMS, é possível dizer que não há mais transmissão de Ébola num país «42 dias depois de o último caso ser registado».

ONU cria missão de emergência para combater a epidemia

As Nações Unidas anunciaram ontem a criação de uma missão de emergência para combater o Ébola com a função de coordenar todos os esforços internacionais para lutar contra a epidemia da doença em África, revela a “Lusa”.

O anúncio foi feito pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, durante a reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas convocada especialmente para analisar a epidemia do Ébola na África Ocidental.

«Decidi estabelecer uma missão de saúde de emergência das Nações Unidas, combinando a perspetiva estratégica da Organização Mundial de Saúde com uma capacidade de logística e operativa muito firme», afirmou.

A Missão das Nações Unidas para a Resposta de Emergência contra o Ébola (UNMEER, em inglês) vai enviar equipas avançadas para os países afetados antes do final deste mês, sublinhou o secretário-geral da ONU.

Esta missão terá cinco prioridades: travar a epidemia, assistir os infetados, garantir a prestação de serviços básicos, preservar a estabilidade sanitária e prevenir futuras epidemias.

«Esta situação sem precedentes requer medidas sem precedentes para salvaguardar a paz e a segurança», afirmou Ban Ki-moon, no discurso realizado no início da sessão no Conselho de Segurança.

Este órgão da ONU, que tem a maior capacidade de decisão e que se reúne fundamentalmente para analisar as principais ameaças para a segurança mundial, só foi convocado anteriormente duas vezes para analisar um tema de saúde.

Ban Ki-moon disse que as duas ocasiões anteriores foram para analisar a epidemia da Sida e, como agora com o Ébola, examinar as «implicações para a segurança de um tema de saúde pública».
«A crise do Ébola evolui para uma emergência complexa, com importantes dimensões políticas, sociais, económicas, humanitárias e de segurança», disse.

Sobre a epidemia do Ébola, declarou que «é a maior já vista no mundo».
«O número de casos duplica a cada três semanas. Somente na Libéria, agora há mais casos do que em quatro décadas de história da doença», referiu.

O responsável descreveu as ações que os vários países anunciaram para cooperar na luta contra a epidemia.

«Nenhum governo pode gerir esta crise por si só. A ONU também não o pode fazer sozinha», assegurou Ban Ki-moon.

ONU reforça operações nos países afetados com 16,8 milhões de euros

O Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou ontem que irá reforçar as suas operações na Guiné-Conacri, na Libéria e na Serra Leoa, os três países mais afetados pelo surto de Ébola, graças a contribuições de 16,8 milhões de euros.

«As contribuições do Banco Mundial e Fundo internacional para a Agricultura e o Desenvolvimento (IFAD) destinam-se a apoiar a assistência alimentar nos países afetados pela epidemia de Ébola», referiu aquela agência das Nações Unidas num comunicado, citado pela “Lusa”.

Numa altura em que a comunidade humanitária internacional está a ser muito solicitada, esta contribuição irá reforçar as operações do PAM nas regiões afetadas pela pior epidemia de Ébola registada até à data, indica o documento.

Com esta contribuição, o PAM irá ajudar um milhão de pessoas na Guiné-Conacri, na Libéria e na Serra Leoa. Até ao momento, a organização assistiu 147.000 pessoas nestes três países.

«Não podemos atender as necessidades de saúde destas comunidades sem encarar os problemas cada vez maiores da fome e da segurança alimentar (…) Acolhemos este apoio critico, o PAM irá ajudar a atender as necessidades alimentares urgentes das famílias e das comunidades afetadas (…) sem comida nem agua não se pode combater a epidemia de forma efetiva», disse, em Roma, o diretor-executivo do PAM, Ertharin Cousin.

Aquela agência da ONU irá receber 14,44 milhões de euros do Banco Mundial que serão distribuídos entre as operações na Guiné-Conacri (5,48 milhões de euros) Serra Leoa (4,64 milhões de euros) e Libéria (4,32 milhões de euros. Esta doação faz parte de um programa de assistência de 105 milhões de euros aprovados pelo Banco Mundial na terça-feira.

A promessa de 2,32 milhões de euros do IFAD anunciada na quarta-feira irá permitir ao PAM preservar a segurança alimentar nas comunidades locais dentro de todos os países afetados pelo Ébola.

O PAM é a maior agência humanitária internacional, cujo objetivo é a luta contra a fome, distribuindo comida em zonas em situações de emergência. Em 2013, assistiu mas de 80 milhões de pessoas em 75 países.

Equipa de sensibilização do governo é morta em vila na Guiné-Conacri

Sete responsáveis locais e jornalistas guineenses, desaparecidos terça-feira durante uma campanha de sensibilização sobre o vírus Ébola no sul da Guiné-Conacri, foram mortos por habitantes da vila de Womé, anunciou ontem o Governo.

Segundo a agência francesa “AFP” citada pela “Lusa”, os sete corpos foram encontrados naquela vila, que fica próxima de N´Zérékoré, a segunda maior cidade da Guiné, numa região de floresta, declarou à rádio o ministro da Comunicação guineense, Alhoussein Kaké Makanéra.

A maior parte dos habitantes de Womé fugiu da vila.

Os cadáveres, que estavam numa fossa séptica de uma escola primária, são «dos membros da delegação governamental que estavam a fazer uma campanha de sensibilização junto das populações sobre como se comportar neste período de riscos com a epidemia do Ébola», disse à agência francesa “AFP” o porta-voz do Governo, Albert Damantang Camara.
«É realmente triste e é duro de acreditar, mas foram mortos friamente pelos aldeões de Womé», acrescentou o porta-voz, assegurando que o Governo fará «tudo ao seu alcance para travar e levar os responsáveis diante das autoridades judiciais competentes».

Camara lamentou «as vítimas inocentes», assassinadas com machetes e tiros, indicando ainda que entre os mortos estão responsáveis da área da saúde locais e jornalistas de rádio.

Os aldeãos, que atacaram e mataram os integrantes da delegação governamental, suspeitaram que a equipa de sensibilização vinha matá-los, isso porque, segundo eles, o Ébola «não é mais que uma invenção dos brancos para matar os negros», explicou o tenente tinha Richard Haba, da polícia local.

Nos confrontos de terça-feira, 21 pessoas ficaram feridas.

No dia posterior, o Governo enviou uma outra delegação, chefiada pelo ministro da Saúde, para tentar acalmar a situação na vila.

O governante de N´zérékoré denunciou ontem numa rádio local que «pessoas na sombra manipulam as populações sob o pretexto de que o Ébola não passa de uma invenção dos brancos».

O primeiro-ministro Mohamed Said Fofana condenou «com a mais firme energia o assassínio de cidadãos guineenses, que representavam o Estado no exercício das suas funções» referindo que «sete corpos foram descobertos, num total de nove desaparecidos».

Seis pessoas foram detidas pelas autoridades policiais.