Ébola: Não é o momento de baixar a guarda, alertam autoridades e ONG 31 de outubro de 2014 As autoridades de saúde e as organizações não-governamentais que lutam contra o Ébola na África Ocidental apelaram na quinta-feira a que não se reduza a mobilização internacional contra a epidemia, ainda que o número de casos registados na Libéria esteja a abrandar, noticiou a “Lusa”. O Banco Mundial prometeu 100 milhões de dólares (79 milhões de euros) suplementares para acelerar o destacamento de milhares de profissionais de saúde estrangeiros que são necessários nos países africanos afetados, durante uma visita do presidente a Acra, a capital do Gana, sede da missão das Nações Unidas para coordenar a luta contra o Ébola. «Devemos ser muito, muito prudentes com esta epidemia que tem mostrado aumentos acentuados de número de casos, já que ainda não somos capazes de interpretar bem esta descida, mesmo que seja uma boa notícia», afirmou Jim Yong Kim, presidente do Banco Mundial. O vírus propaga-se por «vagas», sublinhou o vice-ministro liberiano da Saúde, Tolbert Nyensuah, estimando que a descida do número de novos casos em Monróvia só será sustentável se se confirmar «em toda a região», com uma diminuição semelhante nas vizinhas Serra Leoa e na Guiné-Conacri. França experimenta testes de diagnóstico rápido na Guiné Conacri A França vai experimentar testes de diagnóstico rápido de Ébola na Guiné Conacri, em particular um que permite uma resposta em menos de 15 minutos, anunciou ontem o coordenador da luta contra o vírus na França, Jean-François Delfraissy. Numa conferência de imprensa no Ministério da Saúde francês, citada pela “Lusa”, Delfraissy assinalou que os testes darão uma resposta «num quarto de hora», bastante menos tempo do que os realizados atualmente em laboratório, com práticas convencionais, em que o resultado não é obtido em menos «de seis horas». Estes testes serão ensaiados em novembro pelas equipas de Médicos sem Fronteiras, no novo centro de cuidados de Macenta, na região da floresta de Guiné Conacri, acrescentou o responsável. O novo centro de cuidados de Macenta, no sudeste do país, gerido pela Cruz Vermelha francesa, deverá começar a funcionar com 50 camas, «provavelmente no fim de novembro». A este centro sucederão outros três, mais pequenos, em outros lugares de Guiné Conacri, antes do final do ano. Jean-François Delfraissy confirmou também a abertura, em dezembro, de um centro específico, próximo da capital, Conacri, gerido pelo Exército francês, para o pessoal guineense que presta cuidados afetado pelo vírus. Um estudo sobre os guineenses que sobreviveram ao vírus deve ser implementado em paralelo «com bastante rapidez», disse Bernadette Murgue, vice-diretora adjunta do Instituto de Microbiologia e Doenças Infecciosas. O Ébola, febre hemorrágica viral, altamente contagiosa, fez 4.922 mortos, pelo menos, em 13.073 casos registados de contágio até segunda-feira (último balanço da Organização Mundial de Saúde), na quase totalidade de três países de África oeste: a Libéria, a Serra Leoa e a Guiné Conacri. A França empenha os seus esforços na luta contra o Ébola na Guiné Conacri, enquanto os dos Estados Unidos concentram-se na Libéria e os da Grã-Bretanha na Serra Leoa. Fatores genéticos determinarão reação do organismo ao vírus Fatores genéticos serão determinantes na reação do organismo dos infetados com o vírus do Ébola, alguns não têm qualquer sintoma, enquanto outros morrem, indica um estudo norte-americano realizado em ratos. Estas reações diferentes são observadas nos humanos, dado que a taxa de sobrevivência é de cerca de 30 por cento na epidemia atual, assinalam os investigadores cujos trabalhos foram divulgados ontem na revista “Science” e citados pela “Lusa”. Enquanto alguns resistem completamente à infeção, outros têm sintomas que podem ser relativamente ligeiros ou graves, como hemorragias internas e falência dos órgãos levando à morte. Estudos anteriores sobre populações afetadas pelo Ébola já mostraram que as diferentes reações não estão relacionadas com qualquer alteração particular do vírus, mas com o modo como o organismo reage contra a infeção. Estes cientistas infetaram ratos com a mesma estirpe do vírus Ébola responsável pela epidemia que já causou perto de 5.000 mortos desde o início do ano, a esmagadora maioria na Libéria, na Serra Leoa e na Guiné-Conacri. «Os diferentes sintomas e reações clínicas ao Ébola no grupo de ratos são até agora semelhantes na sua variedade e proporção aos observados nesta epidemia», disse Michael Katze, do departamento de microbiologia da Universidade de Washington em Seattle (noroeste), um dos principais autores da investigação. «Os nossos dados indicam que os fatores genéticos desempenham um papel importante na evolução da infeção», adiantou. O estudo mostra que todos os ratos infetados com Ébola perderam peso nos primeiros dias e que 19 por cento dos animais não tiveram qualquer outro sintoma. Um outro grupo, representando 11 por cento dos ratos, mostrou-se parcialmente resistente e menos de metade morreu. No total, a mortalidade ultrapassou os 50 por cento nos 70 por cento dos ratos que ficaram doentes. Em geral, quando a infeção ativa genes que promovem a inflamação dos vasos sanguíneos e a destruição das células, os sintomas são graves, constataram os virologistas. Os ratos que sobreviveram tendiam a mostrar mais atividade nos genes responsáveis pela reparação dos vasos sanguíneos e pela produção das células brancas do sistema imunitário que combate a infeção. Segundo os investigadores, os resultados deste estudo devem permitir encontrar marcadores genéticos da infeção nos humanos e avaliar a eficácia dos diferentes antivirais contra a estirpe do Ébola responsável pela atual epidemia na África ocidental. |